O preço
- Marina Teixeira
- 29 de dez. de 2021
- 1 min de leitura
Atualizado: 7 de jan. de 2022
Nos cobram que sejamos lindas
Nos cobram que sejamos mães
Nos cobram que sejamos doces
Que cozinhemos bem
Que não nos queixemos
Que mantenhamos a calma
Que não alteremos a voz
Taxam o nosso sexo
E as nossas vontades
Com mil tabus odientos
Precificam nossos corpos
Comprazendo-se das nossas inseguranças
Mas, ao final, quem paga por tudo isso?
Senão nossas dores e angústias?
Quanto custa ser mulher?
Qual é o valor de nossa existência
A verdade é que
Não devemos nada a eles
Não devemos nada à sociedade
Não devemos nada ao Estado
Nada à religião
Tampouco aos filhos, pais ou avôs
Já pagamos com o sangue daquelas que vieram antes de nós
Essa dívida que não nos pertence
Mas que assumimos quando nos quisemos livres
Não nos pesam mais vis encargos obtusos
De absurdas imposições
Assim como nossa natureza, nossa alma está liberta
O único compromisso que ainda nos resta
É de sermos plenas,
Humanas,
Reais,
Falíveis,
Imperfeitas,
O que quisermos e o que não quisermos
Porque, a despeito dos hipócritas, retrógrados e misóginos de toda a sorte
Quem e o que somos é só da nossa conta
Marina Teixeira
Revista Menó, nº. 3/2021 (out/nov/dez).
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