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Figura 1- Fotografia de Carlos Douglas Martins Pinheiro Filho do livro Frida Kahlo e as cores da vida, Carline Bernard.


Ficha técnica: Frida Kahlo e as cores da vida é um romance histórico baseado na história de vida da pintora mexicana. Escrito pela escritora alemã Tânia Schlie, que assina sob o pseudônimo de Caroline Bernard, o livro foi lançado no Brasil em dezembro de 2020 pela TAG – Experiências Literárias e Tordesilhas Livros. A tradução do livro é de Claudia Abeling, o prefácio de Katia Canton e o projeto gráfico de Amanda Cestaro.


Uma pequena biografia de Frida

O romance Frida Kahlo e as cores da vida é baseado na vida da personagem real e costura uma percepção cheia admiração pela mulher mexicana, ativista feminista e pintora consagrada, Frida Kahlo. A autora Tânia Schlie, em entrevista para Fernanda Grabauska, quando indagada sobre o porquê escrever um livro sobre Frida, respondeu que “a questão talvez devesse ser: por que não escrever um livro sobre Frida?”. De fato, a pintora tornou-se um ícone popular desde que ressurgiu na década de 1980 e, desde então, a imagem de seu rosto está estampada em camisas, copos, bolsas, mochilas, cartazes e uma sorte diversa de produtos comercializados. Pode ser que você tenha um desses em sua casa! Mas nem todas as pessoas que compram esses objetos conhecem mais profundamente a história de vida da artista.

Nascida em Coyoacán, no México, em 1907, e falecida na mesma casa em que nasceu, a Casa Azul, em 1954. Frida teve uma trajetória intensa, vívida e marcante, apesar de um tempo vida aparentemente curto, ademais foi agraciada com a possibilidade, como argumenta Tânia Schlie, de nascer e morrer na mesma casa, pois no México as pessoas consideram essa circunstância uma bênção. Porém, Frida foi profundamente marcada pela dor e doença: logo aos seis anos Frida foi diagnosticada com poliomielite, o que fez com que sua perna direita fosse menor e mais frágil que a esquerda, acarretando problemas durante toda a sua vida. Começou a pintar após um trágico acidente em que foi gravemente ferida, incentivada por seu pai, o fotógrafo Guilhermo Kahlo, momento da história da personagem real que compõe o início do livro, onde começa a estória da Frida de Caroline Bernard.

Em 1928, ingressou no Partido Comunista Mexicano e conheceu o reconhecido muralista Diego Rivera, quem se apaixonou e se casou no ano seguinte. Rotulada como surrealista pelo pintor francês André Breton, Frida consagrou-se internacionalmente expondo suas obras em Nova York e Paris. Porém, foi na intensidade da luz do México que estavam o coração e as cores da artista, e onde foi a sua primeira grande exposição, em 1953, apenas um ano antes de sua morte. O legado de Frida para a humanidade é imortal, pela sua arte, mas, principalmente, pelo que representava como ser humano, mulher, latino-americana e ativista. Inspirou milhares de pessoas a enfrentarem suas dores, a cultivarem a autoestima e a lutarem pelos seus direitos. Tornou-se ícone da luta feminista e da emancipação dos oprimidos.


As duas Fridas

Segundo relata Tânia Schlie, fazem parte do repertório de experiências que possibilitaram a escrita do romance a leitura da biografia Frida – A Biografia, escrita por Hayden Herrera; o estudo detalhado dos quadros da artista; a visitação a uma exposição dos pertences pessoais dela, em Londres; e a visitação da Casa Azul, no México, onde Tânia Schlie diz ter “tido a tremenda sorte de passar uma hora sozinha por lá”, o que teria permitido ela “imaginar cenas muito íntimas”. Não atoa a importância desse fato, pois é a imaginação sobre o universo íntimo da personagem real o principal objeto da literatura da escritora alemã.

