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Neblina: Novo Álbum de Grone Explora Amor e Conflito em Meio à Realidade do Crime


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A fumaça que sai do baseado e do cano das armas envolve toda uma história de sofrimento dentro do morro, e Grone nos mostra esse contraste dividindo em dois discos. O primeiro é composto por faixas românticas, mas no estilo gângster com uma pegada bem no pique de vagabundo, se posso dizer assim. E no segundo, o dever chama na porta de casa, fazendo com que seja cumprida sua missão de defender o território.


O integrante da Matilha — selo da Mainstreet Records — lançou no dia 15 de abril seu segundo álbum na pista, se propondo a arriscar mais nas músicas com mais melodias na voz ao mesmo tempo que lança punchlines sobre “aquela vida” na segunda metade.


Fotos por _b0lin
Fotos por _b0lin

Na “INTRO”, ele avisa ao bonde que vai precisar sair do plantão para ver sua mina enquanto rola um pedacinho da “Preta”, o que nos dá o tom de como vai ser o Neblina. Confesso que uma das faixas que mais curto da discografia dele é essa, mesmo que seja do seu trampo anterior — Maior Que O Amor Só O Ódio — só que fez todo o sentido a introdução ser puxada dessa forma. Doidão Beats acertou não só nessa faixa, como nas outras faixas que fez parte.





Em “TEMPESTADE” já manda a real para ela, dizendo que as brigas que arranja com ele não levam a nada. Aqui vemos um Grone apaixonado e mantendo a postura, dizendo sobre como são as amigas que ficam falando dele para que no final pudessem ficar com o rapper. É um cenário comum nas músicas sobre discussão de casal, porém o drill deixou a coisa mais interessante, e o flow do artista em questão é uma marca registrada.


Fotos por _b0lin
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Quando hora vem a terceira track, vejo que aqui ele foi abusado, e demais. 

Essa mina dançando | É gostosa sem fazer esforço Sexy | Quando tiro a sua roupa Rebola a bunda | Para tudo nesse quarto de hotel…

PARA TUDO” é como ele diz: um amor criminoso, divertido e perigoso. Nem preciso dizer que é trilha sonora para aquelas horas que, você sabe, né? Assim como na anterior, LV e Glock Beatz foram os responsáveis pela vibe dessa música, e afirmo que eles tiraram onda. Deixo aqui um salve para os dois.



No entanto, me surpreendi no momento que toca “MOTEL”, que possui feat de Isis Orbelli, com uma batida gostosa e sensual, daquelas que você gasta a onda. A autora de “Nosso Futuro” abrilhantou essa canção, fazendo com que eu ligasse pro primeiro contatinho e convidasse para ficar numa suíte por horas.


Fotos por _b0lin
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Grone também ficou grande nessa faixa tanto pelo verso quanto pelo refrão, é uma parada que não tem como ignorar. Só que estamos no começo ainda.

Gostei do título dessa faixa que veio logo após, “TESÃO DA MANHÔ. Primeiro que combina com a de antes, ficando redondinho no contexto. Se bem que nessa parte do álbum tudo se encaixa por se tratar de romance. Segundo que é uma faixa empolgante, perfeita pra dançar colado e se envolver, o que faz a escuta dela ser melhor ainda. Em tese, Grone prova que sempre dá pra falar disso, sem falar que o beat te instiga a manter o ritmo o tempo todo.





Em seguida, temos “NOVELA DAS 9”. Por que mais que seja curta, ela não deixa de reforçar esse lado melódico do artista, já nos preparando para o final do primeiro disco, até porque quando logo acaba, chega a “NÃO TEM FIM”, e ela é uma declaração pra sua mina não ir embora quando tá bom, com produção de VT no Beat. Aqui nós temos uma representação de que sempre dá pra ficar mais um pouco, o sentimento é real, como se o casal fosse um só. Mesmo sendo a última faixa desse lado, não quis parar de ouvir, foi papo de ouvir umas dez vezes antes de prosseguir com o álbum, e não digo por conveniência, realmente foi uma vontade de ficar preso nesse clima. E fiquei me preparando pro segundo disco, pois eu sabia que viria porrada.


Fotos por _b0lin
Fotos por _b0lin

O interlúdio homônimo do trabalho já é uma conversa entre os amigos que estavam no plantão descrevendo a situação do frente da boca entretado com a patroa. Todo mundo querendo sair dali depois de fazer as vendas porque era domingo, porém o pior acontece. Eles receberam um aviso de que uma operação policial iria acontecer dentro de meia hora, e eles foram avisar ao Grone sobre a situação.


