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Sábado passado teve o Sarau Donana. Era o primeiro do ano. Mas, além disso, o espaço trouxe uma surpresa: a inauguração de uma sala de cinema! E não foi timidamente — o espaço se encheu bem cedo. As cadeiras logo foram ocupadas por várias pessoas animadas com aquele momento. Num cômodo bonito e refrigerado, rolou a projeção de uma sessão de filmes baixadenses. E tinha pipoca!


E era tudo de graça! Uma entrega de cultura pra população. Um delivery. A sessão foi plural: teve documentário, aventura, terror. A Baixada Fluminense é grande demais pra se ater a um gênero só. São vários. Várias pessoas pensando cinema.


E agora a gente tem também um espaço pra exibir todas essas produções — e todas as outras que virão.



Como é que faz pra exibir?


Primeiro: tem que ir lá. Esse texto é sobre o primeiro sarau do ano, mas todo último sábado do mês tem. Então você chega, fica à vontade, e troca uma ideia com as pessoas. No Donana, tem sempre muita gente conversando. Se reparar, parece que todo mundo se conhece.

E todo mundo se conhece. Mesmo quem você ainda não conhece.



Ao final da sessão, as equipes subiram diante da plateia pra responder dúvidas e comentar os processos. Este sempre é um quintal de reunião. De encontros. E também de grandes marcos. Inaugurar uma sala de cinema numa cidade que não possui nenhum cinema.


E o Heraldo HB estava lá. Disse que ficou na dúvida de onde iria, pois naquela mesma noite também inaugurava uma sala de cinema em Caxias. Haveria exibição lá também. E ele disse que isso era um sintoma.


Admirei — e entendi — o uso da palavra.


A suspeita é que os baixadenses estão dominando a prática de pensar, produzir, lançar e exibir.

Vai vendo…



E não era ali que a noite terminava. Ao final da sessão, começou o sarau! E aí, novamente, vimos que em Belford Roxo tem vários artistas muito competentes, querendo manter vivas as possibilidades das palavras. A possibilidade dos encontros. E se soar repetitivo, permita-se visitar e entender: essas não são situações comuns de se encontrar.



É como visitar a casa de um parente querido. E ele te tocar belas músicas, falar belas poesias.


Repito: não é comum encontrar tanto acolhimento. E especialmente: pra todos os tipos de arte.


Ao final, a estrutura e a personalidade expansiva de Caxtrinho — à meia-luz (por pedido dele mesmo) — jogando em casa, como gosta de estar. Sua música já viaja além-mar, mas aqui, nesse quintal, ainda tem espaço pra conquistar mais uma fã. O fã-clube do homem não para.


Ele fala, fala, distrai o público e depois bota todo mundo pra viajar usando um violão.




E ao final imediato do show, a nova fã levanta da primeira fila e pede, entusiasmada, pra tirar uma foto!!!

Acho que ela também foi contaminada. Já demonstrou os primeiros sintomas.


Atualizado: há 19 horas




O Soul Pixta foi elaborar uma festa no CCBB, e eu pude ter a honra de prestigiar isso nos dias 27 e 30 de novembro de 2024.


Porém, não seria de minha índole começar o “Acorda Pedrinho” assim, devo dar uma visão antes sobre o meu vínculo com a roda cultural. 

Se eu não estiver errado, um dos primeiros locais onde fiz pocket show na época de MC foi lá, e isso tem bastante tempo. Fui um cara que era fã de ir em eventos de rua todo dia, tinha energia de sobra; melhor dizendo, tinha fome de conhecer novos horizontes, e frequentar o Soul Pixta foi um divisor de águas da minha vida, sem dúvidas. Apesar de terem feito uma edição de aniversário na pista de skate do Cocotá, em agosto do ano passado, o coletivo realizou um evento como uma extensão dele. O pessoal tinha ganhado um edital de 2022 para fazer um programação dentro do Centro Cultural do Banco do Brasil.


