top of page
  • Foto do escritorF. Moura

Resenha: Pô-ética!

Por Felipe Moura Alguns livros fazem a nossa cabeça!

Fonte: Marques (2022)

Livro: euteamo e outros alguns.

Autor: Tico Oliveira.

Editora: Autografia (2021).

Contato: ticooliveirasoueu (instagran-inbox), ticooliveira@gmail.com, 21 9555-4541 (zap).

Li o livro “Euteamo e outros alguns”, de Tico Oliveira, e, após a leitura, coisas iniciam, outras precipitam e muitas outras entram em suspensão. Não há como passar pelo livro sem perceber que o autor sobe nos ombros de gigantes para alcançar a estatura de sua poesia. Não sei se é verdade, mas isso é o que menos importa: em sua escrita encontrei Ferreira Gullar, João Cabral de Melo Neto e, sem dúvida de errar, Chico Buarque de Holanda e Arnaldo Antunes.

O livro é uma homenagem à vida e a poesia é uma festa, onde bebemos, dançamos, cantamos, doemos e, no final, rimos – nem que seja de escárnio ou de deboche. Mais do que necessário para aliviar a “barra pesada” que vivemos: para quem tem amigos, o livro é uma homenagem; para quem tem ou teve amores, o livro oferece “outros alguns”; para quem valoriza o gozo, prazer!

Reclamo a escrita e a publicação deste livro desde que li as primeiras poesias de Tico, há mais ou menos 20 anos, num tabloide feito pelos alunos de Letras da UERJ-FFP. Achei que ele nunca o faria, mas o tempo passou e a hora chegou, essa hora é sempre a-certa. O autor e sua poesia nos lembram da importância de saber jogar com o tempo a nosso favor. Em um mundo acelerado e cansado, a palavra e a preguiça são revolucionárias!

Um pouco do livro (Un peu du livre): Euteamo Não digo euteamo porque não te amo. Euteamo é sagrado. Não parece, mas, para mim, euteamo é uma prece. Dessas que ficam por aí guardadas dentro de cada um, esperando o momento certo de acontecer – e nunca acontecem. Meu euteamo está guardado dentro de mim, bem fundo e manso como o São Francisco, sem risco de secar. O rio é muito grande e, repara, também sabe calar. Meu euteamo fala o tempo todo mais alto quanto mais eu te vejo em silêncio me exigindo palavras. E eu não digo nada. Ou digo euteamo. Numa longa e eterna pausa. Porque euteamo, para mim, já está dito quando acordo, quando me visto, quando saio para o trabalho e encaro a rotina de não dizer euteamo para mais ninguém, só para você. Esse euteamo gasto que vivem por aí a dizer eu não digo. E digo mais: repudio. O que entrego diariamente a você é mais sincero, mais honesto e amigo, está a salvo da moda, do medo e do fastio, está aqui, calado aos ouvidos: Euteamo, euteamo, euteamo. Assim, repetido, mas dentro de mim, sem que você ouça, preservado do mundo. Euteamo calado. Para ouvi-lo, olha para dentro de mim. Meu euteamo não entra pelo ouvido, mas pelos olhos, pelos poros, pela pele. Não é claro, é implícito. Sinta meu euteamo no toque, no arrepio, no cheiro, no som, no seu íntimo. Meu euteamo é calado. Do contrário, pareceria falso. Como se, fingindo, fosse necessário. Ele não é. E por ser muito e intenso, é raro. Meu euteamo é e deve ser assim, impalpável, inaudível. Quando muito, sussurrado. Eu te amo e não digo a você. E por não o dizer, está compreendido. Está falado.


Tico Oliveira Um texto inédito (un texte inédit: "A galinha ama o ovo. Ela não sabe que existe o ovo. Se soubesse que tem em si mesma o ovo, perderia o estado de galinha. Ser galinha é a sobrevivência da galinha. Sobreviver é a salvação." (C.L.) outro ovo de novo como o mundo o ovo é óbvio, ela disse e ali abriu-se o novo pelo ovo de Clarice de repente ("não mais que de repente") óbvio e novo lá estava o ovo chocando a serpente contrito e confuso poucos segundos me foram o suficiente: havia um ovo, um novo alvoroço ali na minha frente tudo o que era passado (antes ausente) fez morada por dentro daquela casca (a casa surpreendente): e eu, na clausura em que me resguardara choquei perguntas várias àquela altura pertinentes: seria a literatura espécie rara do (n)ovo presente? seria eu, com essa pele parca do novo seu oponente? que arquitetura simples (dir-se-ia avara) molda o ovo e o novo dentro da gente? há, fora da casca de noz (e além de bilhões de galáxias e sóis) outra coisa que não nos deixa ir além de nós limitando-nos para sempre? seríamos, portanto o centro de algo pré e pós receptáculo de algo silente?

voo da mente pausa pousa o olho no então surpreendente o ovo o ovo sobre a mesa não traz nenhuma certeza choca um dilema que é mero pastiche o ovo resposta ou problema atravessa meu limite sou poeta escrevo apenas (de novo) entre a clara e a gema das palavras de Clarice Tico Oliveira


30 visualizações

Posts Relacionados

Ver tudo

embriaguez

Pivete

Mesmo com meus quase dois metros Mesmo com minhas vestimentas mais tradicionais As senhoras brancas de Niterói Me tratam como se eu fosse um Pivete Decidi assumir a “Pivetagem” como personalidade Não

Muitos outros alguns / Beaucoup d'autres certains

Ouvir é dar um abraço... É dar lugar ao afago, que, Embora imaterial, é terno. O tempo não existe: a matéria é que escorre contra as fendas apertadas do limite... E se transforma em outra coisa, em ou

bottom of page