top of page
  • Instagram
  • Facebook
  • Twitter
  • YouTube

Torta Capixaba

  • Foto do escritor: Pivete
    Pivete
  • 20 de abr.
  • 2 min de leitura


Aquela rapidinha. Uma sequência de cenas que bate forte — sol na cara, barulho de gente, cheiro de comida no ar. Entrei num Uber: cruzadas epistemológicas, relatos sobre a falta de habilidade do capixaba em dirigir. Sem GPS na cabeça, fome na barriga, o corpo indo, os olhos abertos. Era dia. E o dia tava cheio.


Viela estreita, cada canto ocupado, carro em tudo quanto é lado. A Grande São Pedro tava viva. Periferia em movimento. A rua virou feira, virou festa. O povo todo na missão da torta capixaba.

Não era qualquer prato. Era forma de alumínio, pesada, bonita, com história. Os preços variavam: sessenta, cem, cento e oitenta conto. “Em 2018, a maior era cinquenta”, disse um cara que puxou papo comigo no bar, entre uma cerveja e outra. Ele riu e balançou a cabeça, como quem sente saudade até do preço.



Fugi da muvuca, fui me enfiando por onde dava. E aí, no meio do caminho, achei o quintal do Teteu. Atravessei sua ponte, vi a estrutura sendo sustentada por barris amontoados, recheados de cimento. Torta por cinquenta, vista pro mar, sombra boa. Era outro ritmo. Cervejinha barata. Peguei minha forma, sentei no canto e comi olhando a cidade se mostrar: do lado, o mangue; na frente, o mar; mais pra lá, as montanhas verdes; acima de tudo, a favela — olhando tudo de cima, como quem protege.



Tinha samba tocando. Ovo gigante, labirintos, barcos escorados, garças pescando, jovens nadando, jetskis cortando as águas. Riso solto. Sol estalando no meio da testa. Vitória, naquele instante, parecia um mundo inteiro condensado em umas poucas ruas.

No meio disso tudo, conheci um senhor. Família espalhada pela Baixada, cria da terra do imperador — Penha. Funcionário público aposentado, falou da sua história. Tava ali fazia 48 anos. Disse que no início achava o capixaba fechado. Mas depois entendeu: era só colar no povo. Chegar com respeito. Ouvir antes de falar. O povo abre. E aí tudo muda. Quando ele falou isso, sorriu de canto. E eu entendi.



São Pedro, Ilha das Caieiras, Vitória. Um lugar que não precisa se exibir. Quem olha de verdade, vê. Tem cultura, tem memória, tem cozinha acesa e panela fervendo. Não é vitrine. É quintal. E eu gosto é disso. De andar devagar, de sentir o cheiro, de trocar ideia com quem vive ali de verdade. De ser invasor ético — chegar, escutar, aprender.



Vitória me atravessa. Principalmente por esse pedaço aqui. Onde tudo se mistura — maré, mangue, morro, memória, música. E torta capixaba, claro. Que é só um prato pra quem não sabe, mas pra quem sente, é portal.

Comments

Rated 0 out of 5 stars.
No ratings yet

Add a rating
logo.png
  • Branca Ícone Instagram
  • Branco Facebook Ícone
  • Branco Twitter Ícone
  • Branca ícone do YouTube

Todos os Direitos Reservados | Revista Menó | ISSN 2764-5649 

bottom of page