Apesar da manifesta busca pela verossimilhança com a história de vida da personagem real e o perceptível esmero detalhista na descrição da atmosfera que permeavam o seu contexto histórico específico, a escritora não se propõe a uma obra biográfica. Aqui estamos falando de um romance histórico. Quem está buscando uma biografia pode se decepcionar, então, é melhor abrir a sua mente, ou buscar uma biografia sobre Frida Kahlo. No romance, Tânia Schlie privilegia recortes de momentos que considera significativos da vida da artista com o propósito de dar vida a sua personagem, a sua “Frida”, uma mulher mexicana destemida, talentosa, cheia de vida, confiante de si e romântica. Sim, romântica, a Frida de Schlie é profundamente marcada pela emoções, principalmente pelo romantismo, amor e paixão.

Logo no prólogo, a Frida de Schlie se apresenta como uma personagem dividida entre duas facetas, presa nesse dualismo entre a mulher moderna, “que quer viver do jeito que lhe convém”, e a “mulher que carrega a carga da tradição e da história”. Pois aí temos uma das características principais desse romance histórico: a escritora baseia sua imaginação sobre a personagem da vida real a partir de seus quadros, neste caso, sua intuição mais geral sobre o paradigma existencial de Frida Kahlo emerge da pintura “As Duas Fridas”.

Em diversos momentos do livro as pinturas da artista surgem como elementos referenciais da escritora para intuir os sentimentos, pensamentos e interioridade de Frida. Assim, o livro acaba por oferecer ao leitor um rico percurso interpretativo da obra da pintora e as suas histórias, fazendo ressaltar os possíveis elementos do mundo real que lhe renderam a inspiração manifesta para seus quadros. Pois é dessa maneira que brota a mexicanidade da Frida de Schlie, não a partir de uma nacionalidade abstrata, mas pela importância dessa temática em sua realização, assim como a relação direta da experiência nacional com a vivência biografada da Frida real.


Uma crítica possível

A edição gráfica do livro é impecável, apesar da revisão ter deixados passar pequeníssimos erros na redação e algumas incoerências que sugerem problemas na tradução em um ou dois trechos. O romance é muito bem executado tecnicamente e a escritora consegue capturar a atenção do leitor, mantendo a tensão do início ao fim da narrativa. Porém, a Frida de Schlie provavelmente decepcionará alguns leitores, principalmente aqueles conhecedores mais profundos de sua biografia, ou mesmo aqueles mais engajados em lutas sociais.

A questão a ser colocada é que a escritora privilegia quase integralmente em sua narrativa a relação romântica entre Frida Kahlo e Diego Rivera. Aliás, o livro poderia muito bem ter o nome de Diego no título e não seria um exagero, ou algo que expressasse mais claramente a relação romântica entre os dois. As cores da vida da personagem de Schlie têm uma significativa porção de sua paleta em Diego Rivera e os dramas relativos à relação entre os personagens, muitas vezes retratada como conturbada e conflituosa, mas outras como amorosa e harmônica. Uma das sensações que tive, ao término da leitura, é que a relação entre os dois era um “mal necessário” para o bem de uma personagem fragilizada pela doença e solidão. Muitas vezes, o caráter corajoso e talentoso de Frida só aparece de forma mais genuína ao lado de Diego, e, sem ele, a vida aparentemente perde o sentido, perde o brilho.

Outra questão é que as relações homoafetivas de Frida Kahlo, apesar de serem trazidas para o romance, são apresentados como aventuras, experiências de menor importância, secundárias, sem grandes impactos emocionais ou no curso da história. Algumas vezes, esses relacionamentos são apresentados com consequência direta da relação com Diego, seja no intuito de agradá-lo ou despertar-lhe ciúmes. A sororidade entre as mulheres até é tematizada no romance, mas de maneira secundaria, do contrário, a autora privilegia, muitas vezes, uma disputa entre as mulheres do romance pela atenção de Diego Rivera. A realidade é que a Frida de Schlie é uma personagem dependente de Diego para viver, seja em termos físicos, psicológicos e afetivos, e isso fica bastante nítido ao final do romance.