Aqui reparo um fato interessante: dois desses atores que aparecem no visualizer são o fotógrafo do álbum, André Bolin, e o rapper Big Bllakk, que é um dos feats dessa segunda parte que virá a seguir.

De primeira, vem a “PASSA A VISÃO”, música que conta com um dos integrantes do selo, Dege. Não importa a hora, o tempo de guerrear é inevitável. Em meio aos graves do instrumental, versos sobre o quão desgastante é viver dentro crime são cantados, com uma pitada de revolta acompanhada nesse berimbolo que vai ser o enredo do segundo disco. A luta segue e o clima fica cada vez mais pesado.


Fotos por _b0lin
Fotos por _b0lin

Com o Pior Versão de Mim, Grone solta um trapzão em “RUAS VAZIAS”, sem papas na língua. Esse som é mais dos casos que eu pus no repeat. Nas ruas do RJ, o ódio puro sustenta o conflito entre o tráfico e o Estado, tendo direito a descrição do momento: 


Ruas vazias, ratos no fio | Onde tudo começou | Encurralado no beco | Fuga pela casa do morador | A p0rr@ do meiota deles | Quase me alcançou | Foi pinote de cria segura a marimba | Que agora vou tacar o terror



Tá ligado na “BOTA A CARA NO BECO”, um dos hinos do drill no RJ? Pois é, a continuação dela está presente nesse álbum, e minha opinião é a de que ele acertou em cheio em trazer neste trampo que ficou coisa fina. Ambos (Grone e Big Bllakk) entregaram tudo nessa música, o que deixou tudo melhor ao longo da segunda parte, fazendo sentido no enredo que o artista da Zona Norte se propôs a fazer.


Fotos por _b0lin
Fotos por _b0lin

CLIMA HOSTIL”, com produção de Duace, e feat de Destravalt e Filhão (também do selo), é um show de flow e de letra. Nessa aqui, vejo que eles demonstram domínio em todos os aspectos da track, sendo mais um ponto ganho dentro de Neblina. “Se a bala canta, vai ganhar um Grammy” no melhor estilo criminal, como o som tinha que ser.


Aqui precisei lembrar de uma coisa. Há muito tempo, eu o entrevistei para um quadro que fiz em outra produtora, e uma das paradas que ficou na minha cabeça é a clara inspiração que ele tem no MV Bill. A referência é tão presente nos seus sons que em “BALAS E VERDADES”, Grone faz questão de me remeter a essa época.


A capacidade de contar histórias com certeza é uma dessas heranças que ele adquiriu das influências e ele as transpôs na sua musicalidade, fazendo com que a gente se insira na pele do narrador.

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A caneta mais violenta do RJ chama Nochica pra fazer “DA ZONA NORTE À ZONA SUL”. Complementando o comentário que fiz na canção anterior, os dois deram uma aula de storytelling, e nada melhor do que um boombap pra fazer isso. O clipe dirigido por Eduardo Santana e Thales Casfer, focando nos dois, executa o seu trabalho de exteriorizar os dilemas da vida bandida por meio das vozes presentes. De fato, é uma música que me pegou, não tem jeito. Quando se trata de vivências, posso contar com Grone pra colocar no meu acervo musical, e não vou ficar decepcionado de maneira nenhuma porque eu sei que ele se entrega de corpo e alma nas suas composições.





Finalizando o disco, a “HISTÓRIA PRA CONTAR” poderia ser a sua ou a minha se passássemos os mesmos perrengues do personagem em questão. Uma vida cheia de estresse e adrenalina enquanto apertava pra cima do caveirão. Só que no crime, não se pode dar mole, e qualquer brecha é a ruína pra quem tá na atividade. E essa história fecha a fumaça que mencionei no início do texto, deixando pra você uma reflexão sobre os perigos que essa vida traz pra quem vive isso 24 horas por dia.



Tenho orgulho em apresentar esse álbum pra você que tem interesse em viajar nessas temáticas em forma de música, pois Neblina é um desses exemplos de álbum conceitual pra colocar junto a outros clássicos. Ele é atemporal por justamente transmitir esse peso da realidade nas favelas do Rio, com detalhes os quais Grone conhece muito bem. O álbum se encontra nas plataformas digitais e gostaria que vocês prestassem atenção na obra que ele vem desenvolvendo.


O legado que ele vai deixar será imenso, e isso é só um pedaço dele.    


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