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No caos da Baixada Fluminense surge mais uma estrela brilhante e barulhenta no céu

Atualizado: 5 de jan. de 2022

Por Iago Menezes, vulgo Pivete


Capa do Album do Rojão Art Visualbypivete

Rojão e sua linda celebração explosiva através do EP 5X1

Eu conheci o Rojão em Niterói, na Cantareira, em 2019, quando ele começou a namorar uma amiga minha. Nós estávamos bebendo, é óbvio, pois estávamos na Cantareira e rapidamente fizemos amizade. Caxiense, flamenguista, preto e que gosta de Rap, não tinha como não dar “match”. O tempo passa e estamos aqui falando do EP desse flamenguista que deixa bem escuro (pra não dizer deixar claro) o time que torce estampado na capa do seu EP de estreia.

Sobre o Rogger eu sei que nasceu em Duque de Caxias na Baixada Fluminense, que ele tem 24 anos e estuda Ciências Sociais na Rural (UFRRJ), em Seropédica. É operador de áudio, produtor musical e é conhecido pelo vulgo ROJÃO.

O Rojão é uma explosão sonora desde seu primeiro single “Baixada Cruel” que é uma mistura de Grime e Funk, numa miscelânea caótica que personifica a aura da baixada fluminense. Baixada essa que tem violência, porém também tem cultura, educação, poder, glória e, o principal, tem história. Algo que a sucessão de governantes corruptos e desprezíveis não vão conseguir apagar jamais. A “Baixada Cruel” de Rojão produzida por Buzu é um grito, porém também é um tour pelas cidades que compõem a Baixada Fluminense. Preenche nosso imaginário com personagens, situações e referências de um lugar que não é muito falado e nem muito ouvido.

Neste ano de 2020, ele decidiu soltar um EP, que particularmente é um formato que eu gosto muito. Para quem não sabe a sigla EP vem do inglês “Extended play” e é usada para determinar algo que não é pequeno suficiente para ser um single e nem grande o suficiente para ser um álbum. Deu para entender? Um EP em média tem 2-5 faixas em comparação um álbum tem 12 faixas em média. O do Rojão tem cinco faixas: Zumbi, Baixada Cruel, De Caxias até Seropa, Censura e Bandida. Todas produzidas por Buzu na Margot Studios exceto Zumbi, a primeira faixa do EP, que é um instrumental produzido pelo próprio Rojão que também é produtor musical.

O EP 5X1 vem carregado de Grime e Funk, ritmos que são mesclados para servir de alicerce para letras que falam desde a revolta com uma polícia violenta e despreparada que ceifa nossa juventude negra. Nas faixas “Censura” e “Bandida”, que mordem, arranham, nos fazem relembrar os tempos de Furacão 2000 mesmo não sendo um funk miami bass.

Também tem “Zumbi” que é a primeira faixa do EP e um grito de liberdade que clama por Palmares e Zumbi na voz de Abdias do Nascimento. “Censura” que vem também em uma pegada política retratando os anos de descasos do povo fluminense com os desgovernos e desmandos de uma corja política que só o Rio de Janeiro tem. E “Caxias Até Seropa” uma celebração a esses dois lugares que fazem parte da trajetória e vivência do Rojão que tem a participação do Radar. O EP 5X1 do Rojão já está disponível no Spotify, Youtube, Amazon Music, Tidal e Deezer.

Entrevistei o músico e produtor Rogger, vulgo Rojão, para saber um pouco mais da sua trajetória e da construção do seu EP de estreia:

Rojão em Show

ROJÃO?

Rojão* foi um apelido que surgiu no ensino médio, umas garotas que sempre gastavam onda na aula comigo, um dia uma dessas garotas durante a aula, chegou e disse: “A lá é o Rojão”! Eu nunca tinha recebido um apelido que usasse uma derivação do meu nome, achei foda e fui me apresentando em todo lugar usando esse nome. O bom foi que eu gostei do apelido e ele ainda se tornou um nome artístico.

TRAJETÓRIA?

Eu sempre fui ligado ao HIP HOP de várias formas, eu fui BBOY* e por muitos anos eu fiquei afastado. Já com o apelido consolidado na UFRRJ*, na faculdade, eu me deparei com uma roda que estava acontecendo, acho que era um Projeto de Extensão. Não era uma batalha de rap e sim uma roda que você chegava e rimava. A gente ia aprendendo e ensinando como fazer uma rima 4x4* e etc. Era uma grande união que foi meu ponto de partida para me transformar em um MC.