Neste sentido, é interessante notar que a vida política da personagem real é secundarizada em relação a sua vida pessoal e afetiva. Muitas vezes fica a sensação de que seu envolvimento com os movimentos socialistas e populares são uma mera busca por socialização, ou mesmo o produto da influência de Diego e de seu meio social. O envolvimento com os movimentos de esquerda aparece na personagem apenas como flashs, eventos que armam cenário para acontecimentos mais significativos de cunho íntimo e pessoal.

Porém, justiça seja feita, a dimensão política da Frida real é retratada no livro e não é simplesmente castrada da personagem ficcional. Da mesma maneira, apesar de apresentar como um pano de fundo, o livro aborda a relação de amizade entre Frida, Lucianne Bloch, Anita Brenner e Tina Modotti. Obviamente, o romance não poderá agradar a todos e todas, mas, apesar de suas limitações, constitui uma belíssima contribuição para compreensão de uma personagem real tão complexa e multifacetada como Frida Kahlo.


Por Carlos Douglas Martins


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Que rumo tomamos? É esta a pergunta que me faço. Vejo em nosso presente, enquanto escrevo, no final do terceiro mês deste ano de 2021 que pouco sabemos do que será, e para onde nos levará esta terceira década do terceiro milênio. Não há vidência nisso! Ao contrário. Pouco sabemos, pois o próprio desejo e a expectativa de um futuro melhor se apaga. Vemos seu despontar com amargura. Um mal estar generalizado, seguido da sensação de vertigem como se centenas de milhares de corpos pairassem no ar. E parece que a história nos observa. Simplesmente está aí, agora, como tudo que acontece. As pessoas sentem e a história e ela é percebida em um constante estado de tensão e medo distribuído, ansiedades e depressões acumuladas nas gentes. Acúmulos de uma tragédia assistida, que já podem ser vistas em retrospecto. No trágico da transição das décadas, estremecemos em um transe temerário que nos impossibilitou de dar um simples passo à frente sem sentir-se rumo ao vazio. Um rumo “perdido” de quem caminha para frente no escuro sem ver o chão.

“Tem que arrumar uma saída pra esse inferno que a gente vive e ainda tem que sair vivo, esse é o problema. “ – minha mãe

“Isso é um hospício” – o vizinho

Não há uma só solução aparente no futuro por ele mesmo, e a expectativa não deve estar muito presente entre a maioria de nós. Talvez, e esta é a minha esperança, perceberemos a partir de agora o passado com um outro olhar. Regredindo a um momento, em que, lá no passado, o futuro fosse uma coisa totalmente diferente da que vivemos hoje. Mas qual o sentido disso? Onde estávamos há 10 anos atrás? Quais eram nossas alegrias? Falando daqui, na superfície deste país brasileiro, das coisas brasileiras, com gente brasileira, onde estou, sou e me movo, caminho e vejo as coisas acontecendo, me pergunto: em que direção estávamos antes? Quantos caminhos se cruzaram Não sei, parecia bem melhor. Com uns 15 anos bem vividos conseguia imaginar um futuro qualquer animado e esperançoso. Assistia à primeira Copa do Mundo no continente africano como todos. De alguma forma, o que se dava para entender é que as coisas até ali se transformaram com rapidez, e pareciam prosperar. Na política, a governança popular de Lula lhe garantiu ao final do mandato de presidente com 80% de aprovação. A continuidade da bonança era esperada também no mandato de Dilma, que se encerraria em festa, com a chegada da Copa do Mundo ao Brasil em 2014. Mas o que aconteceu foi bem diferente.

