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Atualizado: 5 de mar.



Esse é o Diário do Pivete, lugar onde falo o que penso; e como penso. Voltei faz poucos meses para casa dos meus pais, na Baixada Fluminense. É aí que penso muito, e olha só o que penso: a volta para casa, é muito dura, ainda mais quando você já é diferente daquilo que você já foi. Sinto doses nostálgicas, mas sei que o mundo é muito maior que aqui. E que infelizmente, por conta de uma estigmatização de um preconceito noticiado, pintado, e performado de como às pessoas daqui deveriam ser, performamos um personagem criado por eles, que não somos, mas se quisermos ser, seremos; terror nenhum.





Nadamos contra a corrente, até perder as forças e se afogar. Alguns conseguem nadar em outros rios, e alcançar outros lugares, mas são muitos que se afogam no mar de algoritmos, violência, subemprego ou nas drogas. Se torna o clichê, o que eles esperam de nós.  

Computadores fazem arte, artistas fazem dinheiro, e digo mais, dinheiro faz astros, mas não artistas. Artistas são orgânicos; ídolos, estrelas, divas e astros são criados, fabricados, via bolsas cheias, e muito, cheias de dinheiro, que rendem mais dinheiro, em sua maioria para quem já tem muito, em um ciclo sem fim de grana, em que a base da pirâmide é você. Não estou dizendo que não existam astros, ídolos, estrelas, divas orgânicas, os quais são realmente artistas, na etimologia da palavra, em sua semântica, em seu significado mais pleno.


Até na Baixada Fluminense, tem seus casos de quem conseguiu nadar contra a maré e adentrar em outros rios, não serei eu, que terei, por falta de curiosidade da sua parte, te falar quem são. E não são poucos.


Baixada é um polo de talento, uma fábrica de artistas, mas por conta das suas problemáticas causadas por uma má gestão e um descaso geral, faz com que, muitos desses artistas se percam no caminho. 

Aqui não falo de entrar para o crime organizado; olha só, como nossos olhares já são pré-moldados, por um caráter negativo que colocam em gente de lugares que se distanciam da zona sul, que abrigam milhares de pessoas que vão trabalhar lá, depois que o galo canta. Esses trabalhadores e trabalhadoras, julgadas pelos olhos privilegiados de quem mora ao lado do Cristo Redentor, e por isso, aparentemente recebe mais sua atenção. Essas pessoas são consideradas fora da gema, longe dos olhos de um Cristo já meio míope; pois é tanta covardia e tão pouquíssima justiça, que só posso acreditar que a sua visão já não consegue mais enxergar a Baixada. 



Voltando para os artistas, são muitos contemporâneos, nossos, de gerações semelhantes ou mais novas, que se destacam tanto que nem os algoritmos e muito menos os esteriótipos que nos atravessam impedem essas preciosidades de se destacarem. E eu faço a mea culpa, não estava consumindo muito os trabalhos desse outro lado invisibilizado pelo cartão postal. Não por falta de vontade, mas por falta de tempo para garimpar esses ouros que o algoritmo esconde.


O post do “BXD Explana” por exemplo, é meu exercício de ouvir esses artistas que por conta de um algoritmo ganancioso, que diminui o alcance da potência orgânica, para impulsionar a mediocridade financiada, impede nós de  ver o trabalho lindo de alguns irmãos e irmãs, que explicitam qualidade baixadense. Artistas esses, que contra tudo e contra todos, fazem essa porra acontecer, na batalha, sem patrocínio, muito menos papai ou mamãe para bancar. 

Amo a Baixada Fluminense, e suas particularidades, que se você vê legal tem em todo lugar. É foda, jamais conseguirei renegar uma terra no qual brotei como ser, um ser pensante, um pensamento esse crítico, e uma crítica essa, contra um pensamento que se força a ser dominante; mas que, no fundo, tem muito cria, que já percebeu a farsa que é esse filme besteirol, preconceituoso e xenofóbico que eles querem nos vender. “Cadê” é um som que ouvi em primeira mão em um show, de uns crias que foram fazer show do lado de lá, tipo invasão; com os amigos da Baixada é assim: “se não tem espaço, nós criamos”. Na época até lancei uma resenha aqui, chamando geral para festa “Anti Pop” dos crias da “Crew da Pesa”.


E olha como é o processo de criação, pois quando pensei em escrever; pensei em falar sobre esse show especificamente. “Xari e Rojão”, que , tem uma química, uma malemolência e domínio de palco que falta em muito artistas grandes, que tão no famoso “hype” — odeio estrangeirismo que o Rap me obriga a ter em meu dicionário. Os dois caxienses, que prometem um EP em conjunto em breve, realizaram um show, no ano passado, que me fez questionar tanta coisa sobre como somos limitados por aqueles lá — preciso dizer quem? — , só por nascemos do lado de cá. Sem coitadismo, estou propondo uma reflexão. 

Por conta da Revista Menó, eu estou conhecendo muitos artistas, produtores, diretores, pintores, entre muitas atividades artísticas e culturais, que me fazem acreditar que a Baixada Fluminense é um dos maiores polos de inovação artística e cultura do Rio de Janeiro, muito mais que a Zona Sul. Isso aqui pode até ser um manifesto contra a existência dessa panelinha algorítmica que privilegia a Zona Sul, que esbanja estrutura e capital.  Ou uma ode a luta e resistência da Baixada Fluminense, um canto de glória, de conquista, de quem não abaixa a cabeça, pelo contrário, levanta e luta diariamente pelo seu merecido espaço. 


