A Jamaica Latinoamericana de biaibiab
- Pedro Santos

- 15 de ago.
- 3 min de leitura

Quando Beatriz nos confiou o seu editorial, senti uma pressão em torno do tema, pois era uma questão de demonstrar na fotografia as expressões de um pessoal que carregava ali toda uma memória. A ancestralidade é o mote deste ensaio, e nada melhor do que falar de uma imagem que influencia tudo ao redor do urbano.

Cada foto que observava eu perdia um tempo só para admirar, como se estivesse lá nos
bastidores vendo aquela juventude criar um projeto que trazia, ao meu ver, uma força através da suavidade nas poses. As roupas que remetem à cultura rastafari e ao reggae destacam os modelos porque se trata disso também.

Lembrei de uma passagem de Stuart Hall (2016) sobre como as roupas, aqui no caso, funcionam como “significantes na produção de sentido, e se apresentam como signos. Elas constroem significados e carregam uma mensagem”. E aqui não posso negar que ao mostrar uma narrativa através dos quadros, a gente perceba que elas sozinhas não produzem sentido.
Os penteados, os acessórios, e o cenário são elementos que fazem parte e constroem essa mensagem a qual a fotógrafa consegue transmitir.




O elenco foi responsável pela elaboração dela: jovens que podem mostrar com orgulho o fato de serem negros e que possuem não só um pedaço, mas toda uma Jamaica a qual foi incorporada no contexto das Américas Central e do Sul.



A produção do vídeo também é uma forma de reforço da arte em volta do editorial. O filtro VHS faz todo o sentido — aqui entra uma viagem minha sobre a exposição das fotos porque só seria possível captar esse sentido pelo movimento — dando um tom vintage em meio a uma reinvenção.

A identidade importa. E ela é tema tanto pelo que somos quanto pelo que representamos. Além disso, ela nos mostra “o que nos tornamos”, sendo futuro e passado quando nos lembramos de toda uma diáspora a qual rolou para que nós pudéssemos retratá-la das mais diversas maneiras. O dever de decolonialidade neste editorial é claro, e as pessoas envolvidas no projeto estavam dispostas a trazer essa história.
É um exemplo de que podemos ver e reconhecer as diferentes partes e histórias de nós próprios (Hall, 2006).
Diferente de São Luís, onde o reggae ressignificou sem interferir na lógica das práticas culturais locais e transformou a capital maranhense na “Jamaica brasileira”, no Rio de Janeiro, é vista com mais uma das facetas simbólicas e representativas, já que não é só uma, e sim várias manifestações artísticas/musicais que construíram o Rio que conhecemos; este que também foi afetado pelo branqueamento, porém com um movimento de resistência e reexistência.

O mito, segundo Barthes, não se define pelo objeto da sua mensagem, mas pela maneira como ela profere, e é “[...] construído por um discurso que surgiu numa determinada época, contexto que foi apropriado por um grupo que lhe atribuiu determinado sentido” (Morais, 2018). Beatriz aumenta a escala, não fala apenas de uma Jamaica a nível nacional, e isso é o que dá a beleza no trabalho dela.



E se tem uma coisa que posso concordar com ela, é que a mesma traduz todas as suas intenções em seus trabalhos, como se as lentes fossem o cérebro dela, traduzido pelas fotos e pelos vídeos. Uma artista visual de mão cheia. A Menó tem o prazer de mostrar o que ela quis dizer pelas imagens descritas nesta resenha. É sempre bom ver pessoas com potência passando por aqui, e a revista é um lugar pra isso.
Referências bibliográficas:
HALL, Stuart. Cultura e representação. PUC-Rio: Apicuri, v. 10, p. 24, 2016.
HALL, Stuart. Identidade cultural e diáspora. Comunicação & Cultura, n. 1, p. 21-35, 2006.
MORAIS, Maria do Carmo Lima. A invenção da expressão “Jamaica brasileira”. Núcleo, v. 3, n. 3, 2022.
SANTOS, Gersiney; SANTOS, Daiane Silva. Epistemologias de reexistência: um diálogo teórico-metodológico entre interseccionalidade e aquilombagem crítica. Revista Brasileira de Educação, v. 27, p. e270028, 2022.










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