De coração mesmo, duvido que eu teria a mesma visão de mundo se não tivesse contato com o Hip-hop. Era antes uma pessoa e me tornei outra após o acesso à arte.

Vale lembrar que é justamente essa questão que norteou a iniciativa do coletivo dentro do Centro Cultural Banco do Brasil, uma vez que não é vista com bons olhos na maioria dos cantos da cidade.


O pessoal viu que poderia ter uma chance e resolveu apostar as fichas no mês da consciência e diáspora negra, quando rolaram diversas exposições sobre essa temática.

Foto: Barbara Melo
Foto: Barbara Melo

Foram quatro dias dedicados aos elementos conhecidos mundialmente, um elemento por dia. No primeiro, aconteceu uma roda de conversa com figuras emblemáticas dentro do movimento. Camila Cattoi, quem puxa a Roda Cultural Canta Teresa; Xandy MC, um mano que está dentro do circuito desde o início, e que é fundador da  Roda do Pac’stão;  Negra Rê, uma das relíquias das batalhas e referência sobre o que é ser mc, além de puxar a Roda Cultural do Arará e da Lapa Diversa, e também um dos nomes divulgados do projeto #EstudeoFunk.

E pra fechar esse time, compunha nessa roda o MC Marechal, que promoveu a Batalha do Conhecimento e é fundador do selo VVAR.

Foto: Barbara Melo
Foto: Barbara Melo

A mediação ficou por conta de Sandro Lemos, um dos braços fortes do Soul, garantindo que fossem respondidas todas as perguntas sobre os desafios nesses locais que procuram o resgate da juventude. Não realizei nenhuma pergunta porque não faltaram questões relevantes para o debate. Recomendo um vídeo que a Korre Company fez desse momento, que ficou muito bom.




Lembrei de uma fala da Negra Rê nesse momento a qual ela diz sobre a música, a arte no geral, educa a juventude periférica e faz esses trabalhos de resgate e oferecimento de alternativa à “vida fácil” — que não tem nada de fácil em decidir em pôr a mão na peça e botar pra rajar contra a polícia e os oponentes nesse mercado varejista de substâncias.
Foto: Barbara Melo
Foto: Barbara Melo

Reparo que as respostas que consigo dos entrevistados seguiam essa linha de pensamento, coisa que também era perceptível nas que obtive do pessoal de sábado.

Durante a minha busca de entrevistas, consegui ter a honra de ter alguns minutos com a querida Edd Wheeler, lenda viva do rap carioca. Ela simplesmente abriu a mata não só para as mulheres no meio, principalmente, como colocou o RJ no mapa através da coletânea “Tiro Inicial” (1993) com o grupo “As Damas do Rap”. Quando falou comigo, também deu um depoimento que entra em sintonia com os outros que foram concedidos, parecendo que foram combinadas as respostas. Por mais que pareça óbvio que responder a minha pergunta levasse a mesma conclusão, o que percebi não foi isso. O que entendi foi o fato do Hip-Hop trabalhar de forma quase etérea, pois a rua é o canal de transmissão dos agentes que nele vivem. Então, quem vive ele vai dizer a mesma coisa que a Edd Wheeler me disse no final, que o Hip-hop salva vidas.     


No dia 30, uma noite repleta de apresentações me aguardava: uma batalha com 16 mc’s, tendo direito a presença da Lili, diretamente de São Paulo. Quem ficou de frente na condução dela foi a querida Lis MC, joia rara e figura emergente do cenário musical urbano independente, e para auxiliar nos anúncios do cronograma, tivemos a presença de Nyl MC.


Pra você ter uma noção, olha o elenco da noite: Faro MC, Gordão ZN, Devilzinha, MT, Leal MC, Mr PAC ZN, Jhon’Z, GB da Rima, Mec Poke, WL, Lili (SP), Sereia BXD, OZ, Magali, Black MC e Pitanga ZN. Entre os intervalos das fases, os pockets shows nos entretinham a cada minuto passado.

