Um ano de "O Que Eu Vejo" de Iéti
- Pivete
- 8 de dez. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 9 de dez. de 2024

Dia 9 de dezembro marca o primeiro aniversário de "O Que Eu Vejo", a mixtape que é, por si só, um manifesto. Matheus Iéti, cria do Morro do Chaves, Zona Norte do Rio, nos presenteou com 19 faixas que são um retrato cru da outra face do cartão postal. É música, mas também é memória. É dor, mas também é sorriso. Não tem filtro ou maquiagem: só beats de EricBeatz e histórias que sangram verdade.
De cara, o que Iéti entrega é um trabalho onde o som é vivido, compartilhado e refletido. Cada verso é carregado de quem ele é – um homem negro sem pai, sobrevivente de uma infância marcada pela violência, como o episódio no conselho tutelar aos 12 anos. Mas Iéti não romantiza a falta; ele reconstrói através do storytelling, transformando traumas em arte e resistência.

Os feats? São muitos, mas nada está ali por acaso. Desde as vibes solares de "Sábado de Manhã" com Izy Castelano até a dureza crua de "Anjos (Essa é P/ Vc Primo)", em que o rapper relembra o primo assassinado em meio à guerra entre facções. Tem ainda as baladinhas como "Tudo Por Você (Tipo Pixote)" e o peso de "Eu Não Espero Seu Favor", que traz uma revolta necessária na voz de Nevs.
Mas, como toda obra que sai do underground preto, "O Que Eu Vejo" é mais do que música. É um documento. É uma crônica da vida de muitos – de quem compartilha o mesmo CEP, a mesma cor ou a mesma luta. Ao longo do último ano, esse projeto não envelheceu nem um dia, porque ainda reflete o cotidiano de uma segurança pública falida, de uma população que sobrevive contra o sistema.
Iéti não tem medo de escancarar. Se é pra falar da mídia sensacionalista ou das dores de ser marginalizado, ele faz isso em "Balanço Geral". Se é pra celebrar a cultura preta, ele domina o clima em "Flesh!" com Lessa e Marcão Baixada. E se é pra abrir o peito e deixar o amor entrar, "Uma Noite e Um Vinho Seco" tá aí pra mostrar que a poesia também dança.

Neste 9 de dezembro, celebramos não apenas um ano de uma mixtape. Celebramos a voz de quem não se cala, de quem transforma a periferia em palco e grita contra o silenciamento. Iéti nos lembra que ser marginal é uma construção social, mas que resistir é uma escolha. E ele escolhe resistir – com beats, palavras e alma.
E tem mais: em comemoração ao aniversário, gravamos com Iéti um curta-documentário especial, explorando o olhar dele sobre a vida, a arte e as narrativas que o moldaram.
Perguntamos ao próprio Iéti sobre o que ele está vendo atualmente. O resultado? Um material audiovisual potente, celebrando um ano de "O Que Eu Vejo" com a profundidade e a verdade que só ele poderia trazer.
Assista agora:
Fica aqui o convite: ouça "O Que Eu Vejo" de novo. Ou pela primeira vez. Mas ouça. Porque no meio do caos, a voz de Iéti é um respiro de potência preta.
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