RB99 – Tumulto: funk sujo, drill de guerra e a vida sem filtro no EP mais cru do ano com Preta Lua e beats de ANTCONSTANTINO, Taleko e Chediak
- Pivete

- há 3 dias
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O corre não espera ninguém.
E O EP Tumulto (2025) nasce exatamente disso: do corre que não dá trégua, da vida que bate antes de explicar, da mente que fica cheia antes mesmo do café.RB99 não inventa personagem. Ele só respira e fala.
Logo no papo ele avisa:
“Mano, eu não vou saber te responder de maneira exata, mas eu sou a parada, tá ligado? Minha vida é louca e intensa.”
E tá tudo aí. Não tem elaboração. Tem sobrevivência.
Ele vive trampando,
fazendo bico,
correndo atrás de qualquer coisa que mantenha o corpo de pé.

E quando dá, ele larga o corre e pega o microfone:
“Ora eu tô fazendo um bico aqui, outro corre ali… ora eu tô com o microfone na mão botando pra foder mesmo, falando as verdades.”
A música não nasce no estúdio.
Nasce no estômago.
A cabeça dele é o próprio tumulto
A faixa Tumulto não é estética. É confissão.
Ele falou que fez só olhando em volta, absorvendo o barulho mental que já fazia parte dele desde moleque:
“O tumulto, ele nasce dentro de mim desde quando nasce o Roger… da minha adolescência, da minha vida adulta, do que eu reflito sobre o que eu observo à minha volta.”

E observa o quê? Tudo o que sobra da rua.
Cena de amigo morto.
Menor que se perdeu no crime.
Corpos incendiados.
Tiro na cabeça.
Gente boa que virou pó antes de saber o que era vida.
Ele não romantiza nada:
“Eu já vi criança crescer e virar várias coisas. Vi menor que era pureza pra caralho se iludir no crime, botar fogo em corpo, levar tiro na cabeça e morrer com 17 anos. Não conheceu nem a maioridade.”
E isso não vira metáfora.
Vira faixa.
Vira barulho.
Vira o título do EP.
Funk, drill, putaria, guerra - tudo junto porque a rua é assim
RB99 cresceu ouvindo o que tocava no baile, no bar, no vizinho, no celular do amigo, no carro passando.
E ele lembra:
“Eu sempre escutei muito funk… MTG bolada, cabulosa, putaria braba.” “Eu sou mais funkeiro que tudo. No meu ouvido toca mais funk do que rap e grime.”
A referência dele não é gringa, não é hype.
É baile da Serra, Bar da Lu, Bar do Negão, Novo Arão, Onze.
É funk consciente, proibidão, LC do Martins, WS, Dodô, Romeu.
É esse caldeirão que moldou a cabeça do cara.

Por isso o EP puxa tudo: funk, drill, grime, miami bass - não por escolha estética, mas porque é o que sobrou dentro dele.
E ele mesmo explica o porquê da agressividade:
“Nós sabemos que o drill é um bagulho pra chocar. A atmosfera é pra lembrar de assassinato, arrancando pedaço mesmo.”
Mamacita - o único respiro possível
Ele explica no release que queria uma música “pra dançar”,
mas sem ilusão de romantismo.
É aquele pequeno intervalo onde a quebrada respira antes de afundar de novo:
“Minha juventude foi em baile de rua. Eu queria trazer essa energia.”
A maldade do mundo dá um tempo enquanto o corpo encosta em outro corpo.
Depois volta tudo.
Racista Baleado - sem metaforinha, sem truque linguístico
Quando ele fala de porco, ele faz questão de deixar explícito:
“Porco é porco guardado. Porco engravatado. Político, polícia… tudo isso tem cor e fogo mesmo. Fogo e bala.”
Então quando chega Racista Baleado, não é provocação da internet.
É acerto de contas com quem mata preto todo dia
É ódio sem filtro, porque o filtro nunca existiu pra ele.
A participação de Preta Lua só aumenta a ferida.
DONDONDON - a rua que não para por ninguém
Ele mesmo define:
“Trago a visão de um cria do mundo em um funk de bairro.”
A última faixa é exatamente isso: rua pulsando, rindo, correndo, brigando, sobrevivendo.
É aquele caos que não precisa de explicação porque já é autoexplicativo.
Vida, arte e corre no mesmo corpo
Ele repete várias vezes, em vários trechos da entrevista, quase como quem esquece que já falou:
“Eu nunca enterrei parte nenhuma da minha vida pra fazer o corre artístico.” “O meu corre artístico e minha vida é uma coisa só.”
E dá pra entender:
Ele não separa artista de trabalhador.
Ele só muda o objeto que segura na mão: às vezes é caixa de som, às vezes é sacola de mercado, às vezes é guidão de moto, às vezes é microfone.

E quando perguntam se falta algo na música, ele surpreende dizendo:
“Falta eu falar da minha mãe. Eles sempre foram muito fodas. Eu gosto de ser reservado, mas eu amo eles.”
No meio de bala, baile, ódio e sobrevivência, tem afeto escondido.
Tumulto não é obra. É acúmulo.
RB99 não quer inspirar.
Não quer educar.
Não quer apontar caminho.
Não quer soar esperto.
Ele quer tirar o peso do peito antes que o peito feche de vez.
Tumulto é isso:o barulho que sobra quando a vida te espreme até o limite.
É feio.
É duro.
É urgente.
É verdadeiro.
E ele sabe disso:
“Se minha arte fizer alguém sentir qualquer coisa, já tá ótimo. Porque é descarrego. É cantar com extrema revolta mesmo.”
A produção de Tumulto é tão bruta quanto o próprio RB99.
O EP foi construído por gente da rua, da Leigo, da Baixada: ANTCONSTANTINO, Taleko, Chediak e HRKN. Nada ali é polido demais - é tudo batida feita na correria, com a mesma pressa e sujeira do cotidiano do artista.
RB99 chega com a ideia crua e os parceiros lapidam no limite, sem tirar a essência.
“Eu levo a parada meio bruta… a rapaziada chega pra lapidar.”

A única participação é a mais pesada possível: Preta Lua em Racista Baleado. Não é feat pra banner, é afinidade de mundo. Ela entra como faca - engrossa o ódio, atiça o beat e transforma a faixa num ritual de acerto de contas.
Cada track tem um porquê. Mamacita ganha movimento com Taleko, Racista Baleado usa Carmina Burana pra soar guerra, e DONDONDON vem com textura de viela, graças ao trio HRKN + Chediak + ANTCONSTANTINO.
Até a capa - cabeça de porco em chamas - é direta:
protesto explícito contra sistema, policial e político.
Não tem estética, tem TUMULTO.
Ficha Técnica:
Produção Musical por ANTCONSTANTINO & Taleko
Pós-produção vocal por Taleko
Mixagem e Masterização por NMS. Instrumentais por Chediak, Balahype, ANTCONSTANTINO, Enigma, Taleko & HRKN
Cenografia da Capa por Amanda Machado
Fotografia e Design da capa por Bruno Queiroz
Assistencia de fotografia por Wander Scheeffer
Produção Executiva por Diogo Queiroz








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