Baile Fock e o que ele vai trazer daqui por diante
- Pedro Santos
- há 4 dias
- 9 min de leitura
Fala comigo, tá tudo bem com vocês? Espero que sim, pois tô finalmente voltando a escrever aos poucos depois de tanta coisa que rolou nesses últimos meses. É matéria ali, evento aqui, e por aí vai. Mas isso não é motivo pra parar com as coisas.
E uma dessas que precisava trazer pra vocês era essa história que me marcou durante as andanças no centro do Rio. Apesar de ter sido algo ocorrido no início do ano, vou levar pra minha vida na memória e não acho justo só eu saber como foi esse rolé — sim, eu digo “rolé” pois cresci ouvindo as pessoas falarem assim e, infelizmente, não consigo falar “rolê”; acho estranho.
Fico feliz em vir pesado nesse Acorda Pedrinho de hoje.

O DIVERSA me surpreende mais uma vez, pois eu presenciei o primeiro Baile Fock. Mc Taya, a mente por trás de tudo, trouxe uma lineup brabissima na noite de 16 de maio, e me encheu os olhos d’água em relação ao futuro que o rock, metal e o que nascia a partir daquela festa estava produzindo.
Um dos motivos para tal é a proposta de não ficar presa a uma parada tradicional, tendo atabacada com distorção a todo o tempo no set do DJ SPIEKER. Ele também é componente da banda com a cria de Nova Iguaçu, mas isso vou deixar pra falar mais adiante.

Eu fiquei impressionado com a faixa etária do público por causa da boa variedade que tinha de gente lá dentro do espaço. Não sou velho, só sei que não estou mais tão jovem assim, e ali naquela noite eu pude sentir a mesma energia que tinha quando mais novo.
Outra razão pela qual o Baile Fock me encantou é o próprio lineup. Gostaria de citar o elenco antes de continuar o relato: ONDAPESA, RHAG, CHAINSAW KID, e MC TAYA (banda). Como podem ver, são nomes que representam uma renovação na música por mais que tenham um tempo na caminhada.
Aposto que algum desses nomes você já ouviu falar aqui na Menó por causa dos textos que vivemos falando das joias da Baixada. Digo isso porque temos uma missão de expôr os talentos que a indústria finge não ver. Agora estão sendo vistos, e se depender de nós, ELA VAI VAI MANDAR EM TUDO.

Eu tinha, no entanto, a função a cumprir lá no Diversa: captar o que foi essa porradaria no talento na forma de som. Aproveitei e já fui atrás do primeiro a se apresentar na noite. O show foi uma mistura de expectativa e surpresa, pois eu já estava esperando um repertório com sons do seu primeiro álbum (ONDAPESA I).

O que não esperava é que eu iria gravar rápido e cantar no show alguns trechos das músicas à medida que pulava no mosh. A VILANIA VEIO E TOMOU CONTA DO MEU CORPO, simplesmente isso. Na hora que fui trocar ideia com a crew, fui saber como foi performar no Baile.
[Pedro]: Como é que foi apresentar as músicas do teu disco aqui? [Leon]: Mano, é simplesmente insano imaginar que eu começar a fazer músicas num computador fosse se tornar, acessar outros territórios, conhecer outras pessoas e até rever outras formas de eu estar e ser, tá ligado? Isso é muito poderoso, muito poderoso. Apresentar isso aqui agora, o show que eu e Yargo fizemos hoje, tá ligado, é um bagulho, uma energia assim, meio inexplicável. Noite linda, tá ligado? Noite acolhedora, noite de outono, tá fresquinho lá fora, aqui dentro de um furduncinho gostoso demais no Diversa. Apresentar isso foi sem palavras, tá ligado? Muito foda o convite da Taya, poder compartilhar um pouco das coisas que passam na minha cabeça, tá ligado? Tanto esteticamente, quanto também assim, nas filosofias.