Uma imagem manchada foi projetada no cenário público. As ruas, vistas ao avesso, reviram a cena histórica e naquele tempo já se colocava todo o legado do petismo sob júri da opinião popular e da mídia. A má administração econômica não repetiu os feitos de crescimento real dos anos anteriores. E os efeitos da crise de 2008 tornaram-se nítidos. Este foi um fator de incômodo para diferentes setores da sociedade, mas foi principalmente nos setores da classe média emergente que ela se destacaria entre a população e a opinião pública. Parte dessa opinião se mostrou muito preocupada não só em criticar a política econômica mas sobretudo em questionar a legitimidade das pautas sociais do governo. As cotas raciais, as políticas, fortalecimento dos direitos trabalhistas, expansão do bolsa família, as obras do PAC, o ensino de história da África nas escolas. A expansão das vagas nas escolas e universidades públicas. Todos esses projetos de governo eram vistos como práticas de aparelhamento do Estado por valores contrários aos da sociedade brasileira “conservadora-liberal-cristã”.

Daí até a intervenção do conservadorismo em defesa da família tradicional brasileira e dos bons costumes foi um pulo. Este movimento libertou os monstros que a muito tempo se encontravam enterrados. Verde-amarelistas, nacionalistas de última hora, ganharam nova roupagem com velhos jargões e marchas coreografadas da “boa sociedade”, onde estavam robôs, zumbis e homens de bens. Tiozões que já não se envergonhavam de suas ideias, motivados por um sentimento de revolta e justiça social que entupiam os noticiários. O ódio se propagava. De um lado, poucos querendo muito. Do outro, milhares querendo mais ainda. O desejo, moveu os padrões de consumo ao colapso. A moda dos smartphones, dos carros financiados, das viagens de avião, do parcelamento no cartão de crédito foi o acesso a um produto de status para uma boa parcela da população brasileira que começava a se ver como mais distinta. Dignos da prosperidade, a nova classe média cerrava o palco político como um novo ator. Ativo principalmente nas redes sociais e ressoando os discursos do neoliberalismo em defesa do capitalismo e de uma sociedade de livre mercado. Este desejo movimentou a reação violenta de milhares que acostumados aos programas policiais apontaram para as raízes do crime comum, cotidiano, com o olhar punitivista. Eram os que diziam “Direitos humanos para humanos direitos!” e coisas do tipo. “Tropa de Elite” deu um novo sentido à espetacularização das incursões da polícia carioca nas favelas. Crescia a crise e um desejo de expurgo dividiu a sociedade brasileira em duas facções. Uma oposição que até agora se mostrou inconciliável. Entre coxinhas e mortadelas o Brasil foi ficando para trás. Afastados escolheram estar e afastados ficaram.

Nada disso teve origem em grande acordo nacional algum. Mas fez parte. Alimentando o resultado real de um desacordo já generalizado em que acusações de ambos os lados se perdiam na busca inútil de vitória. Para que? A essas tantas com um Impeachment, não sabia mais para onde ir. E a conversa já tinha um tom pesado. Acusações de ambos os lados. Chumbo trocado em diferentes cenários. Nas ruas a mudança dos ventos já se sentia ao arrepio. E ficou escancarado no dia 14 de março de 2018 com o assasinato político da vereadora Marielle Franco. Mulher negra, mãe, lésbica, periférica. Crime que tinha tudo para ser esquecido. Como milhares deste tipo são esquecidos. Seus algozes planejavam o silêncio. Um silêncio que na verdade é vivido cotidianamente num país como o Brasil. O país foi se acostumando a assistir mais e mais mortes como essa, e foi se consumindo no ódio. Um ódio oportuno que surgia num fundo de sala. Um ódio que se justificava absurdos.

Ninguém mais se escutava. E aqueles gritos ficaram mais nítidos. Ressoavam um coro, clamoroso por uma salvação fácil, por um Messias. Escolheram logo quem. Logo aquele que exaltou tantas vezes a tortura. Que mentiu tantas vezes. Que começou pela mentira e seguiu com a violência, desejando o poder. Na origem do seu nome político corria solta a ficha do ganancioso. Aproveitou-se fácil da situação. Com a crise e o ódio, seus absurdos foram propagados como alternativas sãs. Como uma alternativa, “uma escolha difícil” “Contra tudo isso que tá ai! Ta, ok?”. Com a condenação do PT, e o sentenciamento de Lula na operação Lava Jato. O caminho ficou aberto para a sua chegada. Bradavam a ele, agora o incorruptível. O mito das mulas. O absurdo ganhava corpo com a disparada da sua candidatura como presidente. Movida a kit-gay e grupos de whatsapp. Além de uma facada que tomou sem sangrar.

