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Sobre a necessidade de representações afro-brasileiras na Cultura Pop

Por Gabrielle Venancio da Silva (Skia)


Todos sabemos – em número, gênero e graus divergentes – que o Brasil é um dos países com maior influência da diáspora africana no mundo. Este fato se apresenta de várias formas, seja pela nossa história, cultura ou questões étnicas-raciais (me refiro aqui somente a aparência, real ou estereotipada pelos gringos). O ponto de reflexão que gostaria de apresentar aqui, no entanto, é: Como um país com tamanha influência africana renega e deturpa uma de suas raízes tão severamente?

Além do racismo estrutural, que se estampa e se mascara no cotidiano, e da intolerância religiosa que, quase sempre, tem foco nos cultos de matriz africana, o preconceito que exclui a existência de corpos pretos que apresento para vocês pode ser para alguns, a princípio, uma questão vazia de identitarismo. Mas, prometo que essa questão, que tanto incomoda muitas pessoas pretas, retintas e não retintas- não é vazia - assim como não são os movimentos identitários: Representação.

Enquanto uma pessoa preta (não retinta), que desde a infância foi cercada pelos ritos das religiões de matriz africana - umbanda e candomblé, sobretudo, umbanda - eu sempre me questionei porque os Orixás, deuses com histórias (ou mitos, se preferir) tão ricas quanto os deuses do Olimpo ou de Asgard, não eram vistos com bons olhos, nem no dia a dia, nem no imaginário apresentado em livros e telas do cinema de Hollywood ou do Brasil.

Essa frustração se enraizou em meu ser e hoje, com 23 anos, faço dessa a minha missão enquanto estudante de filosofia, livreire e possível future escritore.

No entanto, para alcançar meu objetivo de dar espaço a cosmogonia yorubá, preciso de muito estudo e vivência. Nesse caminho, encontrei algumas figuras que iniciaram essa jornada e me servem de inspiração, no ramo fictícios: Eberton Ferreira, Hugo Canuto,e PJ Pereira.

Decidi falar aqui sobre a obra de PJ Pereira, “O livro do Silêncio”, volume um da “coleção Deuses de Dois Mundos'', que li recentemente e me cativou e provocou uma série de reflexões sobre seus personagens (os orixás e New, o protagonista), sua escrita e sua pessoa.

Em 277 páginas, o autor nos apresenta um enredo de aventura e investigação, dividindo a narrativa entre o eixo das histórias dos orixás, e o eixo de New, um jornalista mauricinho de São Paulo no início dos anos 2000.

Me apaixonei pela jornada dos 7 heróis de Orum que buscam restabelecer o equilíbrio do mundo em busca do odus sequestrados pela Iyami Osoronga! No entanto tive um pouco de dificuldade de tragar a narrativa de Newton, devido a uma série de questões relacionadas à cor, raça e classe…, mas, enfim, o fato é: PJ criou uma ótima representação dos orixás e da cosmogonia Yorubá (digna de ser roteirizada por streamings como a Netflix, ouso dizer), tal como Rick Riordan com Percy Jackson e Os olimpianos. E ainda sim, seu livro é pouco conhecido e/ ou tido como desinteressante pelo público consumidor de cultura pop. Tenho certeza que isso não ocorre por seu protagonista de carisma duvidoso ou pela obra. E sim por racismo, racismo epistêmico, racismo estrutural, intolerância/ racismo religioso.

Cidade Invisível ganhou destaque com os folclores da cosmogonia indígena, no entanto seu elenco era, majoritariamente, branco. Então, lanço a pergunta: Quando as histórias, mitos e cosmogonias não eurocentradas serão bem recepcionadas e representadas pelo mundo Pop? Espero ver isso se concretizar – em grande escala, assim como todas as outras mitologias – e quem sabe, que eu ajude a fazer essa realidade acontecer. Conto com isso…

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