Foto: Barbara Melo
Foto: Barbara Melo

Primeiro tivemos Izy Castelano, com um repertório com participações que cativaram o público na hora. Ela me impressionou de verdade porque não ficou restrita às love songs dela, também cantou canções introspectivas, revelando um pouco mais da sua personalidade. E dizem que esse ano de 2025 ela estaria lançando um álbum, então ficarei na expectativa.

Foto: Barbara Melo
Foto: Barbara Melo

Depois da apresentação, começa a segunda fase, mas não consegui acompanhar a batalha na íntegra, pois estava captando os depoimentos sobre a importância de estar no CCBB. Este espaço, por mais que ofereça uma programação gratuita, ainda é pouco visto para a maioria dos transeuntes da cidade.


Dito isso, achei incrível ter um evento como o Soul Pixta no intuito de atrair um público mais diverso e com faixa etária mais diversa, mostrando que a arte pode promover grandes mudanças.
Foto: Barbara Melo
Foto: Barbara Melo

Voltando aos shows, quem brotou para agitar foi o grupo 1DV (lê-se 1 degrau por vez) que trouxe o NosDJazz — representado por Alisson Souza e Theo Chrispim — e juntos me fizeram gastar a onda legal. Formado por Lobk, PH, DJ Haole, Pipo e Camuri, o conjunto deu aulas de rap e mostrou como que se mantém os fundamentos firmes.


Durante o show deles, rolou um pocket solo do Camuri, onde o mesmo mostrou algumas músicas que não conhecia. Achei brabo demais por ser algo inédito e contagiante. 


Aí teve o show da PMusic, representado pelo Pipo — que já tava no show anterior — e o mano Lost. Pode ter certeza que esse foi um pocket de respeito. Mas como tudo que é bom dura pouco, seguimos o baile.

Foto: Barbara Melo
Foto: Barbara Melo

Logo após, chega DaFlor, “relíkia” máxima do cenário insulano. Um dos fundadores do Soul Pixta e embaixador do skate carioca com a Ademafia, ele deu o ar da graça com um repertório de funk com rap, e trouxe o parceiro JovemBlackMirror para contar algumas músicas junto. Infelizmente cheguei a ver pouco tempo do seu show por causa da correria que tava, mas não foi problema, já que consegui falar com eles também. No final, tudo deu certo.


Então era chegada a hora do Flow 021. O break que abrilhantou a pista, pelo que soube, foi absurdo. Consegui ver um pouco do aquecimento deles antes de começar o show e pude trocar uma ideia com o GB, um dos integrantes do grupo que arrebentou lá na hora.


Esse movimento precisa ser exaltado aqui, pois são muitos os nomes que não sabemos dentro desse pilar do Hip-hop. Sem o break, o movimento que conhecemos hoje não seria nada.
Foto: Barbara Melo
Foto: Barbara Melo

Depois disso, vem as semifinais. Batalhas intensas foram feitas aqui e no mais alto nível; todas as chaves eram compostas por minas. Foi Magali x Devilzinha, finalista, e Sereia x Lili, que passou para a última chave. Pelo que soube também, todas as duas semifinais tiveram terceiro round, o que deixou tudo mais empolgante. Na final, quem ganhou foi Devilzinha, se consagrando como a campeã da batalha.


No meio desse processo todo em busca da resposta perfeita para a minha pergunta, fui fazer contato com Sant, a atração principal da noite. Não é como se eu o conhecesse pessoalmente, mas já tive contato com ele quando acompanhava alguns shows dele no início da carreira e pude ter a honra deele me apresentar na minha primeira batalha de rima da minha vida, que foi na Tattoo Week de 2015.

Ele não vai lembrar, mas foi muito importante na minha vida. Nessa que fui falar com ele e com LP Beatzz, Sant foi simpático e respondeu de uma vez só as duas perguntas que fiz sobre sua trajetória e a importância das rodas de rima nesses espaços públicos que são exclusivos. Assim que terminou, os dois desceram para assistir o próximo show que viria.


