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“Conexão”: Kallía e MC Carina transformam repressão policial em manifesto de resistência periférica

  • Foto do escritor: Pivete
    Pivete
  • 5 de mai.
  • 3 min de leitura

Um grito do Parque Juriti para o mundo


No dia 3 de dezembro de 2023, o Parque Juriti, em São João de Meriti, era palco de um evento que celebrava a cultura, a identidade e o protagonismo negro da Baixada Fluminense: o “Quem Sou Eu? BXD”. Voltado para o público infantil, o festival promovia arte, memória e autoestima nas quebradas. Mas o que era para ser uma tarde de celebração foi brutalmente interrompido por uma ação violenta da Polícia Militar do Rio de Janeiro, que invadiu o local com armas apontadas e revólveres disparados em meio a crianças e famílias.


“Indignação, revolta e tristeza. Pois estava um dia lindo e íamos fechar com chave de ouro tendo apresentações de artistas de diversas localidades”, relatam Kallía e MC Carina. “Mas o Estado impediu que levássemos mais cultura pros moradores do bairro.”


Dessa violência brotou arte, dor convertida em ritmo. E assim nasceu “Conexão”, o novo clipe das artistas, um encontro poderoso entre duas vozes da favela que não aceitam calar. Com batidas de Drill produzidas por L4moglioBeatzz, a faixa é uma verdadeira denúncia sonora, marcada por rimas afiadas e um beat agressivo que escancara a exclusão cultural, a repressão e a resistência do povo preto periférico.


@pess_fotografia
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Vozes que resistem



MC Carina e Kallía se conheceram no Festival Terra do Rap, em 2023. Desde então, construíram uma amizade forjada na luta e no compromisso com o fortalecimento da cultura de favela. “Terra do Rap foi o nosso elo. Nos conhecemos em 2023 na imersão do Festival, onde aprendemos muito sobre nossas carreiras e dividimos vivências. Foi ali que começou nossa admiração e conexão”, explicam.


@pess_fotografia
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A ideia de transformar o episódio do Parque Juriti em música partiu de Kallía. “Ela usou sua revolta como combustível pra criatividade e me convidou para darmos início à nossa parceria”, relembra MC Carina.


A música, mais do que tudo, é um manifesto. Carrega nos versos a denúncia das balas perdidas que encontram corpos pretos, a ausência de políticas públicas para cultura nas favelas e a potência de quem resiste fazendo arte. Antes mesmo de seu lançamento oficial, a faixa já reverberava além-mar, recebendo apoio da coletividade angolana Lord’s Realezas e sendo acolhida por artistas da diáspora africana.


@pess_fotografia
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“A recepção foi ótima desde antes do lançamento, e significa muito pra gente. É um público que está sempre abraçando nosso trabalho, nos dando uma força que às vezes não recebemos de quem está no nosso próprio país”, afirmam. “Conseguimos enxergar o real valor do nosso trabalho e o quanto ele é importante pras pessoas que nos acompanham.”

Da música ao cinema: o documentário da Revista Menó


O episódio do Parque Juriti também é tema do documentário “Quem Sou Eu BXD: Quando o Parque Juriti virou palco, o Estado respondeu com fuzis”, lançado pela Revista Menó. A produção retrata com sensibilidade e indignação o momento em que a polícia militarizou a infância e tentou calar os tambores da resistência. O filme é um registro urgente, que eterniza os olhares de quem viveu aquele trauma e decide narrar por si a violência do Estado.



“O documentário nos dá voz quando sentimos que somos diariamente caladas. E, ao mesmo tempo, mostra que não podemos desistir. Aprendemos a tirar coisas boas de situações ruins, fazendo de tudo uma oportunidade de seguir em frente e correr atrás dos sonhos”, dizem as artistas.

O clipe de “Conexão”, portanto, não vem sozinho. Ele é desdobramento direto de uma cena que já está sendo contada em outras linguagens — no audiovisual, na imprensa negra, nas rodas de conversa. É parte de uma mesma conexão: de mulheres pretas, artistas, ativistas e faveladas que não aceitaram o silêncio.


@pess_fotografia
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“Queremos que crianças sintam esperança”


A música, apesar da origem dura, é também afeto e semente. “Queremos que crianças e jovens da favela sintam esperança e vontade de seguir atrás dos seus sonhos ao ouvir ‘Conexão’”, afirmam.


@pess_fotografia
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E essa conexão ainda vai render frutos.


“Esperamos trabalhar juntas por mais vezes. Em breve virão mais colaborações e mais conexões”, anunciam, deixando claro que o grito que ecoou no Parque Juriti não se calou — se espalhou em beat, clipe, verso e voz.

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