O Natal e algumas curiosidades
- Pedro Santos

- há 4 horas
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Oi, tudo bem contigo? Espero que você curta da melhor forma o final de ano mesmo com as barreiras do dia a dia que nos enlouquecem a cada instante.
E, sinceramente, acho que o Natal serve para respirar o corpo e a mente após um ano intenso de frustrações, metas batidas e oscilações na vida pessoal. Não só isso, é época de correr atrás das comidas que você só vai comer uma vez na vida ou na morte com um tom ritualístico. Mas vem cá, você realmente gosta da data ou do que ela oferece?
O fato é que o Natal divide opiniões, e o meu papel aqui é dar um brilho trazendo três curiosidades pra você:

1. Quem é de verdade o “Papai Noel”?
Essa história vem com a inspiração de São Nicolau, um bispo católico que foi eternizado após a sua morte no ano de 343 d.C, sendo canonizado como um santo ao longo dos anos. Seus pais eram ricos, e no momento em que ficou órfão, Nicolau mudou da “água pro vinho”: começou a investir toda sua riqueza aos necessitados, sendo caridoso principalmente com as crianças.
Seus atos o fizeram ser reconhecido por alguns como “São Nicolau, o Taumaturgo” — aquele que opera milagres —, e sua imagem ao redor do continente europeu tinha se consolidado desse jeito.
Um dos milagres que o deixou mais famoso foi o de impedir que três moças fossem para a prostituição a mando do pai que era um comerciante falido. Algumas pessoas sabem que pela pobreza que enfrentava, ele não teria o que comer, tampouco os dotes para as filhas em seus respectivos casamentos. Mas, Nicolau, na intenção de salvar essas moças, joga pela chaminé da casa da família três sacos de moedas de ouro. Esses sacos caíram dentro das meias das meninas, que estavam em frente à lareira para secar. O que foi importante mesmo, é que a família foi agraciada e encarou o episódio como um ato divino. Com a fama, o dia 6 de dezembro se tornou o Dia de São Nicolau, uma data em que rolavam trocas de presentes entre os cristãos da Europa antiga.
Tá bom, e o Papai Noel? Onde ele entra nessa história?
O contexto é o seguinte: a devoção a São Nicolau vai desaparecendo dentro dos países protestantes no século XVI, com exceção da Holanda, onde era chamado de Sinterklaas. No século seguinte, os colonos holandeses levam essa tradição para Nova Amsterdã (atual Nova Iorque), e o impacto não poderia ser outro. Seu nome é traduzido para Santa Claus e incorpora a figura do bom velhinho ao redor do globo.

E como foi difundida essa mudança? Aí é que mora o pulo do gato: os Estados Unidos se tornam o local perfeito para mescla dos folclores de tempos a.c com as festividades cristãs. A figura de Santa Claus foi se eternizando em poemas, livros, etc., e um dos maiores expoentes é o livro de Jason Willcox Smith, o “The Night Before Christmas”, que o retrata sendo puxado por renas em um trenó, como conhecemos atualmente.
Ele também é chamado de nomes diferentes dependendo do país, como é o caso na Inglaterra (Father Christmas), e em Portugal (Pai Natal). Isso se deve a França, porque lá ele é chamado de Père Noël. O nome pega na boca do povo e começa a ser passado adiante. Père Noël, Pai Natal, Papai Noel. Entendeu agora?
2. Porque o Natal é no dia 25?
O lance do Natal ser nesse dia tem a ver com uma “confusão” com o aniversário de São Nicolau. E a Reforma Protestante tem um papel importante nisso, pois é nela que acontece todo um processo de privar a devoção ao padroeiro dos marinheiros, e o de associar a uma figura que não fosse papal, como era considerado antes. As festas que eram católicas, agora eram comemoradas dias depois.

No fim da Idade Média, as festividades eram associadas a esse homem que era espirituoso, bem-humorado e “gordinho” (com todo o respeito da palavra), fazendo referência à comida, bebida e música em excesso. Como os ingleses do século XVII queriam tirar tudo que fizesse alusão ao santo católico, assim como suas tradições pregadas, a figura do Father Christmas cresce com uma força maior por justamente ser ligada a esses tipos de festa. Então, o Dia de São Nicolau acaba sofrendo uma perda dessa representação da troca de presentes pela Reforma, com a data sendo transferida para o dia 25 de dezembro.
Antes de mais nada, quero lembrar que, por exemplo, tinha o “O Dia do Nascimento do Sol Invencível” (Dies Natalis Solis Invicti), que foi implementada pelo imperador Aureliano em 274 d.c., quando ele oficializou o culto ao Deus Sol. E adivinha quando era comemorado esse dia? 25 de dezembro. Não só essa data era comemorada esta festa, como outras as quais eram pagãs foram se inserindo nas culturas ocidentais de forma condensada. Uma delas era a Saturnália, que, assim como o Dies Natalis Solis Invicti, ocorriam em solstícios de inverno, marcando celebrações com temas de renovação, luz e esperança.
Espera aí, não seria nesse dia o “nascimento de Jesus”? Não temos certeza a respeito disso, pois nenhum registro dos tempos antigos relataram sobre esse acontecimento, e isso ficou como um mito para que o cristianismo ganhasse força. Muitos iriam eternizar a crucificação do mesmo, em seguida da sua ressurreição, dando origem à Páscoa. O que se sabe é que ele existiu, mas não dessa forma como foi vendida pela visão eurocêntrica do mundo. Aliás, essas celebrações se conectaram com a narrativa cristã de Jesus como a “luz do mundo”, o “salvador” que traria a nova era. Em resumo: a data não foi uma coincidência, foi escolhida por pura conveniência.
3. E quando se trata sobre consumo, o capital não perdoa. Nem o Natal
Weber afirmava que para o capitalismo se desenvolver, existia um “espírito” antes desse sistema. Tanto é que, hoje, a frase mais famosa que cansamos de ouvir entre os empresários e os autônomos é a máxima de Benjamin Franklin de que “tempo é dinheiro”.