Em “Cadê?” de “Xari e Rojão”, esse som que escuto há algumas semanas em looping, “Xari” explicita algumas dúvidas e pergunta: “Quem desacreditou, cadê? Não vi, cadê? Tô vivo nessa estrada a uma tonelada; se quiser, tenta a sorte para ver; quero o faz me rir, cadê? Não vi, cadê?”. E eu continuo: Cadê algoritmo? O som dos crias da baixada, cadê? Escondeu por quê? 



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Em novembro de 2018, quatro pessoas se juntaram para tocar um projeto de banda punk, o qual sentiram a necessidade de abordar conceitos e discursos os quais não eram mencionados de forma direta e explícita no cenário. Assim nasce no estado de São Paulo a Punho de Mahin, homenageando a mãe de Luiz Gama e líder da Revolta dos Malês.


Gritando o lema “O Punk Nasceu Preto!”, a banda mostra peso junto a um swing dos tambores de matriz africana, demonstrando o que vieram fazer perante ao cenário de punk rock nacional, sobretudo na cena paulistana. Não é só a música que a Punho do Mahin entrega, ela entrega poesia e história nas suas letras. Composta por Nathália Matos (vocalista), Camila Araújo (guitarrista e vocal), Paulo Tertuliano (baterista) e Du Costa (baixista), o conjunto convida você a refletir sobre os principais nomes dos diáspora africana, assim como das problemáticas que atravessam na trajetória dos povos indígenas.



No ano de 2022, o grupo lança seu primeiro disco: Embate e Ancestralidade. Se me permite dizer, este disco é um soco na cara misturado com um ponteiro de brinde, se der mole. Fundamental entender o peso que o álbum transmite a cada faixa. Destaque para os sons “Xingú”, “Madame Satã”, “Racistas”, “Navios Negreiros”, e “Direitos Violados”.


A decolonialidade é a base da banda, tanto no conceito das composições feitas, quanto na sonoridade. Ao mesmo tempo que se trata de um punk com hardcore contendo d-beat, existem momentos em que são feitos instrumentais de capoeira, por exemplo. Além disso, as letras das faixas “conversam entre si”, mostrando que foi um trabalho bem pensado do início ao fim.



Embate e Ancestralidade prova que o punk não morreu e que se depender da Punho de Mahin, nunca morrerá. 


Punho de Mahin e a ancestralidade preta no meio do punk rock

Então, fica o convite para embarcar nessa revolução em forma de som, e a Revista Menó recomenda ouvir sem moderação. Do contrário, saberemos quem é você na pista; a mensagem que te digo é a seguinte: não passarão!


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Pulo de um texto a outro como um macaco pula entre galhos. Fujo da responsabilidade de ter de concluir um raciocínio por uma espécie de radicalismo teimoso e bobo. Digito como um exercício de abstração. Nada além disso. Ver um texto tomando sua forma é o mesmo que ver cada gota que compõe um copo d’água, da mesma maneira que na junção de cada gota não vemos um copo feito, na sua separação nada vemos além de gotículas. Não há o que ser percebido e me vejo totalmente nauseado quando escrevo para escapar da realidade. Sim, escrever não é um prazer, é mais uma das tantas formas de criar outra realidade, de fugir. Sinto que às vezes eu apago, sumo de mim mesmo; por serem fugas de longa data, eu cansei. É como uma corrida sem rumo. Corro a muito sem direção. O tênis até que é confortável, a paisagem muito bonita, mas não vejo nada além disso: no movimento, um tênis; no horizonte, paisagens. Corro, na verdade, sem motivo, como quem senta no botequim e apenas bebe um copo de cachaça. Não existe um móvito, um movimento aparente. Um movimento involuntário sem nenhum nexo de consciência, sem lastro algum. É como se de repente o lápis adquirisse consciência de que é ostensivamente usado, de que é lápis, que milagrosamente descobrisse um segredo de si, é como se algo nunca antes revelado tomasse forma: “Meu deus, eu escrevo, é pra isso que sirvo, deus obrigado por esta alumiação!”. Um lápis com consciência de seu pensamento. Ah, seria o milagre da santa que chora sangue. Um objeto que tangencia o pensamento, depois a existência e por último o absurdo. Bom mesmo é quando este lápis adquire uma forma inconsciente de si e ele apenas escreve. Ele “apenas” escreve. Não tem consciência, não é consciente, ele apenas vai, segue o fluxo do papel, segue um rito que não possui cadência, mas segue. Eu travo, às vezes teimo em seguir e paro. O lápis, por natureza, não tem consciência da escrita, mas vejo beleza nesse apagar das luzes, ser usado como instrumento, de uma não divina invisível, que segue um elã de loucura. Por vezes, um escritor precisa estar entregue a sei lá o que para deixar ser levado por um fluxo que vem de sei lá onde e vai para um lugar sei lá desconhecido. Escrever é algo lindo, mas é problemático quando se torna objeto de uma consciência chata que o faz pensar ou até mesmo questionar sua existência prévia. Para escrever é preciso um deixar-se levar pelo precipício.




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