DE CAXIAS ATÉ SEROPA*?

Durante essa trajetória pude conhecer uma gama de pessoas de um município distante da Baixada Fluminense, que é Seropédica, conheci também o Radar que felizmente está comigo na faixa “DE CAXIAS ATÉ SEROPA” do meu EP 5X1.

BAIXADA FLUMINENSE?

Eu gosto de pensar que meu lugar é sempre na Baixada Fluminense*, lugares onde eu sou bem vindo, bem tratado. Não só na Baixada, mas no subúrbio no geral, zona oeste, zona norte. Sempre são lugares que me sinto representado, pois sempre tem pessoas com realidades parecidas com as minhas. Caxias e Seropédica são lugares que eu mais tenho conexões, pois são lugares onde morei.

E O SOM?

É Rojão, explosivos sonoros, trabalhar o caos das coisas, batidas meio niilistas ou meio melancólicas, mas te coloca para dançar. Porém, sempre falando de coisas fortes, pois é o que a gente vive, o que a gente percebe e o que a gente vê. Vamos sempre falar sobre essas paradas, pois é a nossa realidade.

E O BUZU?

Ele foi o cara que chegou assim para mim: E aí mano, vamos produzir um EP? Ai eu “caralhoooooo”, caralho vamo que vamo mano. Aí eu desembolsei uma verba e fomos A questão principal nem é a verba, porque em comparação financeiramente eu gastei pouco, mas todo o processo de construção do EP 5X1. Eu fiquei um ano inteiro trabalhando com o BUZU na Margot Studios, tiveram letras que demoraram muito para ficar prontas. A gente já tinha os beats tudo pronto, foi o que construímos primeiro, a linha melódica para dar uma ideia de ritmo. E depois fomos para a letra e eu fiquei me questionando o que falar e o que fazer. Aí o Radar foi essencial, pois o refrão de “Caxias Até Seropa” foi um refrão que ele pensou e eu adaptei. Devo 50% da música para ele.

Rojão e Radar em Show em Caxias

RADAR?

Eu o conheci em Seropédica que felizmente está no trabalho comigo. A gente fez tudo a distância, nós já nos conhecíamos, mas não estávamos nos encontrando por causa da pandemia. Ele mora em Seropédica e eu moro em Caxias. E ele tinha que vir a Caxias para gravar o som “De Caxias até Seropa”, mas ele estava sem celular. Ele me mandou uma mensagem antes de sair de casa e eu calculei o tempo que demorava para ele chegar no ponto de ônibus que desceria. Quando eu cheguei no ponto, ele estava saindo do ônibus. Só tínhamos esse dia para gravar. Foi tranquilo, pois Buzu é uma pessoa que te deixa totalmente à vontade para trabalhar. Um profissional incrível, uma pessoa excepcional e se preocupa de fato com o artista que está trabalhando. Foi muito fácil trabalhar com ele.

GRIME?

Eu já estava começando a me interessar bastante pelo Grime e pelo Drill, quando comecei o projeto do EP, mas eu não sabia nada sobre. Eu só escutava, mas não tinha noção. A partir daí comecei a gostar da sonoridade e decidi fazer algo parecido, mas com minha cara. Comecei a estudar e soltei o single “Baixada Cruel”, que me possibilitou ter acesso a um feedback e ir atrás da parada. Escutei bastante para entender esse universo que é novo, principalmente aqui no Brasil, que no ano passado ainda não estava tão popularizado. Anti Constantino foi uma das primeiras figuras que eu vi falando sobre Grime aqui no Brasil e ele é meu conterrâneo.

FUNK?

O Funk foi onde eu comecei a ter interesse por música eletrônica quando eu era molequinho e eu não fazia ideia... Tinha um caderno de quando eu era criança que perguntava o que eu queria ser quando crescer e eu respondia dizendo: “Eu quero ser Funkeiro”. Sempre foi uma parada que eu gostava muito, eu sempre gostei muito de funk. Depois com o tempo o HIP HOP foi me abraçando e eu fui descobrindo novos caminhos com o HIP HOP, FUNK E MÚSICA ELETRÔNICA. Eu acho interessante mesclar as coisas, diversificar.

EP 5X1?

Eu resumiria como um Rojão explodindo no céu, fazendo barulho para caralh@ e brilhando. E o povo olhando para o céu não vai apreciar só pelo barulho, mas porque achou bonito.


Revista Menó, nº. 3/2021 (out/nov/dez).

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