Felipe Chehuan: Entre Sons e Lutas
- Pedro Santos

- 28 de mar.
- 7 min de leitura

Metal e hardcore na Baixada é com ele mesmo. Pedro Santos entrevista o vocalista das bandas Norte Cartel e Marabô, e proprietário do Gato Negro.
Quando comecei a ouvir rock e metal, além de seus derivados, sempre fiz questão de fugir um pouco das referências mais óbvias do mainstream, e conhecia bandas mais relacionadas à cena local. E nessa jornada descobri a Confronto através do clipe da música “Santuário Das Almas”.
Esse clipe hitou na época, passando em diversos programas de videoclipe da época, e ali vi que estava na direção certa, pois ouvir um som pesado e pouco conhecido era a minha praia durante a adolescência.
Isso com certeza me influenciou a frequentar shows underground, o que me fez conhecer muitas pessoas que estavam nessa mesma vontade de ouvir o que procuravam por si só também.
Eu percebi que uma comunidade se mantém viva até hoje. O irônico é que tive o prazer de entrevistar uma dessas figuras do cenário que é tão importante para a cultura, sobretudo, da Baixada Fluminense.

Um dos cabeças da Norte Cartel, que está na pista há duas décadas, e do seu projeto mais recente, a Marabô, Felipe Chehuan aceitou trocar ideia com a gente um pouco sobre sua trajetória e a respeito do seu estabelecimento, o pub Gato Negro.
Agora ele começou a escrever seus raps lançando o single “Kemet”, o qual contém sua identidade marcante por trás de suas linhas. Vocês não entenderam errado: estou entrevistando um dos meus heróis dos tempos de jovem. Difícil resumir em palavras o que ele representa para a região metropolitana, até porque, de certa forma, sou fã dele.
E, por outro lado, fiquei com a responsa de extrair o melhor dele nesse “Acorda Pedrinho” de hoje.

Satisfação recebê-lo aqui na Menó. Queria saber como chegou na ideia fazer o Gato Negro, e qual a origem do nome.
[Chehuan]: Fala, Pedro, beleza? Galera da Menó, um grande abraço. Satisfação enorme estar participando dessas perguntas aqui e tô muito feliz de estar podendo contribuir com a cena da Baixada em especial, que é o meu lugar de origem. Então, vamos lá. A ideia de fazer o Gato Negro surgiu em meados dos anos 2000, quando eu tive com a minha outra banda, a Confronto, na Europa, e por lá a gente fez várias turnês, mais de 200 shows fora do Brasil, e tive a oportunidade de conhecer mais de 20 países e na maioria desses shows foram feitos em pubs na Europa, e isso me mostrou uma ideia muito legal a respeito desse tipo de ambiente, que é um ambiente fechado, pequeno, onde ao mesmo tempo, pode existir a propagação de cultura, de música, de teatro, de atividades culturais no geral. E eu presenciei isso de uma maneira muito intensa em outros países, e desde então eu fui fomentando essa vontade de um dia ter algo parecido no meu território, no lugar onde eu nasci, de trazer e contribuir com a cultura local do lugar onde eu cresci. Então, o Gato Negro veio dessa experiência que tive fora do país, tanto que fomos um dos primeiros, se eu não me engano, o primeiro “pub” da Baixada e já se passaram dez anos. E a origem do nome foi que no início eu tinha uma sócia, que era minha prima que só ficou durante um ano infelizmente, e nós chegamos à conclusão de que o nome “Gato Negro” seria algo muito legal, até por falar de resistência, por falar da noite, é um animal noturno né, que é às vezes endemonizado por muitos pela cor da pele, pela sua cor, e a gente meio que vê quebrando tudo isso de uma maneira positiva. E é isso.
Sabemos a correria que é fazer uma casa de show, ainda mais um pub. Qual é a maior que você pode falar pra nós?
[Chehuan]: Realmente é muito complicado você manter qualquer ambiente comercial onde você lida com pessoas, não é fácil. Qualquer tipo de ambiente comercial já é difícil, ainda mais aquele que você lida com pessoas e existe bebida alcoólica envolvida, né? Tem gente que acha que é muito fácil, que a gente chega lá; acha que tá tudo limpo; que tá tudo organizado; que tá tudo em dia; tudo reposto, mas não é bem assim. A gente tem que acordar cedo, tem que limpar todos os dias; tem que repor todas as mercadorias, tudo que tá faltando; deixar tudo em ordem pra proporcionar pra galera um ambiente agradável, climatizado; do jeito que a gente se propôs a fazer, bem conchegante. O objetivo do Gato é que as pessoas se sintam em casa, né? Essa concepção mesmo de public house, né? E é justamente isso que a gente se propôs a fazer, um ambiente onde as pessoas se sintam à vontade, possam chegar a se sentirem seguras, confortáveis, felizes e possam sair de lá querendo voltar. Agora, é muito difícil, mas não estou aqui reclamando não, foi uma boa escolha e para todas as escolhas existem coisas boas e coisas ruins, né? Tudo tem um preço.
Agora falando de música. Vi que você tá no corre com Norte Cartel e a Marabô. Qual a diferença de uma banda pra outra, na sua opinião? Como você se mantém fazendo hardcore nos dias de hoje?
[Chehuan]: Eu hoje, neste momento, estou envolvido com o Norte Cartel e a banda Marabô no meio hardcore, né? Eu faço música desde os meus 15 anos. Esse ano de 2025, eu tô completando 30 anos fazendo música, tendo banda, envolvido com na cena punk hardcore, metal, já tive diversas bandas. O Norte Cartel tá fazendo 20 anos ano que vem, de formação, de atividade né... Já tiveram várias formações, e hoje a gente está com três músicas novas lançadas nas plataformas digitais após lançamento de dois discos e um split com uma banda da Argentina. Nós voltamos a gravar e o feedback tá sendo muito bom, a gente tá muito feliz. O Norte Cartel é uma banda que eu tenho com grandes amigos, que a gente se dá muito bem, e é só alegria. Eu só tenho a agradecer a tudo que a gente já viveu até aqui, tudo que a gente já tá propondo pra viver futuramente. O Marabô é um projeto que veio há mais ou menos uns dois anos, que tem essa temática metal hardcore com lance mais espiritual de matriz africana. Essa mistura que nós estamos colocando dentro do metal, do hardcore, que são os toques dos atabaques com peso das guitarras e a mensagem positiva, né. E tá indo muito bem. A banda é composta por dois membros do Rio e dois caras de São Paulo, e esse ano de 2025, provavelmente a gente vai fazer nossa estreia nos palcos. Até então, nós temos três lançamentos também na internet, mas nunca tocamos. Foi tudo feito à distância e esse ano promete aí. Acho que é isso.

