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O Fim do Nômade: lançamento, show e legado da trilogia de NATÖ

  • Foto do escritor: Pivete
    Pivete
  • há 4 dias
  • 6 min de leitura
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I. O último passo do Nômade

por Pivete


Há artistas que fazem música. 

E há os que fazem memória.

 Natö é um desses.


Desde a primeira vez que escrevi sobre seu trabalho, lá em 2022, já dava pra sentir que o “Nômade” seria mais do que um disco. Era um projeto de vida, um início de caminhada, um espelho do que é existir entre o corre e o sonho. Três anos depois, o ciclo se fecha com o “Nômade, Pt.3 ” – e o que fica é as pegadas de toda essa correria.


Quando  Natö me contou que o "Nômade" era pra ser apenas um disco, eu entendi o tamanho do desvio que a vida provoca. 


“Comecei a fazer as guias em 2016. Queria um albúm com dez faixas e não tava conseguindo fazer nenhuma”, ele lembrou. Lembrança de quem sobreviveu às pausas, às travas e à falta de estrutura, e transformou isso em três álbuns que transcendem o tempo. 

O “Nômade” não nasceu de um estúdio com ar-condicionado na Zona Sul. Nasceu no calor da Baixada, entre trens, salas de aula e madrugadas de trabalho. É uma trilogia feita de realidades – das dificuldades de um artista independente, da rotina de um professor, das contradições de quem cria no limite.


Mas o que torna o "Nômade" tão poderoso é que ele não se resigna.  Natö não faz música pra reclamar da vida, faz para (re)existir dentro dela.


“O "Nômade" é sobre estar em movimento. Sobre a busca constante. É o trânsito entre o que a gente vive e o que a gente sonha.”

E talvez por isso o “Nômade, Pt.3” soe como um fim de ciclo. É o fechamento de um tempo e o início de outro. Se no primeiro EP havia a urgência do começo, e no segundo a resistência da caminhada, o terceiro traz a serenidade de quem entende o próprio ritmo.


Não é o som de quem chega. 

É o som de quem continua.


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O “Nômade” amadureceu junto com  Natö. O menino que começou a compor aos 16 anos virou um artista que olha pra trás sem culpa do tempo que demorou. Ele sabe que o intervalo também é criação. E é por isso que o “Nômade, Pt.3”  tem essa textura de conclusão: olhar para trás e ver todos os caminhos que já passou.


Há algo de ritual em fechar uma trilogia.  Natö sabe disso. A cada faixa, há um aceno ao passado, mas também uma abertura pro que vem. É o tipo de fim que não pesa – repousa.


“O "Nômade" me ensinou a respeitar o tempo. Aprendi que a arte acontece quando a vida deixa”, ele disse.

O "Nômade", Pt.3 é, no fundo, sobre permanência. 

Sobre a coragem de existir num país que não valoriza a arte, 

e ainda assim continuar produzindo 

com beleza, 

com verdade, 

com fé.


É o reflexo de uma geração que aprendeu a criar no improviso e fazer do pouco um tudo.


O último passo do “Nômade” não é um ponto final.

É um retorno ao ponto de partida – só que com mais luz.


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II. O tempo das coisas


Ninguém nasce pronto. Nem o som. Nem o artista.

O "Nômade" é a prova viva disso – uma trilogia que se fez aos poucos, entre falhas, esperas e recomeços.


 Natö começou a compor com 16 anos, cheio de urgência e sem estrutura. Queria gravar, mas a vida vinha primeiro. “Comecei as guias em 2016. Eu queria fazer um disco de dez músicas e não conseguia fazer nenhuma”, ele me contou, sempre de olho nas pegadas dessa longa caminhada.

Esse início diz muito sobre o que é o “Nômade”: um projeto que nunca se apressou pra existir, que entendeu o tempo como parte da criação.


O primeiro “Nômade” nasceu com o fogo de quem descobre o próprio talento. Era voraz, direto, cheio de vida.


Mas o tempo passou – e o segundo trouxe o peso do cotidiano. O som amadureceu. O discurso também.  Natö virou professor, mergulhou em novas leituras, viveu outras dores. A trilogia cresceu com ele, e é justamente isso que a torna tão real.


“Eu comecei o Nômade com 16 e agora tenho mais de dez anos de caminhada. Hoje eu entendo o que eu quis dizer lá atrás.”

Essa frase poderia ser um verso. Porque ela carrega o que existe de mais bonito no processo artístico: a memória.


Entre um EP e outro, o  Natö descobriu que a arte é um corpo em movimento. Que criar é um ato de sobrevivência, mas também de escuta. Que a pressa cobra caro e o tempo devolve o que é sincero.


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Ele aprendeu a aceitar as pausas, os dias em que nada sai, os meses em que a vida engole o desejo.