Com muita qualidade na performance e na música que fazem, eles deixam muito gringo pra trás. Não saía da minha cabeça eles falando “D-D-D-N-A”.
Foto: Barbara Melo
Foto: Barbara Melo

E adivinha quem foi: DNASTY (Hélio Crunk e Evan Maurílio). Esse show foi um dos que mais filmei porque há um tempo que não os via em atividade. O duo tinha lançado o “Da Água ao Vinho”, seu álbum de estúdio mais recente, e vê-los ao vivo foi interessante pelo fato de perceber que eles tavam mais afiados do que nunca.


O que falar do headline? Um espetáculo apoteótico, de conexão única. Ninguém ficava sem cantar as faixas que ele soltava, e era difícil não ficar emocionado com o show a cada momento. Quase perdi a postura algumas vezes por causa das lembranças que tinha de outros que tinha ido do Sant.
Foto: Barbara Melo
Foto: Barbara Melo

Assim que terminou, um agradecimento ao espaço e ao evento foram feitos pelo próprio Stark, tendo o mesmo homenageando o grande BIGG — figura emblemática do Soul Pixta, um mestre de cerimônia que tava na ativa desde a sua formação (R.I.P.). Uma foto do lado de fora do centro com todos os presentes que ficaram até o final foi feita.

Foto: Barbara Melo
Foto: Barbara Melo

Foto: Barbara Melo
Foto: Barbara Melo

Se eu tivesse que definir esse rolé em uma palavra, provavelmente seria “esperança”, pois foi o que senti quando pisei no CCBB e vi aquele trabalho lindo executado da melhor forma. Não é justo só parabenizar, precisava retribuir toda essa energia que foi transmitida através dessa matéria.


Então aqui fica o meu salve no Acorda Pedrinho de hoje, que demorou, mas saiu do jeito que devia sair. Obrigado Soul Pixta, por tudo, e pela oportunidade de escrever sobre essa festa linda.



Se a gente não disser, quem vai dizer?


“Tudo precisa ser dito, ainda mais se for verdade”, solta o Xari já na primeira pergunta. E é com esse peso no peito que nasce O Que Eu Não Disse Antes, nova mixtape de Xari & Rojão — um duo que já não é mais promessa: é papo reto, é memória viva, é BXD!

No som deles, a Baixada Fluminense não é cenário — é personagem principal, é ferida aberta, é ninho e campo de guerra. Como contar esse território sem cair no clichê? Como cantar dor sem virar fetiche? Como rimar a realidade sem romantizar o corre? Simples: contando história.


“Foi natural abordar o real deixando o imaginário pro ouvinte”, lembra Rojão. O resultado é um som que rasga, mas também costura. Que derruba, mas estende a mão.

Por isso a Menó lança essa entrevista no Dia da Baixada Fluminense — esse 30 de abril que o calendário oficial tenta esquecer, mas que pulsa forte no underground, no palco, na favela, no estúdio improvisado e no faça por você mesmo.


Fotos: JomBoh
Fotos: JomBoh

Porque se ninguém fala por nós, a gente grita junto. E gritamos mesmo — com beat, com revolta, com carinho. Porque, como eu escrevi lá em 2021 — quatro anos já, olha nós ficando velhos — sobre o EP 5x1 do Rojão: “Baixada tem violência, mas também tem cultura, educação, poder, glória e, o principal, tem história”. E essas histórias precisam ser reforçadas, porque denunciam os descasos e alimentam a esperança. Porque os contadores de hoje estão reescrevendo, todo dia, a lógica desse ciclo de dor.


A história que eles contam agora é sobre não deixar mais nada atravessado. Tem crítica, tem perda, mas também tem afeto — aquele que mora no papo reto, no desabafo pós-corre, no estúdio compartilhado onde cada um colabora do jeito que dá. Como diz Xari em “Ruas Vazias”, som do EP Cordas (2024), que já passou aqui na Resenha do Pivete com texto brabo do Pedro Santos: “Labirinto nunca é o problema se tu não quer ver a saída”.