[Pedro]: Pô, agora uma pergunta pro Yargo. Como é que foi segurar, fazer a contenção desse show que o pessoal recebeu bem, tá ligado? [Yargo]: Foi literalmente ter que segurar a galera no mosh ali pra não derrubar os mic e tudo mais, porque assim, do caralho a energia… Energia intensa, o show inteiro, do início ao fim. Eu acho que a proposta da ONDA é essa, sabe? Então ter essa receptividade da galera, eu acho que é o que faz a gente querer estar aqui, sabe? O que traz a energia pra gente é ver a galera ali, o mosh rolando, a galera curtindo, batendo cabeça. Isso pra gente, a gente olhando, assim, dá uma energia, bate uma adrenalina. Pô, a coisa linda demais. Só satisfação mesmo. Geral colou, convite da MC Taya, CC Diversa, pô, coisa linda demais. [Pedro]: Só pra fechar agora, um recadinho de final, um salve, uma mensagem que vocês queriam falar. Eu vou passar pra cada um, tá ligado? [Leon]: Visão. Música Eletrônica Marolenta, ONDAPESA 1, tá na pista, vocês podem ouvir. Tem lá várias participações, tá ligado? Lancei coisa também com o Xari, Rojão e Marcão Baixada, RAP SEM REFRÕES E PONTES PT II. A gente fez o clipe, ficou lindo, tá ligado? Equipe braba. É muito foda poder fazer parte das coisas que acontecem na Baixada Fluminense, em sentido de produção e reprodução, tá ligado? De memória, de cultura. É lindo poder fazer parte desses movimentos e ver as coisas acontecendo, e a gente tendo a oportunidade de falar e poder se conectar e poder se reunir com pessoas. Então, assim, gente, ocupe as ruas, vá aos lugares, frequente os eventos na sua cidade, acessem outros espaços, tá ligado? Não deixe as coisas passarem só por causa delas, tá ligado? Vamos viver a rua, vamos viver a pista, vamos trocar o olho no olho, tá ligado? Acho que é isso [Yargo]: Eu acho que o Leon já foi completo ali, já deu o papo todo, fez o jabá, inclusive, da banda, então acompanhem lá o nosso trabalho e tal. É muita correria, então, mais uma vez, vou agradecer ao CC Diversa, por ter cedido o espaço, MC Taya, pelo convite, pela idealização do Baile Fock. Isso que tá acontecendo aqui é uma parada nova aqui no Rio de Janeiro, entendeu? Muito por ser uma cultura que eles estão trazendo lá de São Paulo. A galera do Metal Mandrake já tá presente aqui, já tá presente em outros estados, então, assim, esse movimento tem que acontecer, a gente tem que fazer isso acontecer, tem gente que gosta pra caralho disso aí. Então a gente não pode deixar morrer. Querem saber onde é que tá o rock, qual é a do rock, rock de favela? É isso aí, irmão, vem pra cá que tu vai ver. Tamo junto.

Prosseguindo a programação, é chegada a hora do mano Rhag. Seu show me remeteu a época que eu ouvia BK no início da carreira, assim como diversos artistas de 2016 que estão no seu auge hoje.
Talvez seja a atmosfera da letra e dos instrumentais que me deram essa impressão, e esse deboche em tom de crônica nas suas canções era bem presente no show dele.

Sabe aquela sensação de que mesmo você ouvindo a música pela primeira vez, parece que conhecia há muito tempo? Então, senti exatamente isso no show dele.
Depois dessa onda que gastei no show dele, vem a Chainsaw Kid com uma pedrada atrás da outra. Eu poderia dizer que se tratam de jovens fazendo o que dá na telha quando estão em um palco, porém não foi nada disso que experienciei.

Foi justamente o contrário; vi um grupo bastante comprometido em fazer uma levada New Metal bem no final dos anos 90 com uma pitada do rap contemporâneo, me lembrando muito bem de quando ouvia Slipknot (inclusive fizeram um cover da banda).

De toda forma, eu vi um pessoal que tava tocando o que queriam e com vontade, e isso me fez curtir os mosh mesmo destreinado porque não saía a anos para isso.

