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Educar para a democracia exige valorizar quem educa: A greve em Alagoas e a urgência de uma educação que respeite

  • Foto do escritor: Pivete
    Pivete
  • 26 de jul.
  • 5 min de leitura
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Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda. Paulo Freire, Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. 

Tornar a educação para a democracia mais plural e inclusiva exige, antes de tudo, reconhecer que as escolas não existem num vácuo. Elas são atravessadas por desigualdades históricas que se expressam em dados, em silêncios e, sobretudo, em ausências. Uma dessas ausências tem nome - desvalorização dos professores.


A atual greve das trabalhadoras e trabalhadores da educação em Alagoas, que já dura mais de 20 dias, é expressão desse descaso. Em plena luta por direitos básicos - como reajuste salarial, estrutura digna nas escolas, combate ao assédio e valorização profissional - os educadores são silenciados por uma grande mídia aliada ao governo, punidos com multas e criminalizados por exercer seu direito à greve. 


O Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Alagoas (SINTEAL) denuncia que não há diálogo efetivo, que o governo não cumpriu promessas anteriores e segue ignorando as reivindicações da categoria.


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Isso não é um caso isolado - é parte de um apagão nacional na educação. E não se trata apenas de cortes orçamentários ou má gestão - é um projeto. Um projeto que não vê a educação como direito, mas como gasto; que transforma professor em número e escola em índice; que enxerga os trabalhadores da educação como obstáculos e não como protagonistas da transformação social.


Por isso, não adianta construir avaliações nacionais, implementar Base Curricular ou impor metas para o IDEB se não houver valorização real dos profissionais da educação. Nenhuma prova consegue mensurar o impacto de um professor motivado, respeitado e bem pago na formação cidadã de um estudante. Nenhum currículo plural se sustenta se quem o aplica está esgotado, doente, desvalorizado.


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Uma educação democrática começa na valorização de quem ensina.


Começa ao reconhecer que a escola não se faz sozinha - ela é feita por gente, por vínculos, por compromisso com o futuro. É necessário garantir condições dignas de trabalho, salários justos, escuta ativa e participação nas decisões pedagógicas e políticas.


Ao lado disso, seguimos acreditando que a educação plural se constrói reconhecendo a diversidade de saberes e sujeitos presentes na escola - estudantes pretos, indígenas, periféricos, LGBTQIAPN+, com deficiência, de comunidades tradicionais. 



Esses corpos, historicamente vistos como problema, são produtores de cultura, conhecimento e resistência. E educar para a democracia é garantir que eles se vejam no conteúdo, no livro, no professor e na sala de aula.

A recente aprovação da Lei nº 12.479 no Espírito Santo escancara mais uma vez como a educação tem sido alvo de projetos autoritários que tentam mascarar desigualdades estruturais com discursos moralistas.


A nova lei garante aos pais o direito de vetar a participação de seus filhos em atividades pedagógicas que tratem de gênero, diversidade sexual ou igualdade de gênero, em escolas públicas e privadas. Isso é, na prática, uma censura institucionalizada que impede que a escola cumpra seu papel social de formar cidadãos críticos, conscientes e respeitosos com as diferenças


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Essa lei se sustenta na mesma base frágil da chamada “ideologia de gênero” – uma invenção criada para assustar, dividir e confundir. 

Ninguém muda o sexo de ninguém dentro da escola. O que se faz é educar para o respeito. Falar de desigualdade entre homens e mulheres é reconhecer que as trabalhadoras ganham menos, sofrem mais com o desemprego e são sobrecarregadas com os cuidados do lar. 


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Falar de diversidade é afirmar que todos os sujeitos – LGBTQIA+, negros, indígenas, mulheres, pessoas com deficiência – devem ter seus direitos e suas vivências respeitadas dentro e fora da escola.

Ao proibir esse debate, a nova lei transforma a educação em um campo de batalha onde o que está em jogo é a possibilidade de formar uma sociedade mais justa e plural. E mais: ela desresponsabiliza o Estado diante das violências sofridas diariamente por estudantes que não se encaixam no padrão imposto. 


Como falar em democracia nas escolas se negamos o direito de existir plenamente a tantos corpos?


Essa estratégia tem um objetivo maior: desviar o foco das verdadeiras causas da crise educacional. Enquanto nos fazem discutir se é "certo ou errado" falar de gênero, a realidade é que faltam professores, faltam recursos, falta valorização. A greve em Alagoas é reflexo disso. E essa mesma lógica que censura o debate de gênero é a que implementa ensino à distância precário, desmonta a carreira docente, promove privatizações e impõe metas desumanas.


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Não é possível falar em educação democrática se não podemos discutir as formas de opressão que estruturam a sociedade. A escola não pode ser neutra diante da injustiça. Ela precisa ser um espaço de escuta, acolhimento e transformação. É justamente falando sobre gênero, sexualidade, raça e classe que protegemos nossas crianças e jovens da violência e da exclusão.


A ideologia de gênero não existe. O que existe é um projeto de silenciamento.E contra isso, precisamos defender uma educação que ensine a pensar, a respeitar, a conviver. 

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Uma educação que não apague, mas revele. 

Que não proíba, mas escute. 

Que não exclua, mas abrace. 

E, acima de tudo, que forme sujeitos livres,

conscientes e preparados para transformar o mundo.


Frente a esse cenário, é impossível ignorar a relação entre a greve da educação em Alagoas e a aprovação da Lei 12.479 no Espírito Santo.


Em estados diferentes, mas sob a mesma lógica: de um lado, professores são perseguidos por reivindicar condições básicas de trabalho e respeito; de outro, legislações tentam calar o debate sobre gênero, diversidade e igualdade nas escolas.


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É o mesmo projeto que tenta nos sufocar – um projeto que censura, precariza e silencia. Que finge se preocupar com as famílias, mas vira as costas para a violência, o preconceito e a exclusão vividos diariamente por tantas crianças e adolescentes dentro da escola.


Que se diz defensor da moral, mas abandona professores sem reajuste, sem estrutura e sem reconhecimento.

Não há como defender uma educação plural e inclusiva sem estar ao lado de quem a constrói, com afeto e resistência, todos os dias. Porque falar de democracia na escola exige falar de salário digno, de liberdade pedagógica, de pluralidade de vozes e corpos.


Neste momento, estou do lado das trabalhadoras e trabalhadores da educação de Alagoas, que seguem em greve, mesmo diante da criminalização e do silêncio institucional.


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Eles mostram ao Brasil o que é lutar por uma escola pública viva, combativa e transformadora.

Reafirmo o compromisso com uma educação que enfrente as desigualdades, que valorize quem ensina, que acolha quem aprende, e que se mantenha inegociavelmente ao lado da liberdade.

Repito com força: sem professor valorizado, não há educação.


Sem debate de gênero, não há respeito.

Sem diversidade, não há democracia.

A luta de vocês é exemplo – e é semente. 

Que floresça em todos os estados.

Estamos juntos.




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