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O ensino de Geografia e o espaço vivido nas escolas

Por Romi da Silva Pereira [1]


O ensino de geografia está centrado na prática educativa ministrada pelo professor e na inter-relação do mesmo com os alunos. Essas relações de interação entre professor e aluno, ocorre a necessidade do docente articular para obter as possibilidades da realidade vivida pelo discente. O professor não deve intervir para acabar com os desejos e anseios do aluno, mas para libertá-lo das correntes invisíveis que o cercam em seu cotidiano.

Tendo em vista a importância do ensino de geografia e suas limitações no que diz respeito ao ensino de nível médio e fundamental, é preciso antes de tudo analisar os aspectos de âmbito, social, cultural, político, e principalmente a relação da realidade vivida entre alunos e professores.

Nesse sentido, significa dizer que o processo de construção do ensino de geografia é transformado mediante as características de produção e reprodução do espaço social. A sociedade moderna constitui um cenário que liga entre si as relações entre o homem e a natureza, que modifica os espaços vividos, que os mesmos também se transformam em espaços de contradição social e cultural. Mas é preciso ver além dessas contradições para que possamos precisamente chegar a uma sociedade de bem estar social, político, econômico e cultural.

O espaço sociocultural conduz reflexões sobre a realidade vivida da sociedade, ou seja, a ação da humanidade como processo de construção do espaço geográfico a partir das transformações antrópicas sobre o meio natural. Nessa perspectiva é preciso verificar as formas de dominação, exploração e exclusão que predominam no sistema capitalista. O ensino/ aprendizagem de geografia crítica proporciona realizar elementos essenciais para projeção da formação de cidadãos críticos para transformar o espaço vivido.

Aprender é um exercício dinâmico e complexo principalmente quando pensamos o espaço vivido da sociedade. Esse processo de ensino/aprendizagem na geografia crítica para compreender a realidade vivida por todos os discentes. Podemos verificar como um dos maiores desafios da educação na atualidade é trabalhar com a capacidade crítica e reflexiva do educando, a fim de prepará-lo para a luta e o enfrentamento das desigualdades sociais presentes na sociedade atual, totalmente articulada no sistema capitalista.

Nessa perspectiva observamos que o ensino de geografia é bastante amplo e por isso devemos trabalhar com a transdisciplinaridade principalmente com a sociologia, história e filosofia, mas também com várias áreas de ensino que têm objetivos da construção da realidade vivida das economias, políticos e culturais dos discentes. A ciência geográfica tem que apresentar temáticas para promover debates em nossa prática como pensadores revolucionários para transformar o ensino tradicional, por novas abordagens dos ensinos críticos e reflexivos para existir a integração do meio sociocultural, político e econômico

Em outras palavras, a educação como prática de liberdade não pode apenas estar preocupada com a cultura individual que a sociedade capitalista impõe e modela o comportamento do espaço vivido. A proposta de uma pedagogia libertadora, a partir dos problemas enfrentados pelo aluno no seu cotidiano, faz com que ele possa entender e compreender a realidade vivida de sua classe social, e possa também obter o senso crítico na medida em que o processo do sistema capitalista evolui.

O ensino de Geografia como forma do saber epistemológico, parte do princípio de que tanto o conhecimento tradicional como os novos métodos (a pedagogia neo-tecnicista em moda atualmente), proporcionaram diversas interpretações da realidade, isto é, o conhecimento tem por objetivo a adaptação do indivíduo ao meio social, e acaba por vezes a condicionar os alunos a aceitarem como natural as desigualdades sociais. O relacionamento entre professor e aluno em muitos casos é predominante de forma autoritária do professor que exige uma atitude receptiva dos alunos e impede qualquer comunicação entre eles no decorrer da aula, o professor transmite o conteúdo na forma de verdade a ser absorvida: em consequência, a disciplina imposta é o meio mais eficaz segundo o sistema educacional para assegurar a atenção e o silêncio.

Isto ocorre devido a práticas pedagógicas conservadoras e dos meios econômicos e políticos que existem em muitos casos para a transmissão de conteúdo ao aluno, e não identificam que esses conteúdos partem das relações de interesses do capitalismo.

Para isso é necessário desenvolver práticas educativas em que os alunos possam ver a realidade vivida como o processo de transformação social, cultural e política, garantindo que o aluno desenvolva o senso crítico quando o mesmo se depara com o conhecimento tradicional a possibilidade de novos conhecimentos. A questão da identidade sociocultural, de que faz parte a dimensão individual e a de classe dos educadores cujo respeito é algo fundamental na prática de um educador. Nesse sentido podemos perceber que a educação é mais que um processo meramente científico, sendo preciso entender e interpretar a realidade vivida dos alunos em seus modos culturais, econômicos e sociais em que vivem.

É preciso refletir sobre o ensino de modo que possamos analisar a realidade socioespacial do sistema educacional e apostar no reconhecimento do ensino de geografia, caso contrário, corremos o risco de interpretar seu objeto de estudo de forma ingênua e perigosa para o ensino. Nesse sentido, o espaço vivido deve ser incorporado e utilizado em novas práticas educativas, por isso os conteúdos assimilados constituem em dominação de conhecimento relativamente incorporada pelos professores que reflete as realidades sociais dos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem.

A valorização do ensino de Geografia como instrumento libertador e crítico do saber é o melhor serviço que se presta aos interesses sociais e culturais do espaço vivido. A própria escola pode contribuir para eliminar a relação da seletividade imposta pelo sistema de ensino burocratizado e tornar-se mais democrática a serviço do social. A motivação depende da força de estimulação do problema e das disposições internas e externas do aluno. Assim o processo de aprendizagem se torna uma atividade de descoberta, é uma auto-aprendizagem e que também se incorpora estruturalmente os princípios sociais e pessoais deles.

Portanto, é preciso saber dialogar com cada aluno para se obter uma melhor concordância na dialética que existe entre professor e aluno. Ensinar geografia no ensino fundamental e médio requer uma postura diferenciada frente aos alunos, devido a maneira como cada um interage no meio social frente ao seu espaço vivido. Nesse processo temos várias dificuldades que precisam ser superadas, para que o processo educacional se torne de maneira prazerosa e não como uma tortura mental como o que acontece em grande parte dos sistemas de ensino.


[1] Professor da rede municipal de Poção e Serra Talhada/PE. Graduado em Geografia pela Universidade Regional do Cariri (URCA), e Especialista em Ensino de Geografia, História e Filosofia.

Revista Menó, nº. 3/2021 (out/nov/dez).

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