Baixada Viva, Boombap Vive: a Universidade escuta o Rap
- 2N
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Atualizado: há 4 dias

Com um pouco de delay, trago-lhes considerações sobre o evento que ocorreu dia 23 de Maio: a mesa Baixada Viva, Boombap Vive, promovida pelo projeto Poéticas de Cria.
Para mediar a mesa, foi chamado o artista de rua, universitário, militante por direitos humanos, morador de Belford Roxo, Caio Reis.
E os convidados, 3 Mc’s originais da Baixada.
Braga, também conhecido como Sujeira Poetizada, de Nova Iguaçu; DoisBxD e RARO, ambos de São João de Meriti.

Com o elenco posicionado, iniciou-se o espetáculo.
Caio trouxe diversas questões. Iniciou o debate falando da História da Hidra de Iguaçu, um quilombo que resistiu durante décadas. O apelido gentilmente dado pelas forças imperiais, Hidra, faz referência à criatura mitológica que, ao ter sua cabeça cortada, outras duas nasciam no lugar, trazendo a ideia de resiliência dos quilombos da região, atual território da Baixada Fluminense.

Baixada é Potência. Ela Vive e segue Resistindo às agressões programadas do Estado Burguês.
Quando jovens negros da Baixada, educadores populares, graduados e pós-graduados na Rua e no Hip-Hop, falam na Universidade, eles estão ocupando um espaço que lhes foi históricamente negado, estão pondo a Epistemologia em tensão e estão sobretudo vivos, falando e sendo escutados.

RARO foi o primeiro convidado a falar.
Abordou como a união das pessoas é o que promove o corre; a coletividade é fator chave para a vivência na Baixada e para o Hip-hop.
“Boombap é Resistência”
Para ele, Boombap não é apenas um subgênero do Rap, é o Rap puro, é um Pilar da Cultura Hip-Hop, porque Hip-hop é Questionar, é fazer barulho, é Lutar.
Mas como se luta quando não se tem o básico? RARO trouxe a problemática de, por questões financeiras, muitos artistas terem de abrir mão do Hip-Hop para conseguirem o mínimo para sobreviver. Ao mesmo tempo que o Rap é uma forma de dar sentido à vida de pessoas que nada têm.
Com isso, RARO tangencia uma contradição fundamental, o Estado ataca o território o pauperizando e as únicas formas de resistir e dar sentidos à vida são rotineiramente perseguidas pelo próprio Estado. O que será que o Estado espera dessas pessoas?
Talvez a perseguição do Estado tenha a ver com o fato de o Rap não ser “só entretenimento, mas uma necessidade de falar, de se fazer ser ouvido”.

Depois disso, veio a fala de DoisBxd, um artista que abriu mão de muita coisa pelo Hip-Hop, pelo Boombap. Esse é seu “Estilo de Vida”, está “à flor da pele” e está em sua vida.
Boombap é Vida.
É o que move DoisBe na sua jornada pelo Rio.
Com esse movimento de entrega, ele passou a viver nomadicamente em função do Hip-hop.
O Boombap também é “melhor pra pensar na vida que psicólogo”
Aqui, os aspectos catárticos (conceito aristotélico de catarsis) do Boombap foram trazidos à tona.
Boombap é Vida. Boombap é Cura.

“Sou um ex-presidiário, preto, pobre, favelado, tenho até a 7ª série e tô aqui de tornozeleira eletrônica dando aula de hip-hop numa Universidade”
Seu périplo continua e cada vez mais espaços serão ocupados por ele.

E por fim Braga, ou Sujeira Poetizada, trouxe algumas reflexões sobre o seu fazer artístico.
“A Arte é algo abstrato”.
Ao se deparar com sua música, o ouvinte deve-se permitir entender. Quando a compreensão não chega, talvez seja melhor ouvir com mais atenção em outro momento e se conectar.
O Rap chama para a vida.
Acorda para a realidade.

Três clipes foram passados na mesa:

Três obras do Boombap contemporâneo do Rio de Janeiro. Três pedradas distintas que fazer reverberar todo o peso que o rap tem para os seus artistas. Três obras de arte.
As análises de cada uma sairão em breve, devido à sua grande densidade.
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