Daí em diante seu discurso era uma ode às memórias do tirano populista. E suas aspirações as mais espúrias. Tomada a posse, logo tratou de fazer seu governo às avessas. Causar intencionalmente atritos entre instituições e interesses. A ameaçar a imprensa. Certamente se sentia no poder. E ao seu redor formava um corpo ministerial herdeiro da mística da “Revolução de 64” conhecida por nós como Ditadura Civil-Militar (1964-1985). Poderia ter sido esse o signo do seu mandato. Um mero regresso conservador que se fundou de um golpe e se inspirou em outro golpe para governar. A fórmula era a mesma. A defesa da liberdade contra o fantasma do socialismo. O crescimento econômico a qualquer custo. Ao custo real de uma sequências de reformas. Ao custo das aposentadorias e das carteiras de trabalho de milhares de brasileiro. Seu projeto? Poder, poder e mais poder. Custe o que custar. Com Deus ou Brasil ou sem eles se precisar.

26 de fevereiro de 2020.

Primeiro caso de Covid-19 registrado no Brasil. A pandemia de Covid-19 atinge o Brasil. O governo, suas medidas, flagrante descaso. E a cada dia o número de novos casos ia aumentando. E os somando ao início tínhamos a esperança de algum controle. E a perder de vista foram se multiplicando cada vez mais. Vossa excelência, o presidente, acostumado com o seu cercadinho no planalto seguia com o menosprezo habitual. Verdadeiramente preocupado apenas em salvar seus filhos envolvidos em esquemas de corrupção das denúncias que já batiam à sua porta com as crises sucessivas que produziu. Esgarçando mais e mais o tecido das instituições para manter a força do seu discurso. Força da agitação política, do ódio, do uns contra os outros.

Rumo de um pesadelo perverso.

Quando paramos de somar os casos diários, passamos então a somar corpos. 100, 200, 300, 400, 800 por dia. Somamos, e seguimos somando. E ele, já podre por dentro, seguia o plano do ódio, da negação. “Idai?” Quantas vezes fosse necessário, ele diria. Sem auxílio estimulou a população a não se proteger do vírus, a não usar máscaras, a usar medicamentos inadequados ao tratamento. Estimulou a volta ao trabalho, a normalidade impossível. Impossível pois os hospitais estavam abarrotados de gente sufocando nas UTIs. E ele, a besta inominável, sequestrava para si o futuro. Querendo conquistá-lo pela força. Aspirante a ditador, amante das frases de Porfírio Diaz, em transe. Seus olhos vidrados sobre o domínio e gritava antes do fim “pela harmonia universal dos infernos, chegaremos a uma civilização!”.

Este transe da terra brasileira se acelera mais e mais. 2020 foi um ano que ficou. Quase que não aconteceu. Foi esquecido ou se entendeu a 2021. Ainda não sabemos. O rumo que tomamos, foi esse. O calendário anda pra frente. Passamos, acreditamos passar por ele. Começou a terceira década do terceiro milênio. Para onde vamos, que rumo tomamos? Esquecemos nossas utopias?

Peabiru 3000 é uma metáfora sobre este não-lugar. Onde a história se passa ao arrepio da nossa sombra e pode custar nossas vidas. Peabiru não é a resposta, mas uma busca por esses caminhos. Trilhas possíveis para longe desses dias em que muitos se vão e ele não.

