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Se o descaso do poder público continuar, vamos precisar de mais heróis como Marcus Vinícius para dar conta de tanta tragédia!



Eu estou cansado. Cansado de assistir, tanto na televisão quanto nas redes sociais, inúmeros desastres que poderiam ser contingenciados para evitar mais mortes, talvez até evitados. Porém, por ocorrerem do outro lado do cartão postal, são tratados com descaso. Estou cansado de ficar aqui nesta Revista sem nenhum incentivo, com menos de 10 reais na conta, tendo que falar o óbvio todos os dias. 


Ontem falei da reunião do G20 que começou ontem e vai até hoje, na capital do Rio de Janeiro, na Marina da Glória, que vai tratar, entre outras coisas, meio ambiente. Caso você não saiba, os ministérios do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e das Relações Exteriores (MRE) apresentaram à sociedade o grupo de trabalho (GT) de Sustentabilidade Ambiental e Climática do G20.


Até tento ser idealista, mas o realismo bate à minha porta todos os dias, e eu sei que uma reunião dessa, que propositalmente se afasta das áreas mais pobres da cidade do Rio de Janeiro, que não tem um canal efetivo com a população que sofre esses desastres e muito menos teve a decência de convidar quem luta diariamente, individualmente ou através de coletivos, ONGs e institutos para mitigar um problema que assola a população desde antes de eu nascer, não vai dar cabo de todas as demandas de uma população que já está cansada de sofrer, de perder tudo, de morrer.



A Casa Fluminense, através de uma importantíssima pesquisa, verificou que 13 municípios em todo o Estado não apresentaram nenhum plano de contingência para temporais. Municípios como Japeri e Nova Iguaçu, que foram castigados ontem pela chuva e tiveram mortes por conta do desastre ambiental e do descaso de seus governantes, não apresentaram nenhum plano. Quantos heróis vão ser necessários? Por que deixar na conta de políticos, que mesmo em ano eleitoral, defecam na cabeça do seu povo, nada vai ocorrer.


Marcos Vinícius, de 20 anos, é um herói e pronto, fez mais do que o governador e os prefeitos que só querem votos de uma população que os mesmos desprezam. Arriscou sua vida para salvar uma mãe e seu bebê, de um alagamento que já deveria ser previsto, pois sempre ocorre no mesmo lugar, da mesma maneira e com as mesmas vítimas.



Infelizmente, em Japeri, a história foi diferente, duas pessoas morreram, entre elas uma criança de apenas 2 anos de idade, morreram soterrados em meio à lama, uma tragédia que poderia ser maior se não fosse os moradores que com suas próprias mãos, sem nenhum apoio de um Estado e de um Município que os ignora, conseguiram retirar entre destroços e lama sua irmã gêmea que felizmente conseguiu sobreviver. A Prefeitura de Japeri até agora já contabilizou 5 quedas de barreira, 4 deslizamentos e 7 desabamentos, com 40 desalojados. Famílias que perderam tudo, e que felizmente, não perderam suas vidas.


Em Barra do Pirai, uma mulher morreu, e três pessoas estão desaparecidas, um casal e um bebê que foram vítimas acima de tudo do descaso de gente que daqui a uns meses não vai ter nenhuma vergonha de pedir votos prometendo milhares de coisas que não irão cumprir. Estou com ódio, que se mistura com tristeza e revolta. Fico muito feliz com a atitude de Marcos Vinícius, mas não consigo não pensar que a atitude do mesmo também poderia ter ceifado sua vida, pois infelizmente, temos que ser heróis de nós mesmos.


O Estado do Rio de Janeiro e a Capital têm um plano de contingência, que não é muito efetivo como vimos ontem na Zona Oeste e nos demais municípios que sofreram com as chuvas. Mas pelo menos fizeram o mínimo, que é ter, diferente de quase 60% dos municípios da Região Metropolitana do Rio que não fizeram nem isso, e não publicaram o Plano de Contingência de Proteção e Defesa Civil.



E ainda tenho que ficar ouvindo gente burra e soberba, que acha que o ânus cheira a perfume francês, dizer que o termo racismo ambiental é exagero, que não existe, que é uma pauta vitimista. Eu não tenho mais paciência, estou cansado, porém durmo tranquilo, pois essas mortes não estão na minha conta, diferente de quem fica diminuindo questões de extrema importância, por conta de ignorância e mal-caratismo.


Você acha que eu fiquei feliz em descobrir que o racismo está ferrando com a gente até nas questões ambientais, em meio a uma ebulição global, descobrir que meu povo vai sofrer mais somente por conta do seu CEP, COR e Classe Social?



Eu quero ver se vocês vão esquecer disso na hora de votar, esquecer de todas as mortes e perdas por conta de descaso, quero ver em quem vocês vão votar para representarem vocês nos próximos quatro anos. Eu estou cansado, e espero que vocês também. Eu estou revoltado, espero que vocês também estejam.


Para finalizar, indico para vocês o Mapa da Desigualdade, que é uma publicação da Casa Fluminense, que reúne um conjunto de indicadores socioeconômicos sobre os municípios da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Vejam com seus próprios olhos e valorizem o trabalho desse espaço que busca a construção coletiva de políticas e ações públicas por um Rio mais justo, democrático e sustentável. Fé.


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