Poderia eu fazer toda uma rede sobre o estrago que isso nos causou baseado em um estudo de alguém pioneiro da sociologia no século XIX? Poderia, mas não é o foco. Aqui, na Menó, o mais importante é que você nos entenda e se interesse pelo que lê, a gente sabe que você gosta de ler o que fazemos por que você se identifica conosco.
E, cá entre nós, existe época mais "espiritualizada" nesse sentido do que o Natal no Brasil? A gente vive essa filosofia na pele: o tempo vira uma corrida maluca contra o relógio para garantir as lembrancinhas (porque perder tempo é perder a chance de comprar), e o crédito... ah, o crédito vira a própria magia do Natal, materializada naquele parcelamento em doze vezes sem juros que estica a nossa capacidade de consumo para o infinito e além. A Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) aponta que uma fatia enorme dos consumidores (cerca de 39%) vai recorrer ao cartão de crédito parcelado. Ou seja, estamos literalmente seguindo a cartilha do Franklin que o Weber cita: usando nosso crédito e nosso futuro para sustentar o ritual do presente. É ou não é o puro suco do espírito capitalista?
E falando em levar o "espírito" capitalista a sério demais, a coisa anda tão feia que até criticar o bom velhinho virou caso de polícia. Recentemente, a banda punk Garotos Podres virou alvo de um inquérito policial por causa da música "Papai Noel Velho Batuta". A letra, que chama o Noel de "porco capitalista" e denuncia justamente esse consumismo desenfreado que exclui os pobres, foi escrita em 1985 para driblar a censura da ditadura, mas acabou incomodando as autoridades em pleno 2025. Parece que, para alguns, questionar a santidade do consumo e do lucro ofende mais do que a própria desigualdade — uma ironia que o próprio Weber talvez achasse fascinante (e trágica).
É Natal e o capital te ferra tão bem que você nem sabe o que vai ser de presente no final do ano.

No fim das contas, depois de desmistificar a origem do Papai Noel, encarar os boletos parcelados que o Weber explicaria tão bem e até lembrar que criticar o sistema pode dar confusão, o que sobra? Sobra a tal da consciência. A gente não precisa virar o Grinch e nem cancelar a ceia, mas dá para curtir o feriado sabendo exatamente onde a gente está pisando. O segredo talvez seja usar esse "espírito" não só para movimentar o comércio, mas para movimentar o que realmente importa: a pausa para respirar, a rabanada sem culpa (ou com a culpa devidamente negociada) e a valorização de quem está do nosso lado, muito mais do que do pacote que está embaixo da árvore. Então, fica aqui o desejo da Menó: tenha um Natal incrível. Que ele seja "rico" no melhor sentido da palavra, gerando lucros que planilha nenhuma contabiliza — aqueles que a gente soma em risadas, abraços e na sanidade mental recuperada para o próximo ano. Boas festas, com os pés no chão, o bolso atento e o espírito (crítico) lá no alto!
Referências
MITOLOGIAS E CRÔNICAS – A Mitologia do Natal. Disponível em https://revistathebard.com/mitologias-e-cronicas-a-mitologia-do-natal/
Origem do Natal EXPLICADA!. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=HkVxn-L4A4U
Origem do Papai Noel. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=kWAw4yxZ3nE
PAPAI NOEL VELHO BATUTA - Garotos Podres Censurados? - 40 anos depois do fim da Ditadura Militar??. Disponível em https://youtu.be/qX9Ltns9nSI?si=0SfGV3h8RsTxPoCG
Quem foi São Nicolau e por que ele inspirou a criação do Papai Noel? Disponível em https://www.nationalgeographicbrasil.com/historia/2023/12/quem-foi-sao-nicolau-e-por-que-ele-inspirou-a-criacao-do-papai-noel
São Nicolau, por CatolicoApp. Disponível em https://catolicoapp.com/santo/sao-nicolau/
Vendas de Natal devem movimentar quase R$70 bilhões, segundo CNC. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=MUgAB8uDoYQ
WEBER, Max. A ética protestante e o "espírito" do capitalismo. Editora Companhia das Letras, 2004.










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