O que não foi dito antes


A mixtape começa como um papo reto que alguém resolveu meter no meio da roda: são sete faixas com participações de cria — Mustache, Grande e Marcão Baixada, que assina uma continuação de Rap Sem Refrões e Ponte, um dos sons mais pesados do disco

Repertório (2022), também já resenhado aqui. Mas agora, essa ponte que ele sempre construiu entre a favela e o mundo ganha reforço de Xari & Rojão. É a velha guarda se conectando com a nova geração. A presença do Marcão, como diz o Rojão, “é a Baixada sendo a Baixada”.


Ter Marcão Baixada na faixa não é só feat — é pacto. É reconhecer ali uma referência gigante da cultura fluminense. Desde os tempos de Baixada in Cena — som de 11 anos atrás! — ele já anunciava o que agora tá todo mundo vendo: esse território tem potência pra caralho, mesmo que neguem isso o tempo todo.

Fotos: JomBoh
Fotos: JomBoh

Campeão da Copa do Mundo do Hip Hop (Take Back the Mic), com mais de 10 anos de caminhada, Marcão é um dos nomes mais afiados do rap fora do eixo. Seja rimando ou gerindo carreiras musicais, ele ocupa espaço e abre caminho. Sua importância é fato.


A mixtape é tipo mapa afetivo da margem: tem rima que fere, tem rima que cuida. Fala de perdas, de ausências, mas também de ternura, de parcerias, de amores que não cabem em fórmula.


Coletivo ou nada


“Sem outras pessoas colaborando, esse projeto nem saía do papel”, lembra Xari.

E é isso: o som deles é feito em rede. A Baixada é terra de quem se fortalece, mesmo sem edital, sem hype. Produtores como Onda Pesa, primotrs, Valdetaro e João Passeri tão construindo um ecossistema onde o ruído vira linguagem, a falta vira estilo, e o amor sustenta a parada. Talentos do audiovisual como Emanuel Sant, JomBoh e Higor Cabral transformam música em imagem, enriquecendo ainda mais esses trampos.


Fotos: JomBoh
Fotos: JomBoh

O coletivo aqui não é só nome nos créditos — é a razão do som existir.


“Hip hop é união, certo?”, resume Xari.

E na Baixada, onde quase tudo falta, o que não pode faltar é quem acredita junto.



O Que Eu Não Disse Antes não é só mixtape — é manifesto. Essa obra é espelho e farol. Espelho de uma quebrada ignorada. Farol de um futuro sendo moldado no verso, no beat, na raça. A arte da Baixada não é só resistência: é proposta, é projeto, é porvir.


A gente nunca teve estrutura decente. Nunca veio incentivo fácil. Mas a gente aprendeu a fazer na unha. Porque aqui, o coletivo não é estética: é necessidade.



A potência da margem


Num país que ainda chama nossas cidades de “dormitório”, Xari e Rojão tão acordadíssimos. Cantando, denunciando, celebrando. E cada batida da mixtape é um soco nos ouvidos moucos do Brasil.


No fim das contas, O Que Eu Não Disse Antes é sobre o direito de contar a própria versão da história, com todos os ruídos, silêncios, caos e beleza que isso carrega. Não é só disco — é gesto.


Fotos: JomBoh
Fotos: JomBoh

Xari & Rojão rimam com a precisão de quem viveu. Falam da violência não como tema, mas como vivência. Cada faixa é um retrato cru de quem teve que atravessar tudo isso. Mas também é um gesto de amor: pelos que ficaram, pelos que se foram, pela memória que vira força.


Não é só denúncia. É também afirmação. De si, da quebrada, dos amores e das alianças que sustentam esse fazer artístico no meio do caos. É sobre tudo que não deu pra falar antes — e que agora precisa ser escutado.



E se o Brasil insiste em esquecer a Baixada, a gente insiste em lembrar: 30 de abril não é só uma data. É um grito. E aqui, ninguém solta o mic sozinho.


