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Brasil, um país e a ironia por detrás do terror

Por Ademas Pereira da Costa Jr


Para quem sentiu o Brasil virar ao avesso… com o que esses dias parecem? Sobreviventes de algum tipo de catástrofe, ainda inominável?


Parece um bocado que um monstro invisível nos sequestrou por dentro, colocando num saco preto nossos olhares para a felicidade em vida. Arrastado por ele, muitos morreram por dentro. E milhares morreram de fato. Seguimos vivos, às vezes ainda como crianças. Esquecendo as misérias causadas pelo tal Monstro. Talvez sabiamente reinventamos novos motivos para se apaixonar pela boa vida. Apesar de tudo que se arrasta com o seu rodo cotidiano. Temos, agradecidos, a água de beber.

Hoje, assistimos, nós na ponta, ele em outra. Pontas que só com o tempo podemos ver. Pegar a visão. Da miséria que foi chamada por ele de Civilização. Apenas migalhas que jogava, da mesma felicidade em vida por ele sequestrada, crente, de que iríamos seguir seus passos até o fim. Monstro, maníaco! Somos diferentes. Inventamos uma nova forma de viver! Despertaremos do terror de sua Civilização.


Mas não esquecemos… não podemos esquecer de como o e em nome de que seu terror foi causado.

Nunca esqueceremos a ironia por detrás do terror causado ao país. Em nome de quem se valeu o Monstro? De Deus? Da Pátria? Da Família? Quem estava acima de todas essas crenças? Um Maníaco? A Pessoa-de-Bens, clássico personagem de uma história de terror desse país, ao mesmo tempo fervoroso defensor da vida que se alimenta socialmente do ódio aos mais fracos? Na sua visão, o monstro foi, é, útil para fazer sofrer apenas daqueles que merecem. Segundo seu critério de boa sociedade, orientado pela moral-e-bons-costumes-coloniais. Que muitas vezes se confunde com a cor da pele dos seus flagelados. E então com quem o Monstro se confunde?


Está na cara quem e o que ele é. Pensem com cuidado. O papo é reto. O país pode já no domingo dar prazo ao seu terror. Mas o despertar do terror e de uma catástrofe, como de um pesadelo, não é tão simples. Há ainda tempo. Tempo necessário para pegar a visão do pesadelo. Tempo para ter coragem para pegar sua cabeça e acordar. Qualquer animal com peçonha encurralado abocanha. Há de se manter a distância certa do monstro e das suas monstruosidades. Enquanto permanecer o terror em latência, pelo momento político de polaridade e revanchismo, será preciso acordar as ruas.


Será preciso lembrar. O monstro não é só ele mesmo, se não também as monstruosidades que faz. E hoje só o que sustenta essa sua identidade, ainda não-revelada, é o medo de que ele faça tudo outra vez. E onde mais se viu refletir as misérias por ele causadas onde passou, senão nos olhos do povo de rua? Como a fome. Que hoje o mesmo Monstro simboliza. Como a Violência e o Racismo, como genocídio do povo preto - em um país que foi o último a abolir a escravidão; e o machismo - em um país que tem o maior índice de violência doméstica e só reconheceu os direitos políticos das mulheres a menos de 100 anos. Como a Doença, que vitimou mais de 600 mil brasileiros. Um país que flagelou milhões de indígenas durante séculos. Hoje o Monstro, maníaco e peçonhento, carrega a bandeira negra de uma utopia, um passado infernal, chamado: Civilização.


A ironia por trás do terror é que o próprio país que assiste a história está em terror pelos valores que cultiva. Não é apenas o Monstro que produz o enredo. O Monstro é ele mesmo se não um agouro do passado. Que ganhou corpo e voz. Um carrego de terror colonial que devemos não esquecer para aprender, mas ironicamente despachar, Menó.

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