3.950

3.780

318.000

Nena

Espero que entenda

Minha vocação é o sacerdócio

A lua tem o meu juízo

Acrescente

Sou 3

O que foi

&

O que espera

Entre eles

Não sou nada

A não ser

O mistério do corpo e do tempo

Por Ademas Pereira @guaiamonk

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Ser ou não ser empreendedor. Todo mundo que trabalha por conta própria é empreendedor? Todos podem ser empreendedores? Empreendedorismo é causa ou solução da desigualdade? Respostas que precisamos ter para enfrentar novos problemas contemporâneos.

Uma das palavras mais faladas nos últimos cinco anos é em-pre-en-de-do-ris-mo. Palavrão que às vezes até enrola na hora de falar.

Se falar a palavra já é complicado, imagina explicar seus significados.

Alguns acham que pode ser a capacidade de ter ideias inovadoras ou arriscadas, outros pensam que pode ser um jeito de ser ousado e visionário. Na verdade, pode ser tanta coisa…inclusive nada!

Se fala tanto nisso que somos levados a achar que todo mundo que se vira por conta própria é empreendedor, quando na prática às vezes é mais uma necessidade daqueles que não conseguem encontrar emprego, do que uma escolha. 

Pensando no público que eu tenho contato, comerciantes e prestadores de serviços em favelas cariocas. Há muito tempo eles são obrigados a trabalhar por conta própria, fazer seus “corres”, “seus bicos”, porque precisam gerar renda e não conseguem acessar o mercado de trabalho formal com facilidade. Por ter baixa escolaridade, pouca qualificação profissional comprovada, e em alguns casos pelo preconceito de morar em favelas.

Fui assistente na pesquisa da Dra. Anna Katharina Lenz (FGV), feita no Conjunto de Favelas da Maré, em 2016. Onde entrevistamos 1400 empreendedores e um dos principais motivos para abrir um negócio foi ter uma fonte de renda, depois buscar independência.

Poucos sabem, mas o Brasil aparece em terceiro lugar, depois da Tailândia e Uganda, como um dos mais empreendedores. Vale destacar que o empreendedorismo varia de país para país, nesse caso estamos olhando para os países subdesenvolvidos, a partir de uma ótica do empreendedorismo popular, que tem como ordem a necessidade. Inclusive é um dos caminhos de soluções para gerar renda, emprego e movimentar a economia local. 

Vale lembrar que 2020 foi a grande faísca para acelerar algumas mudanças e trazer de vez a cultura digital para todos. E com isso intensificou mais ainda essa cultura de “ser empreendedor”. 

Sei que só de pensar em 2020 já gera alguma sensação, boa ou ruim. Foi um ano que exigiu demais da gente. Um ano inesperado e um marco para uma nova fase humana. Querendo ou não já não somos mais os mesmos. Foi um ano que entendemos que as séries de ficção da Netflix podem sair diretamente da tela e virar realidade, e que esse negócio de apocalipse, inteligência artificial não está num futuro tão distante. Tivemos e estamos tendo muitas lições. A natureza agradeceu a diminuição de impactos. O brasileiro até mais, o carioca teve que ficar mais frio e parar com esse negócio de dar dois beijinhos. E agora é menos toque mais touch, máscara na cara e álcool no bolso. Não tem pra onde fugir e essa era pós-pandemia e mais digital veio pra ficar e alterar nossas interações.

Pena que não é assim para todos, em pesquisa sobre novos hábitos culturais na Pandemia feita pelo Itaú Cultural, 57% dos brasileiros passaram a usar mais internet, e 7% não tem acesso a internet, principalmente na região Norte do país.

Esse levantamento mostrou também que as pessoas passaram a ver shows, peças de teatro, visitas a museus no ambiente virtual, além de acessar mais cursos livres, jogos eletrônicos e ouvir podcasts. É tanta oferta de conteúdo que a gente volta na outra vida com vídeos pendentes para assistir. 

É interessante ver o poder digital, inclusive na maneira como o consumo de cultura foi afetado para manter o isolamento social. Mas vamos combinar que nada substitui a experiência presencial. Ao vivo e a cores. Inclusive dizem que só sobrevivemos como espécie porque vivemos em grupo, somos hiper-sociáveis e cooperativos. Então não podemos perder isso porque se não estamos ameaçados. 

