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Você não é uma empresa

Por Coletivo Terral


Eles não querem te desenvolver, eles querem explorar você.

Quem nunca ouviu alguém falar: “Vou investir na minha carreira para crescer na empresa.” ou “Preciso investir em tal curso para minha empresa me notar”; ou ainda este: “A empresa está investindo em mim”.

Se em algum momento da vida chegou a pensar que estavam investindo em você, então estava certo. Você só não reparou que a palavra “investir” vem do ambiente financeiro. Pois bem, nada no mundo dos negócios tem o objetivo de fazer com que os trabalhadores se sintam como parte de construção de mundo mais justo ou menos desigual.

Se estão investindo em você, é para que dê o máximo da sua capacidade para que a empresa atinja o máximo de lucro. Não pense que estão investindo para lhe tornar um ser humano consciente do seu papel no mundo do trabalho. Pelo contrário, investem em você, trabalhador, com o propósito de abusar das suas energias, da sua potencialidade, da sua imaginação, da sua vida.

Interessante perceber que a palavra trabalhador está em desuso no mercado de trabalho, ideia reforçada inclusive pelos meios de comunicação. Essa palavra, porém, é a mais adequada para quem exerce uma determinada profissão no mercado de trabalho. A ideia de dar outros nomes a quem trabalha, como por exemplo colaborador e consultor, é uma estratégia sofisticada de alienação.

Ao fazer isso, eles colocam você em um espaço ilusório de quem ocupa a posição de “patrão”, com o tempo você passa a funcionar não mais como um trabalhador, mas como uma empresa. Ao se considerar uma empresa, você deixa de perceber a sua dimensão humana e passa a funcionar como um vendedor que não para de trabalhar durante às 24h dos 7 dias por semana.

O resultado disso você sabe: insônia, estresse, depressão, Burnout dentre outros problemas de saúde contemporâneos.

Desde o início do texto estamos nos referindo a “eles”. Quem eles são?

O 1%: uma pequeníssima parcela da humanidade que controla uma parte gigantesca da riqueza produzida pela natureza e pelas pessoas. Nosso país, por exemplo, é um dos mais desiguais do mundo, em que os 10% do topo da pirâmide apoderam-se de 59% de toda riqueza nacional.

As grandes corporações situadas na Europa e nos Estados Unidos são as responsáveis por influenciar mundo a fora a noção de trabalhador como uma empresa. Você, assim como nós, não é uma empresa. Uma empresa não quer te desenvolver, ela quer abusar da sua capacidade criadora para render mais e mais lucro. Não se engane.

Por isso o 1% sempre vai criar estratégias para te convencer a investir em sua carreira. Ou seja, você investe dinheiro, aprende novas informações para ser explorado. A vida, o trabalho, nós e você não cabemos na lógica do 1%.

Tal lógica não veio à toa. Ela foi historicamente construída por profissionais das áreas que podemos enquadrar nas Ciências Cognitivas: psicólogos, pedagogos, economistas, designers, publicitários, engenheiros, sociólogos, antropólogos, entre outros que, em diversos debates acadêmicos ocorrido desde 1946, após o término da Segunda Guerra Mundial.

Tais encontros são chamados de Conferências Macy e desdobrou-se na consolidação do modelo matemático como chave de entendimento das relações humanas, sociais, ambientais etc. Esse modelo foi desenvolvido por diversos pesquisadores em organizações interdisciplinares, mas foi Norbert Wiener, matemático de formação, que condensou estes estudos naquilo que ele chamou de cibernética.

A cibernética pode ser considerada "o estudo científico do controle e comunicação no animal e na máquina". Em outras palavras, é o estudo científico de como humanos, animais e máquinas controlam e se comunicam. E a comunicação tornou-se o modelo de análise das relações intersubjetivas e técnica da realidade.

Após esse desenvolvimento inicial, empresas adotaram o modelo cibernético para o desenvolvimento de análises preditivas de mercado. Como criar padrões de comportamento, de consumo e até ideológico dos possíveis consumidores? Como criar condições de compras e de previsões de consumo?

A cibernética e, consequentemente, as ciências cognitivas, desenvolveram modelos e algoritmos de comportamento humano. As tecnologias digitais de comunicação e informação se desenvolveram nestes últimos quarenta anos baseadas no controle, padronização e modulação das pessoas que utilizam tais ferramentas. O mundo, então, se tornou um grande portal eletrônico pautado pela lógica de mercado e pela subjetividade empresarial.

Ao invés de sermos uma nação, ou um grupo étnico, podemos manter esses vernizes mais gerais, mas podemos ser enquadrados como empresas de negócios personalizados, indicando, na interação virtual, possíveis caminhos de crescimento ilimitado de si, na finalidade de otimizar os custos de padronização e constituir "máquinas de gente".

Você já pensou nisso? Como podemos fugir disso? Como podemos sair deste moedor de gente e construtor de modelos preditivos de empreendedores?

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