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Matchola: "Ok Tchola" (2024)

  • Foto do escritor: Pivete
    Pivete
  • 11 de mar.
  • 4 min de leitura


Antes de começar, quero falar sobre essa minha necessidade de escrever sobre certos trabalhos que me atravessam.


Letras, instrumentais, conceitos, estéticas... Nem me prendo necessariamente a isso.

Para quem chegou agora, a Resenha do Pivete é realmente uma resenha — mas não no sentido clássico, como um texto que apenas analisa e descreve uma obra.


É mais na pegada de uma resenha de rua, como no Arrocha de J Eskine ou na Resenha A Firma é Forte — MCs Frank, Tonzão, Juninho da Dez, Tikão e Buret sabem bem do que estou falando.


Quando escrevo sobre um álbum, sobre artistas que me surpreendem e me cativam, não é só porque gosto do som.


Muitos deles vêm de contextos que conheço de perto. Nossas experiências, mesmo individuais e diferentes, são coletivas.

E isso é algo que sempre busco ressaltar nas linhas. Não quero só dissecar beats, métricas ou referências. Me pego refletindo sobre muita coisa além do convencional. Não é só como o artista fez, mas o que ele tentou dizer — ou melhor, o que eu consegui interpretar.


E assim eu começo. Com pouca informação sobre o artista Matchola — até mandei mensagem para ele no Instagram — mas sem conseguir segurar a ansiedade de escrever sobre seu quarto álbum: Ok Tchola (2024).


Um disco com 14 faixas de pura diversidade, que vai longe. Dialoga com ritmos distintos, gêneros variados, atravessa caminhos sonoros que só reforçam seu caráter inventivo, criativo e livre. Ele é rapper, cantor, produtor musical. Baiano. Criado e moldado por essa terra.



Na bio do Spotify, ele já dá o papo: sua música é um caldeirão de gêneros misturados ao rap, tudo produzido por ele mesmo. Seu estilo principal? RAP ALTERNATIVO.


No corre, lançou quatro álbuns e ainda uma versão DELUXE do último projeto, Ok Tchola.

É agora, vamos nessa?


Não vou seguir uma ordem aqui, nem falar um pouco de cada som que tive a honra de proporcionar aos meus ouvidos, mas sim falar sobre a obra em si.


Tanto que vou começar pelo fim. Tanto Faz é, para mim, o conceito do álbum condensado em uma faixa: um grande "tanto faz" para a sociedade, para críticas, egos, gostos, gestos, comportamentos, indústria e todas essas coisas que deveriam ser secundárias.



Para mim, a arte deveria ser protagonista, principalmente quando o cerne da discussão é ela mesma.

Se em Eletrolove!, nosso rapper alternativo puxa um Miami bass para falar de um amor meio "tanto faz, tanto fez" — quem falou que eu quero que você me ame? Sei que mexeu com minha cabeça, mas meio, tipo, nem tanto assim — talvez o álbum inteiro seja um espaço de desapego em si.


Mas não um desapego apenas amoroso, e sim um desapego das regras e padrões que temos que seguir nessa vida sem sentido.


Dos sentidos que consideramos importantes versus aqueles que, mesmo tentando, não conseguimos colocar no nosso hall de prioridades.


Menti. Talvez eu siga uma ordem sim. Pelo menos por enquanto. Porque olha essa sequência, olha esse instrumental, olha as ideias do mano. Falei Nada é um desabafo? Um relato? Uma crítica?


Sei lá. Mas o compromisso de não gostar, de questionar e repensar a forma imediata com que vemos a vida me pega com gosto.


Olha como a gente se pega em contradição no processo de escrita. Faço questão de deixar essa contradição aqui no texto final. Eu vou ter que seguir essa ordem.


Equalité é uma crítica bem-humorada a esses princípios que parecem ter ficado lá na Revolução Francesa. Ou eu estou me enviesando no meu papel de professor de história? Como essa ideia de igualdade, fraternidade e liberdade se perdeu em um mundo onde a benevolência virou atalho para receber mais likes e compartilhamentos?



Vou dar uns pulos, avançar um pouco e chegar em Perdóname. Viu? Sem ordem.


Um desabafo de raça, classe e outras cositas más que atravessam nosso amigo Marchola.

Todo o álbum é nessa pegada: um pouco de tanto faz, mas um outro tanto político, questionador e romântico.



Você quer o meu contato é meio que nesse pique: romântico, mas sem perder a criatividade e o humor característico do artista. Um som que dialoga muito com o meu momento, entre amores, dureza e consciência de classe.


"Te deixei no vácuo, me desculpa, chapei Não quero ser chato e você também Às vezes não tenho empatia a ninguém"


Tudo dialoga muito sobre o desejo de ter uma subjetividade que possa existir sem ser enquadrada ou reduzida por normas sociais.


Muitos dos textos de Entre Máscaras e Desejos: Ensaios Sobre Solidão, Afeto e Identidade são fruto de reflexões que tive a partir do trabalho de Marchola.



E isso é lindo, rico e complexo.


Esse álbum consegue exprimir tanta coisa que é necessário sair do raso e mergulhar.

Suco de Frutas Jones, Quente são caminhos para além dos estereótipos impostos. Sons que mostram que Marchola precisa ser enquadrado no alternativo porque o padrão não dá conta de sua arte, de sua potência e de como ele pode surpreender até o chato de maior repertório.



Mesmo sem querer, tô terminando.

Mesmo buscando não ser redundante, mesmo tentando não encher linguiça. Mas a escrita flui que é uma maravilha, ainda mais ao som de Perverso.



Olha o calibre desse som: porrada no instrumental, nas letras, nas participações.


Outro desabafo, outra crítica, a separação entre nós e eles.

Mas não preciso tomar uma posição explícita. Me finjo de desentendido e deixo eles se fuderem por conta própria. Perverso.



Com participações de Caio Bud, Tazin, Praia de Minas, KiD The Correria e Zilladxg, esse incrível álbum se encaminha para o fim com sua penúltima música Truman!.


Nessa constante sensação de estar sendo vigiado e coagido, somos forçados a atuar nesse teatro social, onde temos que adotar certas atitudes para não perder o papel que nos deram e sermos colocados na geladeira.



A música encapsula essa paranoia moderna, essa inquietação de saber que estamos sempre sendo observados, julgados e, muitas vezes, controlados.


E no fim, é tanto faz.


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