Escrevendo de barriga vazia.
- Pivete
- 9 de mar.
- 2 min de leitura

Você já tentou resgatar memórias antigas de pessoas com quem você já se relacionou?
Sei lá: fazer uma retrospectiva mental, buscar aquelas memórias que a rotina deixou de lado, que você nem mais pesca nesse mar de coisas, na infinitude do horizonte.
Caminhamos rumo a uma vida em que tudo o que propomos é vivido de forma experiencial e empírica; afinal, a máxima de viver é estar vivo, é o movimento.
Alguns anos atrás, os movimentos eram outros; não era tão simples assim.

Pode-se dizer que eu estava meio perdido, mas não acredito nisso, pois sempre segui a lógica de que estava me encontrando.
Fiz um curso de roteiro; na época, estava entre Catete, Belford Roxo e Niterói, na ONG de Betinho.
Eu me coloquei à disposição de aprender, de ter novas experiências que me auxiliassem a me localizar.
Não terminei, mas aprendi que não existe roteiro para um personagem totalmente passivo ao mundo.
Ele tem que agir, se mover, se frustrar, se alegrar, amar – ele tem que viver, mesmo que esteja morto.

Quando resgato memórias antigas de amores do passado, percebo que, muitas vezes, o que vivi não foi necessariamente por mim – sou fruto do meio – e também me vejo, naquele momento, dependente do outro, tentando achar sentido naquilo, esquecendo que o sentido da vida é viver.
Simples e direto, como deve ser.
Já vi tanta gente perder nesse jogo; meus sentimentos aos amigos que não tiveram o privilégio de enfrentar, ao menos, uma dificuldade média.
Tudo é difícil – não há macete, pelo menos para nós – não há escapatória; as opções são simples de mencionar, mas é difícil compreender a dificuldade que é ter tão pouco.
Amor, olha ao redor: será que esse relacionamento é sobre você ou você está apenas vivendo uma idealização?
Sinta o material, o concreto; preste atenção nos detalhes que permeiam essa trama.

Não necessariamente se conduza até o fim, mas questione-se, ao menos. Amor é tudo menos isso.
Volto ao passado e fico pensando: é domingo também, tudo facilita.
Amanhã vou dar uma aula linda sobre tudo isso; olhe pela janela e veja toda aquela teoria em ação.
Recentemente, perdi um pouco o ritual de escrita que, acho, me limitava – aquela coisa bem prosaica de ligar o computador, abrir o Word e escrever.
Simplifiquei.

Agora, uso o bloco de notas do celular, onde as ideias fluem.
Virei um exímio digitador de textos no iPhone; me sinto moderno, tudo fica mais rápido, faço as artes no Canvas e sigo com fé.
Mas, voltando ao assunto, qual é a profundidade que conseguimos alcançar quando estamos sozinhos?

Você consegue refletir sobre a vida que viveu até aqui sem se sentir mal ou frustrado, como se o passado fosse algo a ser constantemente apagado e negado?
Muitos de nós não conseguimos olhar de maneira tão romântica para um passado que, muitas vezes, foi marcado pela violência.
Mas, um dia, espero que consigam ver que somos o tempo – em sua primazia, veracidade e materialidade.
São quatorze horas da tarde e eu ainda nem almocei.
Escrevendo de barriga vazia.

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