Recentemente, você lançou “Kemet”, que é um single de rap bem pensado na questão negra e do conhecimento originário de todas as ciências que temos neste mundo. O que te fez gravar um projeto novo? Comenta pra gente se vai ter mais desse tipo de trabalho.
[Chehuan]: Eu sempre quis fazer, eu sempre fui um grande admirador de rap, né? Desde, desde quando eu conheci o Racionais, em 1993. Eu tinha treze anos, e eu sempre fui muito admirador do hip-hop, principalmente a velha escola, né, que foi a que peguei, aí acho que a segunda geração; primeira, segunda geração, eu vi nascer assim. Então, eu sempre tive vontade de um dia fazer som, projeto solo que abrangesse a História, né, que falasse pouco das origens da humanidade. E o meu projeto pessoal, principalmente com single, foi dar início a uma série de músicas que eu quero lançar abrangendo todos esses temas históricos de uma forma meio agressiva no vocal e, ao mesmo tempo, com a mensagem passada. Então 'tá sendo desafiador pra mim como tudo que eu faço na minha vida. Tudo que fiz foi desafiador, nunca foi fácil nada, mas eu tô curtindo, sabe? As pessoas estão apoiando, os amigos estão apoiando e o feedback tá sendo muito bom, isso está me encorajando a continuar. Então, eu estou muito contente, muito feliz e proposto a somar, somente somar com toda essa galera aí que tem feito a grande diferença dentro dessa música nova, que está tomando conta da nossa cena né, dessa galera ativa, compondo e produzindo e não esperando o telefone tocar, mas metendo a mão e fazendo de maneira simples e básica, porém sincera tudo aquilo que eles acreditam.
Outra coisa sobre essa linha do rap que quero saber é a respeito das influências. Diz pra nós quais vão estar presentes nesse projeto.
[Chehuan]: As influências que eu tenho partem da galera que criou assim no Brasil, tipo, Racionais; Thaíde; depois veio SNJ; GOG; MV Bill; RZO; Sabotage óbvio, essa galera aí que cresci ouvindo. E lá de fora também, eu sempre curti House Of Pain; Dr. DRE; Cypress Hill, essa galera toda aí; Notorious B.I.G., Tupac e esses grandes nomes. Dessa galera nova eu respeito muito o Djonga, sou muito fã. Nova não, né, mais recente, digo assim. Emicida e essa galera toda que tem feito a diferença. Aqui na Baixada tem muita gente boa. Posso citar aí a MC TAYA, o Jamal (Dubeco); posso citar aí o Slow da BF, lá de Caxias; o Marcão Baixada, Tonny (Hyung), que eu me amarro, e mais monte de gente boa que tem por aqui que só me incentiva e me motiva a também contribuir com toda essa cena. Tem o Cinix lá de Belford Roxo, que eu me amarro; tem o Dudu do Morro Agudo, que eu conheço de longa data; tem a galera que era da banda Nocaute de Belford Roxo; tem o Ed da Baixada, tem o Renato Aranha. Tem uma galera muito forte, cara; tem o Macarrão que eu me amarro pra caraca, tem uma galera do rap que eu me amarro muito aqui do Rio, cara, e essas são minhas influências. É rua, é o dia a dia, cotidiano.
Pra fechar aqui, manda um salve pra quem você quiser.
[Chehuan]: Eu gostaria de agradecer a você, Pedro, pela oportunidade, ao Iago também, que toda a galera da Baixada em cena e a Revista Menó, parabenizar vocês por tudo que vocês têm feito. Aqui quem fala é um grande admirador do projeto que vocês têm e pode contar com a minha colaboração. E queria mandar salve pra todo mundo da Baixada, que acompanha os trabalhos do Gato Negro, os meus trabalhos pessoais, as bandas, e pra toda galera em geral. Salve aí e muita luz, muita muito axé e muita paz para todos. Grande abraço e um 2025 cheio de vitórias pra todos nós.








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