Ah! mas algo de positivo temos que admitir que foi parar o piloto automático. Parar aquela rotina frenética de cidade grande, trânsito, comer rápido, dormir mal, ficar estressado, acordar no dia seguinte e fazer a mesma coisa. Eu confesso que não acho mais normal ficar uma hora e meia dentro de um ônibus para chegar no local de trabalho estressada e não ter tempo para o meu bem estar.

Imagino e respeito que cada um tem uma realidade e trajetória nessa Pandemia, mas seja qual for a sua, provavelmente alguma coisa mudou. Espero e torço muito que tenha sido para melhor. Sei que foi e está sendo um  C-A-O-S! Como diz aquela sábia figurinha do WhatsApp: “Loucura misturada com Doidera”. Mas temos que admitir que agora já falamos de vacina, antes não sabíamos nem qual nome dar ao vírus. Então agora podemos seguir um 1% otimistas com esse avanço. 

Nesse novo momento com novos hábitos e costumes, algo que sempre tá junto são as formas de gerar renda. Há mais de sete anos pesquiso a área de empreendedorismo e trabalhadores autônomos. Estou muito interessada em entender os novos jogos nesse campo de trabalhos modernos. Por isso estou aqui e dei esse pontapé inicial sobre o tópico. 

Quero lembrar que antes da Pandemia já estávamos com um pandemônio liderando novas políticas no país. Da noite para o dia aprovando a reforma trabalhista com o fim do Ministério do Trabalho, jornada de trabalho podendo ser negociada até 12 horas, férias fracionadas em três partes, extinção do contrato de trabalho que impede receber seguro-desemprego, entre outras perdas para o trabalhador.

Até suspeito que nós, aqui no Brasil, desde 2016 já estávamos nos preparando para o C-A-O-S. Nessa atualização da lei trabalhista um dos argumentos principais era gerar mais empregos. O prometido não se cumpriu, teve mais desemprego e ainda empurrou mais ainda as pessoas para a informalidade ou para a abertura desenfreada de CNPJs (identidade de empresa), via o Programa MicroEmpreendedor Individual (MEI). Para se ter uma ideia, hoje temos 14 milhões de desempregados, que independente da pandemia já estavam desocupados porque o país estava e está passando por uma recessão econômica. 

Somado a isso com o mundo digital novas profissões surgiram. Gerando um processo de substituição brutal para aqueles que não conseguirem acompanhar esse movimento. Um estudo que projeta o ano de 2030, feito com mais de 3.000 líderes de negócios, sobre os impactos dessa era, estimou que 85% dos trabalhos que existirão daqui a 8 anos serão novos. Isto quer dizer que terão novas profissões e poucos profissionais para os futuros empregos. 

Sim! Parece desesperador quando olhamos para um país que investe mal em ensino e educação digital. Já sabemos que o Brasil não é para qualquer um, então precisamos ficar mais atentos para dar os nossos “nós em pingo d’água”, se não a gente fica pra trás.

De fato, quem não quer independência? Ter tempo para aproveitar o lado bom da vida? Por isso essa cultura empreendedora tem um lado atraente. As pessoas se empolgam e isso é saudável porque assim estimula a criatividade, inovação, e a busca de soluções para velhos problemas. Sem contar que dá a chance para cada um escolher aquilo que gosta e acredita. Porém, como tudo na vida tem seu preço, ou você paga com dinheiro ou tempo. No caso do empreendedorismo não vai ser diferente. Por isso, todo cuidado é pouco para não entrar na lógica de ser escravo de si mesmo. Assunto para as próximas edições para falar do efeito uberização, que tem a ver com essa onda de trabalhadores de aplicativos e a sociedade MEI que está se formando.

Então te vejo na próxima edição, obrigada pelo seu tempo e mande algum sinal sobre o que achou dessa leitura. Um abraço virtual e tamo juntos!

Por Vivi Linares @vivilinaress

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