Jorge Ben Jor, A Tábua de Esmeralda e a lição de cinco minutos que nunca voltam
- Pivete

- 18 de set.
- 2 min de leitura

Jorge Ben insistiu. Muitos diziam que A Tábua de Esmeralda era uma loucura – samba com alquimia, misticismo, hermetismo, astrologia e poesia medieval. Demorou, mas saiu. Saiu como saem os discos que não se gastam com o tempo, porque não pertencem ao tempo. Um álbum que atravessa décadas como se tivesse sido gravado ontem e que, mesmo hoje, ainda soa como futuro.
Entre as canções, Cinco Minutos.
Quem define o quanto dura cinco minutos? O relógio, a espera, o coração que dispara? Jorge pede, insiste, quase implora: “Espere só cinco minutos”. Mas a pessoa vai embora. Sem atender. Sem saber o que perdeu. E aí mora o drama – não no que aconteceu, mas no que poderia ter acontecido.
Você não viu, diz ele. Não viu como fiquei. Não sabe o que perdeu.
E os amigos contam que ele chorou, sorriu, cantou, amou – tudo em cinco minutos. Como se a intensidade da vida coubesse nesse intervalo breve que ninguém respeitou.
A canção escancara a tragédia cotidiana: a pressa. A pressa que faz gente se perder de si mesma, que não permite ouvir, esperar, sentir. Jorge nos joga na cara que cinco minutos podem ser eternidade – ou um vazio.

E eu pergunto: quem olha nos meus olhos? Quem é capaz de sustentar cinco minutos de silêncio, de entrega, de atenção? Quantos de nós não aceitamos migalhas, lambemos os pratos, seguimos educados com quem nos despreza, e nos esquecemos de que cada instante pode ser o último?
O morro eu já subi e desci. Carreguei preconceitos como pedras diárias, e superei alguns. Mas nunca me livrei da sensação de ter escapado do que estava escrito pra mim. Será que meus caminhos são atalhos ou desvios de rota? Será que eu também deixei cinco minutos se perderem sem notar?
Cinco minutos podem ser riso ou choro, canto ou amor. Cinco minutos podem ser um beijo não dado, um abraço que nunca veio, uma vida inteira que poderia ter começado e não começou.
Pois você não sabe quanto valem cinco minutos na vida. E talvez nunca saiba.








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