top of page
  • Instagram
  • Facebook
  • Twitter
  • YouTube

Por que o movimento Hip Hop é um conteúdo alternativo na educação básica?


ree

Até onde o Hip Hop é respeitado?


Renascimento, Classicismo, Impressionismo, Surrealismo, Modernismo…

Ouvimos falar de vários movimentos artísticos que, mesmo sem entender muito bem do que se tratam ou em que período histórico aconteceram, atribuímos a eles, involuntariamente, uma legitimação. Afinal, o(a) professor(a) citou em algum momento na aula de Artes ou História, certo?


Então, esse movimento artístico existiu e é valorizado — e tão respeitado — a ponto de estar incluído nos currículos escolares e nas grades de cursos superiores.
ree

A gente sabe (ou deveria saber) por que isso não acontece com o movimento Hip Hop. Além da resposta óbvia e triste — o racismo estrutural — isso também tem um nome científico: epistemicídio.


O termo se refere ao genocídio de determinados conhecimentos com base em sua origem étnica-racial, o que traz severas consequências para a autoestima intelectual de grupos tidos como “minoritários”. Uma ciência ignorada, deturpada ou apropriada passa por um processo de apagamento histórico, através da hierarquização de saberes.

ree

Sueli Carneiro, doutora em Filosofia pela Universidade de São Paulo, utiliza o termo “epistemicídio” para evidenciar uma das muitas práticas de diminuição (ou anulação) da potência intelectual de povos colonizados e escravizados. Isso se reproduz no Brasil, principalmente nas escolas, desde a Educação Infantil até o Ensino Médio, influenciando a autocompreensão de pessoas pretas e pardas como produtoras de conhecimento.


Essa discussão vai muito além de como povos colonizados e escravizados são retratados nos livros de História, onde são lembrados somente nos períodos de colonização e “libertação”, por meio de imagens que ficam em nossas mentes — como A Primeira Missa no Brasil, de Victor Meirelles, em que inúmeros indígenas estão passivamente sentados ouvindo a missa dada por Padre José de Anchieta. 

E não preciso nem comentar as inúmeras imagens de negros escravizados pintadas pelo artista francês Jean-Baptiste Debret.
ree

Não pretendo aqui fazer um julgamento de valor — afinal, a história foi retratada, querendo a gente ou não —, mas a forma como essas imagens são lançadas em nossas mentes desde a infância influencia, e muito, nossa autopercepção sobre quem somos.


E é aí que o Hip Hop entra.


O Hip Hop é um movimento imenso, com diversos elementos que o compõem: o Graffiti, o MC/RAP, o DJ, o Break e a cola disso tudo, que pra mim é o principal: o conhecimento. Uma cultura que, daqui a alguns anos, quando eu e você estivermos velhos (assim seja), se tornará centenária!


Esse conhecimento que une todo o Hip Hop tem sua própria forma de fazer pedagogia, sua maneira de manter a cultura viva e resgatar a história do próprio movimento ao longo dos anos.


Também tem uma forma única de se adaptar às novas formas de fazer arte — como o surgimento de tecnologias de produção musical, redes sociais para divulgação e novos espaços de publicação de texto — como fazemos aqui na Revista Menó.

ree

Tudo bem que estamos numa época em que YouTube, Instagram e outras redes sociais expandiram a cultura, e até em cidades pequenas do interior do Brasil há rodas de rima que podem ser facilmente encontradas nessas plataformas. Mas, novamente, estamos aqui discutindo uma palavra-chave: legitimação.


O Hip Hop é um exemplo de sobrevivência cultural — assim como o Funk, o Samba e outros movimentos e espaços de produção de conhecimento que, apesar de serem populare$, por nascerem nas periferias e favelas, não são legitimados como movimentos artísticos. 


Principalmente nas escolas, onde, quando não são ignorados, aparecem como algo “alternativo”.

A cultura Hip Hop, que só cresce, é um exemplo de tecnologia social. Ela nos ensina, sobretudo, sobre pedagogia, malandragem, e como lidar com um sistema que suga da cultura popular — especialmente no contexto carioca. Vou até parafrasear Thiago Elniño na música Pedagoginga, quando ele diz:


O Hip-Hop me falou de autonomia, Autonomia que a escola nunca me deu A escola me ensinou a escolher caminhos Dentro do quadradinho que ela mesma me prendeu” - Pedagoginga (part. Sant e KMKZ)
ree

O que um movimento cultural e histórico tão f#d@ como esse está fazendo fora da educação básica de crianças e adolescentes que têm sua potente intelectualidade e autoestima destruídas de todas as formas — até dentro da sala de aula?


Ultimamente, o Hip Hop tem entrado nas escolas por meio de Graffiti, Rodas de Rima e Break, através de iniciativas de secretarias públicas da educação, geralmente com apoio de editais que convocam artistas para apresentações e oficinas culturais.

ree

Mas isso tudo ainda é alternativo demais. São poucas horas de teoria e prática sobre o movimento — isso quando dá tempo de apresentar. E algo muito maior é necessário. A validação da cultura não pode se dar somente através desses meios.


Uma apresentação superficial do que é considerado “alternativo”, mesmo que faça parte da vivência de muitos estudantes, é sugada e apagada por anos de uma formação que insiste em julgar uma cultura como superior à outra. Voltemos, novamente, ao Cubismo, ao Modernismo, à Arte Contemporânea — expressões muitas vezes abstratas demais para nossa realidade periférica tão concreta.


A escola não quer e não precisa de “Senhoritas Morellos”. A educação básica precisa reconhecer saberes que não podem mais ser tratados como alternativos, reproduzindo uma hierarquização dentro das disciplinas que ignora a realidade da população periférica e favelada.
ree

E não é como se o Hip Hop precisasse ser “oficializado” pelo Estado ou pela população. O Hip Hop existiu e sempre existirá, independente de quantos “nãos” ele receba. Porém, o respeito precisa ser estimulado dentro de uma estrutura que achata todos nós — e em todos os espaços.


Essa provocação vai além da educação básica e nos faz perguntar: Por que não há uma maior oferta de formação em produção musical nas instituições públicas para produtores de funk e beatmakers? Por que não incluir técnicas de spray e Graffiti nas aulas de pintura, sem deixar de lado a pintura a óleo (tão supervalorizada)?


ree

As respostas, a gente já sabe. E a luta é contínua.


O Hip Hop não precisa da escola para existir. Mas a escola precisa do Hip Hop se quiser existir para além do colonialismo.


Comentários

Avaliado com 0 de 5 estrelas.
Ainda sem avaliações

Adicione uma avaliação
logo.png
  • Branca Ícone Instagram
  • Branco Facebook Ícone
  • Branco Twitter Ícone
  • Branca ícone do YouTube

Todos os Direitos Reservados | Revista Menó | ISSN 2764-5649 

bottom of page