 “O processo é atravessado pela vida. Às vezes eu quero criar, mas tô cansado. Outras vezes não quero, e vem. Eu aprendi a respeitar isso.”

A trilogia toda é sobre esse respeito – com o tempo, com o próprio corpo, com a jornada.

O “Nômade” se fez em movimento, mas não como quem foge, e sim como quem procura. É o retrato de um artista que, entre o corre e o cansaço, constrói um pensamento.


O “Nômade” amadureceu sem perder a rua, e  Natö amadureceu sem perder o sonho.

Hoje, dá pra ouvir nas batidas e nas letras o reflexo desse tempo: a consciência que vem do trabalho, o olhar de quem ensina e aprende ao mesmo tempo, o tom sereno de quem entende que viver é tão parte da arte quanto compor.


A trilogia é também sobre persistência. Sobre os anos em que a arte foi feita de madrugada, depois do expediente, com o corpo cansado e o espírito em brasa. Sobre o artista que seguiu mesmo sem saber se alguém estava ouvindo.


O tempo ensinou  Natö a transformar a ausência em estética.

As pausas entre um disco e outro deixaram marcas que hoje soam como ritmo.

E é assim que o “Nômade, Pt.3” chega: não como fim, mas como maturidade.


O  Natö que lança o último capítulo é o mesmo de 2016.Ele entendeu o tempo das coisas. 


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III. Sete dias até o sol nascer


O Nômade, Pt.3 chegou.Já não é promessa, nem ansiedade de pré-lançamento. É realidade: o álbum tá no ar, circulando, entrando nos fones, atravessando a madrugada de quem viveu essa trilha junto com  Natö.


O show, esse sim, ainda tá chegando – dia 21.Uma semana depois.Sete dias de diferença – sete anos de travessia.


Pra quem acompanha  Natö desde o primeiro disco, esse intervalo não é comum. Ele tem a densidade de um ciclo que se encerra com cuidado, com entendimento, com fé. O fim da trilogia não tem gosto de fim, tem gosto de devolução.


“O show não é uma despedida, é um agradecimento”, ele me disse. “É onde eu posso olhar pra trás e entender o que vivi. O Nômade me fez enxergar o tempo de outro jeito – não mais como cobrança, mas como parte do som.”

E agora, com o terceiro capítulo no mundo, essa frase faz ainda mais sentido.O Nômade nunca foi sobre pressa ou chegada. Sempre foi sobre o caminho: sobre andar mesmo sem saber direito pra onde, sobre criar sem estrutura, com fé, com os pés fincados na Baixada e o olhar no horizonte.


O Nômade 3 confirma isso.É leve onde antes era urgência. É profundo onde antes era resistência.


É  Natö mais ciente da própria voz, do próprio tempo, do próprio ritmo.


“É sobre continuar mesmo quando nada parece andar. O fim dessa trilogia é só mais um movimento”, ele me disse.

E é exatamente isso que o álbum mostra: um artista amadurecido, entendendo que o tempo faz parte da obra.


Mas o capítulo final da trilogia não termina no streaming.

Ele termina no corpo.

E isso acontece no Teatro Firjan SESI Caxias, no dia 21,

quando O Fim do Nômade subir ao palco.

O show é rito, museu, memória.


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Logo na entrada, o público vai atravessar o “Museu do Nômade”, uma instalação que expõe a caminhada de 2020 a 2025: músicas, fotos, vídeos, prêmios, recortes de imprensa, personagens de Duque de Caxias e da Baixada – tudo que sustentou o chão onde esse disco pisa.

Antes do palco, vem a rua: o hall vira baile com o Armazém Bota Som, guiado por Leandro 100% Vinil, um dos nomes que seguraram a tradição da Soul+Caxias. É a Baixada entrando no teatro pela porta da frente.


E quando as luzes apagarem,  Natö e banda assumem o centro.Uma comunhão de tempo e território. Clá Gouveia nos vocais, Gods na guitarra, Fijó no teclado, Tuco no sax, R. Nave no toca-discos. E convidados como Felipe Vaz, Movimento da Roda, Rojão, Jxão e Prado – nomes da Baixada que fazem do show um encontro de gerações e afetos.


“O palco é onde tudo se encontra”, ele me contou. “É onde o pessoal, o político e o poético se abraçam. Onde eu posso devolver o que o tempo me deu.”

Devolver.

Essa palavra é o coração da trilogia.



O Nômade devolve tempo, fé e chão.

Devolve história pra quem viveu junto, pra quem ouviu lá atrás, pra quem viu o corre virar obra.

O show do dia 21 é o fechamento e o recomeço –

o ponto onde o tempo se dobra e o sol nasce de novo.


Natö não teme o fim porque entende que o fim também é caminho.

Por isso diz: “Não tem fim, pivete. Tem movimento.”


No dia 21, o sol vai nascer diferente –e o Nômade vai descansar um pouco, sabendo que cumpriu seu destino: atravessar.



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