Carta para Papai Noel
- Louise Maria

- há 1 dia
- 3 min de leitura
De: Louise Maria
Para: papai Noel

Querido papai Noel,
Não tem como começar os meus pedidos sem antes explicar esse ano, é claro.
Considero que fui uma boa menina e, em decorrência disso, mereço receber meus presentes. Não arrumei briga e nem perdi a razão. Mas você me conhece e sabe que não sou de ficar quieta. Em um ano em que mulheres são assassinadas por nada, resultando em mortes desumanas, acredito que as discussões não foram suficientes.
Lembro de quando vi pela primeira vez a propaganda da boneca Baby Alive, há mais de 10 anos, e pedi por ela por um ano inteiro. Claro, não ganhei, mas ainda penso nela. Passar a entender que não dependia de um senhor barbudo fez muita diferença!
Dependia somente dos meus pais, em uma época em que apenas minha mãe trabalhava em casa de família e meu pai, debilitado sem poder trabalhar. O que não coloco como algo triste, apenas uma criança começando a entender melhor a classe das coisas.
E escrever a respeito disso não é em vão, é perceber que para cada criança, a realidade chega de um jeito diferente. Pensar que há a possibilidade de crianças acreditarem no lúdico por mais algum tempo parece, em minha visão, algo bom. Não o fato de alienar, óbvio. Crianças têm direito à informações e saber a verdade/realidade.
O que quero pontuar aqui pode ser exemplificado na iniciativa dos Correios em disponibilizar cartas de crianças, cartas que as mesmas escreveram para o papai Noel pedindo por seus presentes. O intuito é que as pessoas possam ler as cartas e caso queiram, possam apadrinhar a criança. Cartas de todos os lugares, com os mais variados pedidos e para todos os bolsos. Para a pessoa que decide apadrinhar, basta só escolher a carta que vai de acordo com a sua condição financeira de poder proporcionar o desejo daquela criança.
Mas na atual época em uma sociedade que aplaude pseudos gestos de caridade em países com pobreza extrema, usando de imagens não só de crianças, mas toda uma sociedade em total vulnerabilidade a fim de engajamento e o título de grande salvador, não seria tão fácil assim uma criança receber facilmente seu presente, o que foi enviado pelo papai Noel.
Nesse projeto, como citado acima, a pessoa que decide apadrinhar a criança pode escolher livremente qual carta levar e o que vai de acordo com sua condição financeira. Infelizmente, creio que como jeito de humilhar não só a criança, mas também a família da mesma, pessoas estão apostando em tentar viralizar com a seguinte atitude mesquinha:
Pessoas ligando a câmera, lendo a cartinha que elas mesmas escolheram e ridicularizando crianças que pediram ao papai Noel, não para elas, mas sim para o papai Noel: celular de marca, jogos caros, roupas que estão na moda, também sapatos de marca.
Ao fazerem essa exposição, debocham e brigam com crianças, como se por serem pobres, não pudessem pedir algo caro, coisas de qualidade.
Eu, Louise, te pergunto, papai Noel: acabou a magia do Natal? Ou nunca de fato houve a magia do Natal e sua grande comoção por um período de empatia e amor?

Depois de todo esse desabafo e ainda sim nem ter conseguido contar todos os detalhes deste ano, a Louise de alguns aninhos, que ainda acredita na magia do Natal, deseja que mulheres deixem de ser mortas por apenas existirem e serem quem são. Com sua personalidade, seu jeito próprio, por serem completas;
Que mães não chorem ao precisarem, por incompetência de todo um Estado, lavarem o corpo de seus filhos que foram jogados após a execução, ao não terem seus direitos de defesa e devido julgamento;
Desejo que as crianças sejam respeitadas, validadas e amadas.














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