Trocamos essa ideia com Xari e Rojão — nossos Bebeto e Romário do rap fluminense — pra entender o que ficou atravessado na garganta e agora ganhou microfone.



Fotos: JomBoh
Fotos: JomBoh


Entrevista:


Pivete: “O Que Eu Não Disse Antes” soa como um desabafo potente. Que verdades vocês precisavam soltar agora, e por que esse momento?


Xari: Na real, tudo precisa ser dito — ainda mais se for verdade, rs. Acho que a pegada dessa mixtape foi tentar trazer uma visualização diferente pra forma como a gente já trabalha, mas escancarando nas letras os sentimentos mais “profundos” que vêm disso. Também acredito que esse é um bom momento tanto pra minha caminhada quanto pra do Rojão. A gente viu que “Cadê?” foi muito bem recebida, então decidimos trocar mais ideia com o público, abrir mais do que tá dentro.


Rojão: Pô, depois de uma temporada maneira de eventos juntos, bateu a vontade de abordar nossas reflexões de um jeito diferente — não só na música, mas também na postura, no flow. Algumas coisas estavam entaladas, outras foram surgindo no processo… mas no fim tudo fez sentido junto.



Pivete: A mixtape fala da Baixada sem romantizar. Qual foi o maior desafio de traduzir essa vivência pro som sem cair no clichê da violência?


Xari: A gente trabalha bem o storytelling nessa mixtape, somos bons nisso. Criamos uma atmosfera de história mesmo, onde cada pessoa interpreta do seu jeito — e ainda assim, metemos o dedo na ferida. Isso gera uma reflexão massa de como tratar certos temas sem cair na mesmice que geral já tá cansado de ouvir.


Rojão: Nem foi desafiador assim, porque a gente tava se divertindo contando histórias. Às vezes, no caminho pro estúdio, rolava alguma situação que já virava parte do cenário da música. Foi natural — a gente mostrou o real e deixou o imaginário pro ouvinte.



Pivete: A presença do Marcão Baixada é marcante. O que essa parceria representa pra trajetória de vocês?


Xari: Pra mim é um orgulho gigante ter ele na fita. A gente queria muito isso — trazer a Baixada nos versos com quem pavimentou esse corre antes de nós. É homenagem, é referência, é mostrar que dá pra fazer com os nossos. Quem escuta, sente isso.


Rojão: A gente já trocava ideia sobre fazer algo junto com o Marcão, mas ainda sem formato. Quando veio a ideia da mixtape, não teve jeito: era o momento. É a Baixada sendo a Baixada — quem tava antes abrindo caminho segue com a gente na pista. Isso só fortalece a área e os vínculos.


Fotos: JomBoh
Fotos: JomBoh

Pivete: Produzir de forma independente, com uma rede forte da própria quebrada, é quase uma assinatura de vocês. Como o coletivo molda o trabalho?


Xari: Sem outras pessoas colaborando, esse projeto nem saía do papel. Acredito muito nisso. Hip-hop é união, né?


Rojão: Não tem outro jeito de fazer se não for no coletivo — ainda mais pra quem é da Baixada. É nesse pique: cada um soma onde pode e no final tudo flui do melhor jeito.


Fotos: JomBoh
Fotos: JomBoh

Pivete: A mixtape tem dor, tem crítica, mas também tem afeto. No meio de tanto corre, onde vocês encontram espaço pra falar de amor?


Xari: O amor existe — e é ele que faz a gente continuar. Seja amor romântico ou não, é o que move. E até quando a gente perde um amor, transforma aquilo em letra, em som. Faz virar força.


Rojão: O amor tá no papo reto com os parceiros na roda, no desabafo depois de um dia puxado. Tá nessas trocas sinceras e nas reflexões que vêm delas.


Fotos: JomBoh
Fotos: JomBoh


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Todos os Direitos Reservados | Revista Menó | ISSN 2764-5649 

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