Fechando com chave de ouro, a embaixadora do Baile Fock. A banda é MC Taya, DJ Spieker e 33 Salva, quebrando tudo no headline. Ela cantou músicas do HISTERIA AGRESSIVA 100% NEURÓTICA, e algumas antes da fase METAL MANDRAKE — essa parada é uma nova wave de artistas que procuram fazer uma experimentação com o melhor dos universos do funk e do som extremo que o rock pode oferecer, gerando um cenário que veremos aos poucos dominando o underground —, e fez jus ao nome do evento.
E o melhor de tudo isso é que consigo falar com ela depois de toda essa entrega que foi o show dela:
[Pedro]: Eu quero saber como é que foi fazer esse Baile Fock, né? A primeira edição. Como é que você acha que a galera recebeu? [MC Taya]: Cara, eu vou falar que eu fiquei a noite toda igual mãe, assim. Eu tava filmando com o olho cheio d'água porque assim, foi o primeiro rolê. É um som experimental. As bandas são novas. Todo mundo tá fazendo um som muito experimental, sabe? E quando eu cheguei aqui, vi que tava tendo gente, que a galera tava curtindo, tava moshando, tava se divertindo, que é o intuito. É minha realização. Eu sempre quis estar num espaço assim. Onde eu ia dançar funk, cantar rap, moshar, bater cabeça, falar com os meus amigos, dançar funk, rebolar o rabo e me divertir. Eu sempre quis estar num lugar assim. Então a gente faz muito em cima do que não tem. Se não existe, a gente inventa, o "do it yourself", né? E é isso. O Metal Mandrake é essa geração que eu acho que tá voltando. Da juventude, ser do it yourself, fazer acontecer.

[Pedro]: E o que tu acha que vai ser o Metal Mandrake daqui a alguns anos, já que é algo recente? [MC Taya]: Cara, eu acho que vai crescer. Eu acho que a gente tá dando um pontapé em algo que vai vindo, sabe? Porque não tem como o rock negar mais a periferia. Não tem como o rock negar mais as pessoas negras. Não tem como o rock negar os LGBTs, sabe? Os não binários, as travestis, sabe? Não tem como o rock negar esses corpos. Então, a gente quer acolher esses corpos dos jovens que estão se iniciando no metal, e aí não quer dar de cara porque é de metaleiro, chato pra caralho, preconceituoso, reacionário que a gente tá acostumado, né? Então assim, a nossa vontade é que o rock volte a ser um bagulho que incomode os pais, e não que seja um bagulho de pai e tiozão. A gente quer que o rock seja odiado de novo pelos pais.

[Pedro]: E queria que você desse um recadinho, um salve pra quem você queira falar agora nesse último momento. [MC Taya]: Eu quero agradecer muito a presença de vocês. Muito obrigada por vocês tão cobrindo. Porque é muito importante dar voz, é ampliar o que vocês viram aqui. É botar pra outras pessoas. Então é muito importante a comunicação sempre. E eu quero dizer que eu tô muito feliz com tudo que tá acontecendo. Tô muito feliz com o movimento se criando e tomando forma. E eu espero que a gente vai devagarzinho, a gente não tem pressa. A gente vai fazendo pedrinha por pedrinha, tijolo por tijolo. Igual um barraco de favela. Que é assim que a gente é acostumado. Nunca foi de mão beijada pra nós. Nunca foi rápido. Então o Metal Mandrake não vai ser diferente. E a gente já tá conquistando muitos lugares. E isso é muito foda. Obrigada.
Tá bom ou quer mais depois dessa visão? Nem preciso falar mais nada. A Menó agradece por ela e toda a galera que aceitou a nossa presença naquele dia.

E espero estar em mais shows que forem feitos por essa tropa tão foda.
Resumindo: se você procura rabiscar a pista enquanto pensa em fazer um stage dive ou um circle pit do nada durante os shows, com certeza o Baile Fock é o seu lugar.

E falei isso pra te convidar a ir na sua terceira edição, que vai ser lá no mesmo local. Todos os caminhos te levam até o dia 25/10 para a Rua da Carioca, do Diversa. Se você não teve a chance de ir na primeira edição aqui no Rio, agora é a hora e você não vai se arrepender.
Além de ser um espaço de entretenimento, tanto a festa quanto o pessoal irão te acolher certamente, e fazer com que você cada vez mais sinta parte dessa cultura maravilhosa que é o underground na essência mais pura da palavra.
E tenho mais um coisa pra deixar marcada aqui: vá nos shows, ouça música independente e apoie seus artistas/movimentos. Se tiver merchan, compre sempre que puder.
Aonde tiver mosh, eu provavelmente estarei. E é isso. Tamo junto e esse foi o dia que vai ficar na memória.
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