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Como o racismo ambiental é presente nas zonas periferizadas do Brasil



Quando foi que paramos para refletir sobre a natureza? E quando foi que ela começou a repreender a humanidade? Não teria sentido fazer estas perguntas se não levarmos em conta o que está acontecendo no país nos últimos dias. No estado do Rio de Janeiro, pelo menos foram noticiadas cerca de 12 mortes na Baixada Fluminense em decorrência das chuvas fortes que ocorreram na região. Na Zona Norte, muitas pessoas perderam suas casas pelas enchentes e agora estão pedindo todo tipo de ajuda para construir novamente do zero tudo que perderam.


Antes de prosseguir, a Revista Menó deixa claro para que, em casos de temporal, evite sair na rua sempre que possível, pois há a urgência em se manter vivo e em segurança, principalmente para quem está ao redor da gente, mesmo não tendo previsão de chuva para o dia.


O assunto em questão não é novidade, sempre sendo comentado e abordado nos diversos meios de comunicação, sejam convencionais ou não. Os desastres causados pelas reações dos fenômenos naturais foram pautas pertinentes na música, denunciando os verdadeiros responsáveis por estes descasos. O grupo de rap NSC (Neurônios Sub-Conscientes) possui músicas as quais dialogam com os problemas que estão presentes nos noticiários. As duas partes de “Quando A Chuva Cai” apontam os desdobramentos e relatos de desespero por parte de quem sai perdendo nessas enchentes, além de explicarem que é um projeto político muito bem planejado com o intuito de manter essas causalidades como justificativas para captação de votos e recursos das pessoas inseridas nesse contexto de miséria e falta de dignidade.



Autores como John Bullard e Henri Ascerald descrevem muito bem como se funciona o racismo ambiental: é destinada para uma parcela populacional as famosas “zonas de sacrifício”, que são regiões com o objetivo de serem reservas de alocação de resíduos de outras partes mais desenvolvidas das cidades grandes. O quesito socioeconômico serve como justificativa para essa seleção muito bem articulada, estratificando cada vez mais as pessoas que se encaixam no perfil, e forçando um movimento migratório em detrimento da falta de mobilidade social delas. Elas ficam sujeitas a condições insalubres e expostas às substâncias tóxicas desses resíduos, afetando o saneamento básico dessa população inserida em uma dessas zonas. Além disso, a racialização do espaço é um fator determinante para que as zonas de sacrifício sejam elaboradas, pois poderia ter mais força a premissa de alocar essas pessoas subalternizadas por falta de poder aquisitivo para se manterem nas capitais. 


A resposta vem em forma de ativismo político, com uma reação radical nos momentos, em busca de melhorias efetivas nestas localidades planejadas. A justiça ambiental vira pauta no meio acadêmico e amplia os debates, agora sinalizando que os governos possuem sim uma postura antiambientalista em prol do lucro. Junto a isso, surgem protestos e atos civis cada vez mais engajados a respeito do desmantelamento proposital da natureza através das atividades extrativistas e exploratórias.



Então, vem a pergunta: como é no caso do nosso país? De que forma o racismo ambiental atinge na vida do  brasileiro? A resposta vem em forma de periferias e favelas em massa, com irregularidades estruturais devido a um crescimento demográfico desordenado. Se não tem como morar no asfalto, a tendência é subir os morros e se alocar neles.

Se existem questões políticas envolvidas nesta problemática, obviamente a arte irá relatar a sua forma tudo que está acontecendo. Pode ser lembrada a canção da banda de punk rock Cólera, “Deixe A Terra Em Paz”, com um crítica fortíssima ao capitalismo nacional, e de que jeito ele atravessa nas relações, mudando até nas formas de interação social, além de alertar para o ponto da preservação do meio ambiente como meio de sobrevivência. Outra que remete muito à questão ambiental, sobretudo à racialização do espaço  é a “Quilombos de Tijolo”, do grupo de rap Além da Loucura, com participação do Dropê (Comando Selva). Essa, no caso, é uma autoafirmação incorporada num tom de denúncia das injustiças e o ciclo de desvantagens acumulativas, segundo Hasenbalg e Silva (1988).



Entender como a segregação espacial é feita por meio da classe e da raça quer dizer que podemos entender o porquê de certos lugares causarem desconforto para quem sempre teve que lutar pela vida comparada a outras pessoas que tiveram tudo na mão. É perceber que quando um desastre acontece, um lado sempre vai ter prejuízo, e o povo pertencente a esse lado sabe disso. 



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BULLARD, R.D.; JOHNSON, G.S.; SMITH, S.L.; KING, D.W. Vivendo na linha de frente da luta ambiental: lições das comunidades mais vulneráveis dos Estados Unidos.  Revista de Educação, Ciências e Matemática v.3 n.3 set./dez. p. 1- 32. 2013.ACSELRAD, Henri. Ambiente, desigualdade e racismo. Disponível em: https://racismoambiental.net.br/2020/12/29/ambiente-desigualdade-e-racismo-por-henri-acselrad/

HASENBALG, Carlos e SILVA, Nelson do Valle. Estrutura Social, Mobilidade e Raça, 1988. Rio de Janeiro, Iuperj/Vértice.

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