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Editoral: Pelo direito à memória.

Alguns dias atrás, conheci Agnès Varda e suas obras sensíveis, únicas e poderosas, enquanto navegava por uma plataforma de streaming.


Fui confrontado com seu curta documentário lançado em 1968, Panteras Negras. O filme aborda os protestos do Partido Pantera Negra contra a prisão de seu cofundador, acusado de assassinar um policial em 1967.



Ver aquelas pessoas incríveis, com seu empoderamento, valorizando sua identidade racial e lutando por seus direitos, mesmo sendo mais alvo do monopólio da violência legítima do Estado, me fez refletir.



Isso, já na década de 60, me fez pensar em tudo que aconteceu deste lado do globo e não foi registrado.


Nesse mesmo período, corpos negros eram torturados e descartados pela ditadura brasileira em todo o Brasil, principalmente nas grandes metrópoles e seus arredores.



Na Baixada Fluminense, jovens negros eram perseguidos, torturados e exterminados por grupos paramilitares, conhecidos como grupos de extermínio. A violência e a impunidade eram tão grandes que Belford Roxo, naquela época, se tornou um dos lugares mais perigosos do mundo para se viver.


A situação pouco melhorou com o passar dos anos; esses grupos apenas se adaptaram aos novos tempos, mantendo o mesmo poder e impunidade.

Em 2005, ceifaram o futuro de 29 pessoas entre Nova Iguaçu e Queimados, remanescentes dos mesmos grupos de famílias e matadores que ainda controlam esses territórios.


No fundo, são os mesmos, como vemos em Barões ao Extermínio, do professor José Cláudio, da Rural.

Aqui, como lá, houve muita luta e resistência. Grandes movimentos, como a Frente Negra Brasileira, já na década de 30, em 1931, quase cem anos atrás, reuniram quase 50 mil filiados. O objetivo era unir a população negra contra o preconceito de cor, como o racismo era chamado na época.



Segundo o historiador Petrônio Domingues, professor da Universidade Federal de Sergipe, no livro Dicionário da Escravidão e Liberdade, a associação contava com um departamento jurídico que auxiliava os membros em questões de violação de direitos, além de oferecer assistência médica.


O grupo tinha um time de futebol, o Frentenegrino Futebol Clube, um jornal chamado A Voz da Raça, e chegou a formar uma milícia, um grupo paramilitar que nunca entrou em ação, mas servia como demonstração de capacidade de atuação.

Um racha no grupo deu origem à Legião Negra, um batalhão étnico que chegou a reunir 2 mil voluntários durante o levante paulista contra o então presidente Getúlio Vargas em 9 de julho de 1932.



No espectro ideológico, a Frente Negra estava à direita, semelhante ao integralismo. No entanto, nem todos no grupo compartilhavam essa visão; havia negros e negras de múltiplos matizes político-ideológicos, como socialistas, comunistas e monarquistas. Um povo diverso, mas unido na busca de valorizar uma identidade: a negra.


O pouco progresso que temos no nosso dia a dia é resultado de anos de valorização da negritude, buscando direitos iguais e uma identidade. A luta de um povo por uma história que foi negada.



Um direito negado pelo Estado Brasileiro, que tentou apagar nossas histórias de diversas formas, muitas vezes com um viés pseudocientífico, transformando nosso povo em refém do desconhecido, da ignorância e da memória do colonizador.


Isso prejudica a construção de uma identidade empoderada, que reconhece a inteligência e resiliência do nosso povo. Mesmo com diversos mecanismos de exclusão promovidos por esse sistema, perpetuados ao longo dos anos, continuamos resistindo, vivendo, criando e sorrindo.

Sobrevivendo a uma das ferramentas mais racistas na manutenção do capitalismo: o apagamento de nossas memórias, o genocídio cultural que retira nossa herança histórica.



Esse é um dos maiores pesos que carregamos, que nos faz cair no discurso daqueles que querem nos perpetuar como escravizados, que nos subjugam diariamente, nos inferiorizam através de seus padrões e ideais.


É necessário ler, questionar e agir.


Empoderar-se de todos os meios para alcançar a libertação das mãos da branquitude, da elite, do sistema que tritura gente e capitaliza corpos.


É necessário sobreviver.


Ser Menó é se empoderar de uma das primeiras negações que temos durante a construção da nossa identidade: o direito de ter uma infância, de ser criança e ser visto como tal.


Um espaço de valorização de identidade, direito à memória e apoio à resistência.


Uma revista digital progressista, independente e marginal.


É sobre ser Menó.


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