ESSE ERA CRAQUE…
- Alex Emissário
- há 6 dias
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Paulo Eduardo era um jovem franzino de 16 anos e 1 metro e 82, que daria um excelente zagueiro — mas preferiu ser atacante.
Goleador nato, feito Pelé e Jardel no auge. Ninguém gostava de ser zagueiro lá no bairro.
Estava prestes a completar 17 anos quando despertou o interesse de alguns cartolas italianos. Seu futuro seria a divisão de base da Fiorentina ou do modesto Torino.

Paulo chegava todos os dias em casa, onde sua mãe — mulher guerreira, viúva, uma leoa por seu filho — o esperava com suculentos bolinhos de chuva e aquele café fresquinho, que, se você não for astuto, queima até a língua.
Vivia sempre a sorrir, como na canção de Cartola. Era a alegria daquela família humilde; todos o recebiam como se fosse um ídolo da jovem guarda.
Assim seguia a rotina da vida de Paulo Eduardo.

O ano era 2005. Três anos após o penta, e a sensação do momento era a chuteira Total 90 da Nike, usada por craques como Ronaldinho Gaúcho, Zidane e Kaká.
A ambição de Paulo em ter a famigerada chuteira era tanta que faltou a mais de oito jogos do time no sábado para fazer frete na feira, carregando as compras das madames e, assim, juntar uns trocados para comprar sua companheira. Mas, como todos sabem, não é fácil juntar grana.
Chegando cansado de mais um sábado de sol e labuta, viu Tony — o sex symbol do bairro.

Com apenas 17 anos, já pilotava uma Twister e desfilava pela orla da Gil Veloso de Honda Civic, rodeado de raparigas. Todos viam, mas ninguém sabia de onde vinham os bens.
Tony observava Paulo suando para conquistar suas belas chuteiras, e o convidou a seguir um caminho mais fácil:
Fita boa e rápida — assalto ao McDonald's da Av. Champagnat.

Pensativo, Paulo aceitou. Achou que seria tão fácil quanto fazer um gol.
Mas nada saiu conforme pensou. Ao adentrar o estabelecimento, havia lá um PM à paisana. E não foi outra.
Seu sonho acabou. Sua bola foi furada.

Hoje, sua mãe chora ao ver o comercial da maldita chuteira que um dia fez os olhos de seu filho brilharem.
Se Paulo soubesse que quem joga é o pé, e não a chuteira, não teria sentido o peso da ostentação...
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